Digite #hangxiety (termo em inglês que pode ser traduzido mais ou menos como ansiedade de ressaca) no TikTok e você vai ver uma porção de vídeos sobre o assunto, alguns deles com mais de 200 mil views; vários deles dizendo que isso é real.
Beber além da conta cobra um preço do corpo: a ressaca. O álcool é um grande estressor fisiológico, quer dizer, ele causa grande estresse ao organismo. A maioria das pessoas experimenta dor de cabeça, sede e náusea, devido, em grande parte, à forte desidratação causada pela bebida alcoólica. Parece suficiente, não? Entretanto, estimativas dão conta de que 12% das pessoas vão ter, também, uma crise de ansiedade durante a ressaca.
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Por quê? O álcool mexe especialmente com duas substâncias responsáveis por transportar sinais entre os neurônios, fazendo com que o cérebro funcione bem. Uma delas é chamada gaba. É essa substância que inibe a atividade das células nervosas. É por isso que, ao beber, ficamos relaxados. Como ela reduz a excitação dessas células, o cérebro “acalma” e você também.
Esse efeito calmante também é dado porque outra substância, o glutamato, responsável pela excitação das células nervosas, tem sua ação bloqueada.
Acontece que, por efeito da bebida, chega um momento em que essas duas importantes substâncias cerebrais estarão totalmente desequilibradas. A primeira, porque teve a sua atividade estimulada com o álcool. A segunda, que deveria causar “excitação”, porque foi bloqueada. A missão do corpo é fazer com que tudo volte ao normal, tentando reduzir o gGaba e aumentar o glutamato.
Resultado: no dia seguinte, o famoso dia da ressaca, você se vê com níveis de gaba muito baixos e de glutamato bem altos. Como o contrário de relaxamento é excitação, a consequência disso é que você se sentirá ansioso.
Outra causa importante da ansiedade é você se sentir incapaz de lembrar de coisas que possa ter feito ou falado quando estava embriagado. Já atendi muitas pessoas que chegavam ao meu consultório mortificadas e extremamente ansiosas, vivendo uma crise de ansiedade, porque ficaram sabendo que elas ultrapassaram limites de convívio social.
Se você faz parte desse grupo de ansiosos pós-bebida, procure moderar o quanto bebe. Eu sempre reforço a importância da moderação, porque ocorre que muita gente apela novamente ao álcool para superar essas crises e acaba se vendo presa a um ciclo perigoso, que pode gerar dependência.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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