Ele chegou sorrateiro, disfarçado pelo design moderno, por uma infinidade de aromas e sabores, pela ausência de fumaça fedida ou bitucas espalhadas. Com o discurso de ser inofensivo, caiu nas graças dos jovens e se tornou socialmente aceito. Estou falando do cigarro eletrônico ou vaporizador, dispositivo usado por um em cada cinco jovens brasileiros, ou seja, 20% deles, de acordo com o relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado em abril deste ano.
O cigarro eletrônico funciona por meio de uma bateria que esquenta um líquido interno, uma mistura de água, aromatizante alimentar, nicotina, propilenoglicol e glicerina vegetal. Ele é tragado pela boca e cria uma fumaça branca e sem cheiro, ou com um cheiro que se dissipa rapidamente no ar. Por não provocar combustão, o vapor não produz monóxido de carbono nem alcatrão, substâncias tóxicas liberadas na queima do tabaco. Exatamente por esse motivo, criou-se a ideia de que ele não faz mal à saúde, tido, por muitos, como uma boa alternativa ao cigarro tradicional ou para quem está tentando parar de fumar.
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Estudos do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no entanto, revelam exatamente o contrário: além de não ser seguro, o cigarro eletrônico possui substâncias tóxicas, podendo causar doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar e a bronquite crônica, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer.
Umas das toxinas em questão é a nicotina líquida, droga de alto poder viciante.
Além de aumentar em três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional entre pessoas que nunca fumaram, ela é uma enorme vilã do sistema cardiovascular, o que explica o número elevado de mortes por doenças
cardiovasculares no público jovem depois que esse mau hábito virou moda.
Em relação à saúde da pele, as notícias também não são nada boas. Um estudo recente publicado no Jornal da Academia Americana de Dermatologia concluiu que o cigarro eletrônico pode causar manifestações dermatológicas prejudiciais, incluindo estomatite, queimaduras, coceira e vermelhidão nos lábios e mãos.
E a coisa fica ainda pior: dados obtidos pela National Health Interview Survey (NHIS) revelam que o dispositivo aumenta os riscos de câncer de pele não melanoma. Ah! É importante deixar claro que, assim como o cigarro tradicional, o eletrônico também contribuiu para o envelhecimento precoce, já que contém substâncias, como a nicotina, que aumentam a produção de radicais livres e atrapalham o funcionamento natural da pele, deixando rugas, manchas e flacidez visíveis rapidamente.
Dra. Letícia Nanci é médica do Hospital Sírio-Libanês, médica responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
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Artigo publicado na edição 97 da revista Forbes, de maio de 2022.