
Durante o período mais difícil da pandemia, eu tive a sorte de poder me mudar para a minha casa da praia e, de lá, continuar a prestar atendimento a quem precisava e aos pacientes mais suscetíveis a possíveis recaídas. Só que desta vez, de forma remota.
Eu vivi meses cercado de árvores que atraíam aves e até serviam de refúgio a macacos. O meu trabalho com dependentes químicos não é fácil. Na pandemia, com o aumento do sofrimento de todos, tornou-se mais desafiador ainda. Mas entre um paciente e outro, eu contemplava o verde, tentava identificar o som dos passarinhos, me deixava mergulhar no som das folhas balançando com o vento, no “cri cri cri” dos insetos.
Surpreendentemente, eu terminava o dia desestressado. Descobri que isso se devia ao fato de eu, todos os dias, poder tomar um “banho de floresta”. Esse é um termo japonês (shinrin-yoku) para permitir-se mergulhar na atmosfera da floresta por meio dos nossos sentidos. Se “abrimos” a nossa visão, olfato e audição, a natureza é capaz de nos invadir.
Os efeitos do banho de floresta para a nossa saúde já foram bem estudados. A prática é capaz de reduzir os níveis do hormônio do estresse (chamado de cortisol), a pressão arterial e até de melhorar o humor. Um outro estudo revelou que pode aumentar a atividade das células de defesa do organismo, melhorando a nossa imunidade.
Como tomar um banho de floresta?
1. O shinrin-yoku não significa praticar um esporte em meio ao verde, mas envolve respirar fundo e vivenciar a mata com total presença. Ou seja, é praticar a atenção plena, trazendo os nossos pensamentos para o momento presente e deixar-se invadir pelo verde por meio dos nossos sentidos.
2. Não é preciso viajar para uma floresta propriamente dita. Assim como aconteceu comigo no jardim de mata fechada que cerca a minha casa, você pode encontrar um local na sua cidade. Pode ser um parque (na cidade de São Paulo, o Alfredo Volpi ou o Jardim Botânico são ótimas pedidas e, no Rio, também o Jardim Botânico, o Parque Lage ou a Floresta da Tijuca). O importante é você se desvencilhar de toda tecnologia. Desligue o celular e deixe seu corpo ser seu guia.
3. Deixe-se entrar em contato com o verde. Deite-se na grama. Feche os olhos e oriente-se pelos sons. Toque as folhas e os troncos de árvore com as mãos para sentir todas as texturas que o mundo natural esconde.
Quem passa a semana correndo de um lado para o outro pode ter mais dificuldade para desacelerar e permitir-se passar um tempinho em contato com a natureza. Mas eu garanto. Se você fizer disso uma rotina, aos poucos vai sentir o quanto ela é capaz de reenergizá-lo e deixá-lo mais contente.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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