Os brasileiros não dormem bem. Prova disso é uma pesquisa bem recente realizada pela Sanofi, que mostrou que 8 em cada 10 pessoas que foram entrevistadas pela empresa classificaram seu sono de mediano a ruim. Pior: mais de 44% dessas pessoas admitiram ter problemas com o sono há mais de 2 anos, e 60% disseram ter começado a sentir dificuldade para dormir com a pandemia.
Para mim, o dado mais interessante dessa pesquisa é que a maioria dos entrevistados não procurou ajuda de um profissional de saúde. Ao contrário: foi à internet ou conversou com amigos e conhecidos para tentar solucionar a adversidade.
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É aí que mora o problema. Primeiro, porque a insônia não é uma doença como a definimos na Medicina. Ou seja, automedicação, além de extremamente perigosa, dificilmente dá conta desse enrosco. Insônia é um quadro clínico que geralmente decorre de alguma outra condição que aquela pessoa sofre. Ela é muito comum em pessoas que convivem com algum quadro de saúde mental. Por exemplo, depressão, ansiedade, angústia, burnout. Mas também é muito frequente em quem apresenta dor crônica, como é o caso da fibromialgia, ou questões hormonais, algo que afeta principalmente mulheres na menopausa.
Esses são alguns poucos exemplos entre outros tantos que podem afetar a qualidade e a quantidade de sono. Até o uso de determinados medicamentos pode comprometer o sono.
Uma ou duas noites mal dormidas não caracteriza insônia. É preciso que o déficit de sono seja recorrente e se estenda por um período considerável de tempo. Acontece que muitas pessoas, muitas pessoas mesmo, querem resolver o problema como um passe de mágica. Dormiram mal, já querem buscar algo que as “derrube”.
O álcool é uma dessas soluções paliativas que muita gente faz uso. Os remédios para dormir são outra. Acontece que, com eles, você pode até achar que resolverá o seu problema, ainda que momentaneamente. Mas comprará outro bem maior: a dependência.
Tenho testemunhado um número impressionante de pessoas que chegam ao meu consultório com a queixa de que começaram a tomar indutores do sono e agora estão desesperadas porque não conseguem viver mais sem eles.
O vício nesses medicamentos pode ser tanto físico, quer dizer, a pessoa, sem eles, simplesmente “frita” na cama ou fica com o sono todo entrecortado, ou psicológico. Essas pessoas ficam, digamos assim, morrendo de medo de não dormirem e voltam a apelar para as pílulas preventivamente. Não se dão nem a chance de se testar sem o remédio.
Se você luta para dormir há muito tempo, busque um profissional de saúde mental. Ele poderá ajudá-lo a identificar qual é o problema que está na base da sua dificuldade e, aí sim, tratá-lo. Geralmente, a qualidade do sono melhora muitíssimo com isso.
O ideal é que você também procure aliar a isso boas práticas do sono, o que chamamos de higiene do sono. Muitos casos de insônia são decorrentes de péssimos hábitos, como ter horários irregulares para dormir e usar aparelhos eletrônicos antes de dormir. Um simples ajuste do seu comportamento é suficiente para melhorar a sua noite.
Praticar atividade física (mas não perto da hora de ir para a cama) também auxilia enormemente. Além de aliviar sintomas de ansiedade e depressão – dois conhecidos perturbadores do sono -, o exercício físico libera serotonina, um hormônio que, entre outras coisas, também ajuda na regulação do sono.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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