Há alguns meses, algumas notícias sobre transplante fecal para o tratamento contra infecção intestinal grave chamaram muita atenção aqui no país. O procedimento pode até causar estranhamento, mas diversas pesquisas atestam que bactérias benéficas para o nosso organismo são potencialmente protetoras e podem auxiliar no combate a doenças.
Um estudo apresentado no Congresso Americano de Oncologia, realizado no início deste mês em Chicago, utilizou princípio semelhante para avaliar 13 pacientes oncológicos graves, com tumores de intestino, esôfago e fígado, que haviam falhado em diversos tratamentos, incluindo imunoterapia.
Leia também:
- “Nenhuma mulher fica para trás”: o alerta sobre o câncer de ovário
- Campanha vai alertar sobre os perigos da exposição exagerada ao sol
- Câncer de endométrio: fatores de risco, sinais e novos tratamentos
Os pesquisadores realizaram o transplante fecal nestes pacientes, associado à manutenção da terapia. Eles já sabiam que a microbiota intestinal se comportava “como um regulador chave do sistema imunológico durante a imunoterapia”. No entanto, o efeito da modulação da microbiota em pacientes que não respondiam ao tratamento imunoterápico não era conhecido.
A microbiota engloba diversos micro-organismos que existem no intestino e contribuem para a produção, por exemplo, de substâncias anti-inflamatórias, potencializando, também, a absorção de nutrientes como vitaminas, minerais e proteínas.
Dos 13 pacientes acompanhados, seis tiveram estabilidade da doença. A mudança da microbiota intestinal melhorou a atuação das bactérias que facilitam a resposta do sistema imune, revertendo a resistência do paciente que já não reagiam ao tratamento.
A pesquisa, que ainda vai seguir para a análise de novos resultados, reforça a importância dos cuidados com a dieta para a prevenção do câncer e para o tratamento dos pacientes oncológicos.
Vale lembrar que um estudo recente do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP) mostrou que o consumo de ultraprocessados é responsável por cerca de 57 mil mortes por ano no Brasil.
Além de sua alta densidade energética, esses alimentos têm o potencial de modificar a absorção de nutrientes e causar processos inflamatórios no organismo, alterando a microbiota intestinal.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.