Se você está lendo esta coluna quando deveria estar fazendo algo cujo prazo de entrega é amanhã, provavelmente você está procrastinando. Procrastinação é o contrário daquele ditado famoso “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”. Quem procrastina via de regra deixa tudo para amanhã, adia a conclusão de demandas ou tarefas até o último segundo, chegando, por vezes, a perder prazos, com grande prejuízo para si mesmo.
A verdade é que, em algum momento da vida, principalmente quando se tem de dar conta de algo que é desinteressante ou desestimulante, procrastinamos. Quando isso vira um problema de saúde mental?
Justamente quando essa pessoa tem um grande prejuízo por conta desse adiamento, quando ela ou as pessoas com quem ela convive (chefe, parceiro ou parceira, colegas de trabalho ou de estudos) sofrem ou também são prejudicadas devido a esse comportamento.
É bom prestar muita atenção quando a procrastinação vem acompanhada de culpa e do sentimento de desânimo, da sensação que você não consegue dar conta daquilo que está adiando, de remorso. Pode ser o primeiro sinal de um quadro depressivo.
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Neste caso, é bem importante a avaliação de um médico, até para checar se de fato há uma depressão se instalando e imediatamente tomar as providências para que ela não se agrave (uma terapia, por exemplo) ou se isso está relacionado a outras áreas da vida que não vão bem.
Dois exemplos dos mais comuns são postergar com frequência coisas do trabalho e adiar “aquela” conversa com a companheira (o). A procrastinação, nesse caso, é um sintoma de que ali algo está doente e que é preciso algum tipo de intervenção. De fato, é preciso de uma boa dose de coragem e de ousadia para colocar o dedo na ferida e refletir o que fazer.
Talvez você não se sinta, por exemplo, equipado para fazer seu trabalho e não só precise admitir isso, mas precise pedir ao seu chefe mais treinamento em uma determinada área para aumentar as suas competências. Talvez falte escuta no seu relacionamento, daí você escolha, propositadamente, postergar a tal conversa.
Ansiedade – quando grave, quando paralisa e tira completamente o foco – e o TDAH – o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – também podem ser razões pelas quais o hábito de adiar tarefas se instala. Esses são outros bons motivos para procurar um profissional da saúde para que ele possa prescrever uma boa estratégia para aliviar esses problemas e, como consequência, afastar a procrastinação.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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