O câncer de ovário é uma das doenças mais desafiadoras na oncologia ginecológica, especialmente porque é frequentemente diagnosticado em estágios avançados, quando as opções terapêuticas são limitadas e as chances de cura são menores. No Brasil, essa realidade é ainda mais dura para as pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde o acesso a tratamentos de última geração pode ser escasso.
Nos últimos anos, a pesquisa em câncer de ovário tem se beneficiado enormemente dos avanços na biotecnologia e na medicina personalizada. Terapias dirigidas, como os inibidores de PARP (Poly ADP-ribose polymerase), têm se mostrado eficazes, retardando significativamente a progressão da doença particularmente em pacientes com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 ou naqueles que apresentam características que são mais sensíveis a estas medicações, que são frequentemente associadas a este tipo de câncer. Esses medicamentos ajudam a impedir que as células cancerígenas reparem seu DNA danificado, levando-as à morte celular.
Além de inovações terapêuticas, a detecção precoce do câncer de ovário é uma área de intensa pesquisa. Novos exames de sangue e técnicas de imagem estão sendo desenvolvidos para identificar o câncer em estágios iniciais, quando é mais tratável. Biomarcadores específicos podem fornecer pistas valiosas que auxiliam na descoberta antecipada e no acompanhamento do tratamento.
No entanto, os avanços científicos e as novas terapias só terão um impacto real se forem acessíveis a todas as pacientes que delas necessitam. A desigualdade no acesso a tratamentos de saúde é um problema global que se agrava em países de baixa e média renda. Mesmo em nações desenvolvidas, disparidades socioeconômicas podem afetar significativamente o acesso a cuidados de saúde de qualidade.
A colaboração entre governos, indústria farmacêutica e organizações não-governamentais é crucial para garantir que os avanços no tratamento do câncer de ovário cheguem a todas as mulheres, independentemente de sua localização geográfica ou condição financeira. Políticas públicas que promovam o acesso universal aos medicamentos, programas de subsídios e parcerias público-privadas são estratégias essenciais para alcançar esse objetivo.
Atualmente, consultas públicas para avaliar a incorporação dos inibidores da PARP no SUS incluindo um dos principais agentes, o niraparibe, são de extrema importância até porque desde 2022, já vem sendo utilizado para o tratamento de manutenção do câncer de ovário nos pacientes privados.
Como disse anteriormente, benefício é substancial, podendo reduzir o risco de progressão da doença ou morte em até aproximadamente 60% no tumor feminino mais letal.
Essa é uma etapa importante para ampliar o acesso ao tratamento e potencialmente melhorar a qualidade de vida das pacientes atendidas pelo sistema público. A decisão de incorporá-lo deve ser baseada em uma análise rigorosa dos dados disponíveis, considerando tanto os resultados clínicos quanto os aspectos econômicos e logísticos.
Como membro da comunidade médica, continuo comprometido com a pesquisa e a advocacia para melhorar a vida das pacientes com câncer de ovário. A luta contra o câncer de ovário é uma maratona, não uma corrida de velocidade. É imperativo que continuemos a apoiar a inovação científica enquanto trabalhamos incansavelmente para garantir que todas as mulheres tenham acesso aos tratamentos que podem salvar suas vidas dentro do contexto de custo-efetividade.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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