Segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), cerca de 42 milhões de brasileiros têm calvície, sendo que 25% dos homens já apresentam os primeiros sinais da queda de cabelo entre 20 e 25 anos. É importante lembrar que a calvície, na verdade, é o nome popular dado à alopecia androgenética, doença crônica caracterizada pela alteração hormonal nos receptores celulares localizados no couro cabeludo de homens ou mulheres geneticamente predispostos, que provocam a atrofia dos folículos pilosos. Como resultado, os fios vão afinando e deixam de crescer. Não existem riscos para a saúde, é verdade, porém, os impactos negativos da queda de cabelo para a autoestima levam muitos homens e mulheres ao meu consultório.
A boa nova é que temos, agora, disponível no Brasil, um novo aliado contra a calvície: o tratamento de microenxertos ou terapia celular regenerativa, que tem mostrado resultados pela sua capacidade de melhorar e estabilizar a progressão da doença. Uma recente pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que cerca de 50% dos homens e 30% das mulheres serão vítimas da calvície até os 50 anos. A principal inovação da terapia celular regenerativa é proporcionar uma fonte muito elevada das células chamadas progenitoras, que, infiltradas no couro cabeludo, podem induzir a sua conversão em células da papila dérmica, fazendo com que o cabelo perdido volte a crescer. Através de uma tecnologia própria de microenxertos autólogos, o procedimento é capaz de regenerar o tecido do couro cabeludo, utilizando as próprias células da pessoa.
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Na prática, o procedimento funciona da seguinte maneira: com o paciente anestesiado, extraímos pequenos fragmentos saudáveis do couro cabeludo, especialmente nas zonas com cabelo atrás da orelha, rica tanto em tecidos vascularizados como adiposos. A amostra recolhida vai para uma máquina, onde se inicia um processo mecânico, que através de rotações consegue desagregar, isolar e filtrar esse tecido. O material que resulta desse processo é, então, injetado de volta no paciente. Em média, todo esse processo dura cerca de 30 minutos, uma sessão anual ou a cada seis meses, quase não causa desconforto, e deve ser realizado por um médico dermatologista especialista. Os resultados parecem promissores e os estudos científicos continuam sendo feitos para maior aprimoramento da técnica.
Sempre gosto de reforçar que o principal desafio em relação à alopecia androgenética é a compreensão de que, assim como as outras doenças crônicas, a exemplo da diabetes e hipertensão, seu tratamento deverá ser contínuo, e para sempre. Uma vez diagnosticada, por meio da clínica e dermatoscopia do couro cabeludo, exame minucioso e preciso, iniciamos o plano de tratamento da doença, levando em conta as medicações orais, tópicas e os tratamentos feitos na clínica, como laser, microagulhamento, mesoterapia e, agora, essa nova técnica de microenxertos autólogos, resultado de muita pesquisa, reforçando a necessidade de confiarmos na ciência e acreditarmos nos avanços dessa área tão inovadora.
Dra. Letícia Nanci é médica do Hospital Sírio-Libanês, médica responsável pela Clínica Dermatológica Letícia Nanci; membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); da American Academy of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
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Coluna publicada na edição 102 da revista Forbes, em outubro de 2022.