A banana é uma fruta rica em minerais (potássio, zinco, cálcio, fósforo), fibras e vitaminas (C e B6). A sua casca é também repleta de fibras e pode ser aproveitada em preparos de pães, bolos e até mesmo pratos salgados. Recentemente, no entanto, a fruta viralizou em uma nova receita: o chá de casca de banana.
No TikTok, a hashtag do chá de casca de banana já tem mais de 20 milhões de visualizações. No Google Trends, a plataforma que mostra tendências de busca, também vemos uma grande ascensão de pesquisas sobre o tal chá relacionadas à perda de peso.
Segundo “a internet”, esse preparo caseiro é um verdadeiro elixir: promete, além de perda de peso, a redução de medidas, o controle da ansiedade e o combate ao envelhecimento precoce. Uau!
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De forma similar, vemos o crescimento de conteúdos sobre “laranja moro” associados aos temas dieta e perda de peso. Também conhecida como laranja vermelha ou grapefruit, essa fruta vem ganhando fama como “poderosa aliada” na “queima de gordura”, pois teria capacidade de “acelerar o metabolismo” e ajudar o corpo a “queimar gordura com mais eficiência”.
Tais afirmações são feitas sem nenhum embasamento científico – e o pior é que nós já vimos este filme antes.
A eterna promessa de um milagre na perda de peso
A goji berry, o abacate (avocado), o hibisco, a quinoa, o óleo de coco, a pasta de amendoim, a chia e tantos outros alimentos são ou já foram alardeados como solução milagrosa para pessoas que querem perder peso. Mas… Por que isso acontece?
Geralmente, o ciclo de promessas começa embasado em uma verdade – propriedades conhecidas de determinado alimento. Por exemplo, ser rico em Vitamina C. Em pouco tempo, seja por marketing ou falta de conhecimento, inicia-se um ciclo de associação dessa propriedade a supostos benefícios que ela traz.
A vitamina C é importante em várias reações metabólicas do nosso organismo (fato), logo uma fruta rica em Vitamina C (como a laranja moro ou a goji berry) seria capaz de melhorar essas reações e até mesmo acelerar o metabolismo (especulação).
Esse tipo de afirmação não possui nenhuma evidência científica, e por muitas vezes são informações falsas. Afinal, são necessários longos estudos clínicos para entender se o consumo de algum alimento específico tem consequência direta em alguma função corporal.
Além disso, consumir qualquer fruta, verdura ou legume in natura em geral é benéfico. Estes alimentos são riquíssimos em elementos importantes para todas as funções e processos corporais – incluindo digestão, ganho de massa muscular, manutenção de um peso saudável, etc.
Ou seja: a boa e velha salada de frutas da padaria já está recheada de nutrientes e pode ser mais do que suficiente, especialmente quando levamos em conta o contexto alimentar das pessoas, que inclui preço dos alimentos e sazonalidade da oferta.
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Em resumo, é preciso ter cuidado ao acreditar em promessas de “super alimentos”. E o mesmo vale para suplementos alimentares e “dietas milagrosas”.
Não existe pó mágico ou fórmula secreta
Nenhuma cápsula de vitaminas, enzimas ou probióticos pode, sozinha, ser responsável por perda de peso ou ganho de massa muscular. Assim como nenhuma “dieta” restritiva e genérica pode ser sustentada no longo prazo.
No Google, na mesma linha de buscas ligadas à perda de peso e chá de casca de banana, nota-se também o crescimento do interesse pela Dieta da Lua, que consiste em ingerir apenas líquidos durante um dia por semana, na mudança de fase lunar.
Só de bater o olho, a gente vê que essa é uma receita para frustrações, pois vai na contramão de tudo o que a ciência SABE que funciona.
O que dá certo são estratégias que promovam uma mudança sustentável de estilo de vida no longo prazo; que incluam novos hábitos de alimentação e atividades físicas; e que levem em conta as individualidades de cada um (altura, composição corporal, momento de vida…).
Se você gosta de chá de banana, de chupar laranja ou de tomar sopa, que bom! Tudo isso pode fazer parte do seu plano alimentar. Se você não gosta, está tudo certo também: não consumir algum desses alimentos não vai afetar em nada os seus resultados.
*Eduardo Rauen é cofundador da healthtech Liti Saúde, que trabalha para resolver a dor do sobrepeso e da obesidade no Brasil. É médico formado pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein. É médico nutrólogo (com título de especialista pela ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia) e do Exercício e do Esporte (com título de especialista pela SBMEE – Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte). Também atua como diretor técnico do Instituto Rauen – Medicina, Saúde e Bem-Estar.
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