Vivemos em um mundo em que ficou mais difícil dizer não. São tantas coisas bacanas pululando ao nosso redor, são tantas as demandas na vida e no trabalho que o “sim” acaba se impondo. É como se o que está fora – as redes sociais, os amigos, os colegas de trabalho, o parceiro ou parceira, a família – importasse mais. E se aquela pessoa ficar com raiva? E se nossa relação ficar abalada? E se eu ficar desatualizado, ficar de fora, perder o emprego, ficar marcado no trabalho? Dirigimos o olhar primeiro para o outro, esquecendo de olhar para nós mesmos.
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Não por acaso, muita gente acaba dizendo sim quando queria mesmo era dizer não. Não por acaso, muita gente anda se sentindo sobrecarregada, ansiosa, esgotada ou, no caso do ambiente de trabalho, sofrendo com burnout. Responder apenas com o sim nos custa mental, física e emocionalmente. É cansativo.
Aprender a dizer não é um exercício diário e que começa conosco. Se uma pessoa não consegue falar não a si mesma, não conseguirá dizer não aos outros. É como aprender uma nova competência. Eventualmente, erraremos. Mas, com uma certa insistência, aprenderemos.
O segredo está em colocar na balança os nossos valores e prioridades na vida. Também está em estabelecer o que é mais importante, essencial no dia a dia. Isso vai permitir que você se mantenha mais focado, em vez de querer responder a tudo e a todos. Cada escolha implica em uma renúncia. Não se pode ter tudo.
Estamos mal acostumados a usar a palavra “egoísta”. Colocar as nossas necessidades no topo da lista não tem nada de egoísmo. Ao contrário: é determinar que dá para fazer algo apenas quando se pode. Aprender a fazer escolhas, afinal, não só nos define como também define a vida que levamos. É preciso respeitar os nossos limites. Acrescentar essa palavra tão pequena ao nosso vocabulário diário é uma das grandes formas de autocuidado.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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