Final do ano e começo de um novo é o momento das reflexões, em que colocamos como metas alcançar progresso na vida, incluindo na área emocional. Por isso, o conceito criado pelos pesquisadores Heidi Wayment e Jack Bauer, das Universidades de North Arizona e Dayton, respectivamente, chamado de “quiet ego” (ou um ego silencioso, tranquilo) pode servir de guia nos próximos 12 meses.
Os estudiosos descrevem esse conceito como uma auto identidade compassiva e que se opõe a um “ego barulhento”, o que seria um aspecto mais egocêntrico e potencialmente perturbador do eu, movido pela necessidade de validação, domínio e atenção constante.
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Segundo esse conceito, um ego barulhento está menos sintonizado com o bem-estar próprio e dos outros e pode abafar a empatia, dificultar o desenvolvimento pessoal e criar discórdia nas relações interpessoais. Em contraste, o ego mais quieto representa uma visão de mundo interconectada, caracterizada por valores que promovem crescimento e equilíbrio entre autocompaixão, arbítrio pessoal e preocupação com o bem-estar dos outros.
“O ego tranquilo constrói uma identidade própria que não é excessivamente focada em si mesmo nem excessivamente focada no outro – uma identidade que incorpora outros sem perder o Eu”, escrevem os autores, em seu relatório.
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Os dois sugerem que o ego quieto não busca domínio ou auto-engrandecimento e transcende o egoísmo, afastando-se do egocentrismo competitivo. Vai em direção a conexões significativas e ao desenvolvimento pessoal. Ele capacita os indivíduos a navegar pela vida com maior inteligência emocional, empatia e resiliência, ao mesmo tempo em que se concentra no crescimento sustentado e no bem-estar, tanto pessoal quanto coletivo.
Aqui estão os quatro valores definidores de um ego quieto, segundo os dois autores.
- Consciência desapegada. A primeira marca registrada de um ego quieto é a consciência desapegada, semelhante à prática da atenção plena. Envolve observar a si mesmo, aos outros e ao ambiente sem julgamento ou atitude defensiva. A observação compassiva e não-reativa das experiências permite que os indivíduos renunciem ao controle do resultado de uma situação e cultivem uma compreensão mais profunda de suas emoções, pensamentos e comportamentos. Em vez de serem oprimidos ou controlados por eles.
- Identificação inclusiva. Acontece à medida em que um indivíduo se alinha com os outros, percebendo semelhanças nas qualidades pessoais. Incorpora um sentimento de conexão e unidade, promovendo uma mentalidade onde o Eu é percebido como interligado com o coletivo. Um ego mais quieto exibe tendências cooperativas e diminui a defensiva ao interagir com outras pessoas, mesmo aquelas com quem não compartilhamos semelhanças.
- Perspectiva tomada. Outra característica essencial do ego quieto é a capacidade de simpatizar com as experiências dos outros e compreender diferentes pontos de vista sem perder a própria identidade. Esta característica promove um sentimento de interconexão e compaixão, promovendo relacionamentos significativos e reduzindo conflitos ao aceitar diversas perspectivas. O ego quieto é flexível, aberto a novas ideias e disposto a revisar as próprias crenças ou opiniões quando apresentadas evidências convincentes ou pontos de vista divergentes.
- Mentalidade de crescimento. A mentalidade de crescimento significa uma mudança transformadora do foco na necessidade de ganho pessoal e gratificação imediata para uma perspectiva mais ampla de desenvolvimento pessoal a longo prazo e experiências mais intrinsecamente gratificantes. Crucialmente, a mentalidade de crescimento dentro do ego quieto vai além do progresso individual e valoriza o crescimento dos outros. Isto inclui atos de cuidado e preocupação com as gerações vindouras.
Quais são os benefícios de um ego quieto?
Viver de acordo com os valores do ego quieto pode trazer benefícios profundos em diversas áreas da vida
- Bem-estar psicológico. Um estudo de 2022 descobriu que atuações baseadas no ego tranquilo podem melhorar um estado de bem-estar ideal e a prosperidade geral na vida, aumentando a inteligência emocional. Pesquisas mostram que as características do ego quieto estão associadas a maior resiliência, melhores habilidades de enfrentamento, autenticidade e melhor regulação emocional, que estão ligadas a um maior bem-estar psicológico.
- Relações sociais melhoradas. O ego quieto está associado a características que melhoram a qualidade dos relacionamentos. Por exemplo, incentiva a colaboração e a comunicação eficaz em configurações do local de trabalho e promove conexões pessoais mais profundas por meio da empatia e da tomada de perspectiva. O ego quieto também melhora o comportamento social, destacando os benefícios de dar e compartilhar com os outros e reduzindo o foco excessivo em si mesmo, o que leva a uma experiência de maior bem-estar. Pesquisas mostram que acalmar o ego em ambientes de grupo levam a sentimentos de alívio do estresse, proximidade e maior autodesenvolvimento.
- Crescimento pessoal. Pesquisadores do estudo original destacam que o ego quieto está associado a qualidades como perdão, gratidão, humildade, altruísmo e materialismo reduzido. Um estudo de 2022 também descobriu que um ego quieto está associado a uma maior clareza em relação ao sentido de si mesmo, o que aumenta a auto-estima, resultando em crescimento pessoal.
Conclusão
Nutrir o ego quieto amplifica o senso de compaixão por si mesmo e pelos outros. Para começar, é vital discernir as fontes do “ruído” interno, questionar as narrativas internas dominantes, identificar áreas onde o egocentrismo ofusca a empatia ou a gratificação imediata impede o bem-estar a longo prazo. Abraçar o silêncio é uma jornada de autorreflexão, um compromisso com o crescimento pessoal, abertura e empatia, bem como um caminho para um mundo mais gentil.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.