
Apelidos carinhosos, que vão de “amor” a “querida” ou “minha rainha”, podem transmitir calor, segurança e afeto. Muitas vezes funcionam como uma linguagem privada entre os parceiros, simbolizando ternura e familiaridade. Em relacionamentos emocionalmente saudáveis, eles adicionam leveza, regulam emoções e reforçam a conexão em um mundo caótico.
No entanto, nem toda linguagem afetuosa é sincera. Às vezes, os apelidos funcionam como papel de parede emocional, escondendo problemas em vez de enfrentá-los. Um apelido pode evocar intimidade mesmo quando a base emocional é fraca, e pode soar afetuoso apesar de comportamentos distantes ou negligentes. Enquanto as palavras sugerem proximidade, a experiência pode ainda assim ser solitária.
É assim que os apelidos carinhosos viram uma armadilha, quando passam de demonstrações genuínas de afeto para ferramentas estratégicas. Quando usados inconscientemente, podem acelerar o apego. Quando usados de forma deliberada, podem desviar desconforto, encerrar conflitos ou até reforçar controle, tudo sob o disfarce do carinho.
A seguir, três dinâmicas psicológicas que podem se esconder por trás de palavras como “meu bem” ou “amor”, e como reconhecer quando o afeto é apenas uma cortina de fumaça:
1. Quando Apelidos Criam a Ilusão de Proximidade
Ser chamado de “amor” ou “bebê” logo no início de um relacionamento pode parecer reconfortante, mas essa sensação de calor pode ser enganosa. Em situações emocionalmente ambíguas — como rolos ou casos que avançam rápido demais — os apelidos podem simular intimidade antes que ela seja realmente conquistada.
A linguagem afetuosa ativa a ocitocina, o hormônio do vínculo no cérebro, fazendo-nos sentir emocionalmente próximos mesmo sem haver confiança ou consistência. Você pode acabar se sentindo apegado a alguém que nunca mostrou seu mundo emocional de verdade.
Além disso, um estudo recente sobre breadcrumbing — um comportamento em que alguém envia sinais de flerte sem compromisso real — encontrou fortes ligações com apego inseguro. Os resultados mostraram que pessoas com apego ansioso usavam linguagem emocional para buscar proximidade, enquanto pessoas com apego evitativo usavam essas pistas para simular conexão enquanto evitavam vulnerabilidade real.
Os apelidos podem funcionar da mesma forma. Para os ansiosos, são um atalho para acalmar o medo. Para os retraídos, são um escudo contra profundidade emocional.
Embora as palavras soem amorosas, a intenção por trás delas pode variar bastante. Para quebrar essa ilusão, pergunte a si mesmo:
Eu me sinto emocionalmente visto por trás dos apelidos? Ou esses apelidos parecem ser a cola que mantém algo unido, mesmo sem base sólida?
2. Quando o Afeto Vira Infantilização
Apelidos carinhosos às vezes são usados para minimizar em vez de criar conexão profunda. Em vez de engajar com suas preocupações, um parceiro pode responder com frases como:
- “Ahh, alguém tá meio chatinha hoje.”
- “Você só está cansada, amor. Não vamos exagerar.”
- “Você pensa demais, minha linda. Não se preocupe com isso.”
Essas respostas podem parecer afetuosas, mas fazem você se sentir como se estivesse exagerando só por expressar algo. Essencialmente, elas minimizam suas emoções e desviam o foco do problema. Isso é uma forma de infantilização emocional — tratá-lo como alguém irracional ou frágil demais para ser levado a sério.
Um grande estudo de 2022 publicado na revista Motivation and Emotion mostrou que esse tipo de infantilização, especialmente quando camuflado por linguagem carinhosa, foi o maior preditor de impactos negativos na saúde mental, incluindo depressão, raiva e perda de controle.
Quando os apelidos são usados para evitar responsabilidade emocional, eles não confortam — silenciam. Então, antes de se deixar levar por um momento aparentemente carinhoso, pergunte a si mesmo:
- Os apelidos aparecem mais quando expresso desconforto ou minhas necessidades?
- O afeto está sendo usado para evitar trabalho emocional real?
A verdadeira intimidade dá espaço para a verdade, mesmo quando desconfortável. Ela não a apaga com delicadeza.
3. Quando o Afeto Vira Distração Emocional ou Manipulação
Às vezes, os apelidos carinhosos são usados para desviar do verdadeiro problema em vez de resolvê-lo. Após um conflito, em vez de abordar o que aconteceu, pode haver uma enxurrada de palavras doces:
- “Anjo, não fica brava.”
- “Você sabe que eu te adoro, amor.”
- “Você é tudo pra mim, querida.”
Essas palavras podem soar doces, mas muitas vezes agem como distrações emocionais, acalmando o desconforto do parceiro sem encarar o problema de fato. Isso é conhecido como apaziguamento emocional — usar afeto para evitar responsabilidade emocional.
Um estudo de 2024 publicado na Affective Science sobre regulação emocional mostra que, quando as pessoas sentem desconforto, muitas vezes usam estratégias linguísticas para se distanciar psicologicamente do problema — como evitar o uso de “eu” e de verbos no tempo presente, ou usar linguagem mais abstrata. Isso ajuda a regular emoções, mas também impede o engajamento mais profundo com o problema.
De modo semelhante, recorrer a apelidos após conflitos pode mascarar o desconforto sem resolvê-lo, mantendo os desafios do relacionamento sem solução. Embora os apelidos tragam alívio emocional temporário, podem evitar o trabalho profundo necessário para construir verdadeira intimidade.
Confira com você mesmo nessas situações:
- Os apelidos aparecem mais após tensões ou discussões?
- O afeto está sendo usado para evitar conflitos ou trabalho emocional mais profundo?
A verdadeira intimidade não é usar afeto para “comprar paz”, mas fazer o trabalho necessário para compreender e resolver os problemas em parceria.
Como Soam os Apelidos Saudáveis
Nem todo apelido é manipulador. Em relacionamentos emocionalmente saudáveis, eles muitas vezes refletem afeto genuíno e ternura, e podem até ajudar a reduzir tensões. A diferença está na intenção e no momento em que são usados.
Em parcerias seguras:
- Os apelidos são apreciados por ambos e soam naturais, não teatrais.
- São usados junto com comunicação real, não no lugar dela.
- Aparecem durante momentos de conexão, não só após conflitos.
- Refletem segurança emocional, não evitação emocional.
Lembre-se: apelidos saudáveis amplificam a intimidade. Os não saudáveis apenas simulam.
Se você se sente constantemente confortado, mas raramente compreendido — pare e reflita. Da próxima vez que ouvir “amor” ou “meu bem”, pergunte-se: Esse apelido está sendo usado para me aproximar ou para me afastar de algo desconfortável?
Apelidos podem ser amor, mas amor sem honestidade é só açúcar sem sustância.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.