Em 2022, eu perdi um de meus melhores amigos, uma mulher que esteve presente na minha vida ao longo dos últimos 40 anos. Daquelas pessoas que telefonavam para você para fazer confidências, que ouvia atentamente os seus segredos, que criticava amorosamente, que apoiava, que compartilhava bons e maus momentos. Creio que todos temos alguém assim em nossas vidas.
A sua perda, por uma doença que foi tirando dela a sua energia, sempre imensa, foi um baque tremendo para mim e me fez pensar por que, na ordem “natural” das coisas, a morte de um amigo querido não ganha a mesma importância do que, por exemplo, a de um parente e ou a do parceiro. É como se existisse uma hierarquia do luto. O luto por um amigo costuma vir abaixo nesse “ranking”, como se as amizades fossem um recurso subestimado.
Costuma-se dizer que os amigos são a família que a gente escolhe. É verdade. Além da família, eles são as pessoas com quem vamos estabelecer os vínculos mais significativos. Provavelmente, é por isso que eles têm um impacto tão profundo em nossas vidas, para o bem e para o mal. Ter um amigo tóxico pode nos deixar ansiosos e até contribuir para que se deflagre uma depressão.
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Ao contrário, ter um amigo parceiro pode impactar positivamente na nossa saúde, bem-estar e felicidade geral (coisas que são essenciais quando se fala em saúde mental). Vários estudos já mostraram, por exemplo, que pessoas doentes sem rede de amigos têm um risco maior de morte do que aquelas que têm um suporte de seus queridos. Quem tem redes de amizade mais fortes sente que há alguém a quem podem recorrer. E isso faz toda a diferença.
Há quem diga que, quando perdemos um amigo, perdemos um pouco de nós mesmos. De fato, talvez eles sejam as maiores testemunhas do que vivemos. Quando eles morrem, vão com eles memórias de nossas vidas. Não que elas não permaneçam – claro que sim -, mas o amigo é como uma biografia, uma prova viva de momentos pelos quais passamos.
É por isso – e por muito mais – que é importante que prestemos atenção às amizades e que as cultivemos com carinho.
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Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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