
A vida pode ser repleta de incertezas, mas algumas pessoas enfrentam desafios com leveza, como se tudo fosse fácil. Essa habilidade não é apenas sobre manter o pensamento positivo — trata-se de aplicar a brincadeira como uma competência.
Ao contrário do que muitos pensam, ser brincalhão vai além da diversão. É uma forma de pensar que aumenta o engajamento com a vida de diversas maneiras.
Um estudo publicado em fevereiro de 2025 na revista Frontiers in Psychology analisou a brincadeira em adultos, comparando aqueles com níveis altos e baixos dessa característica. Os pesquisadores descobriram que pessoas mais brincalhonas lidam melhor com o estresse e vivenciam a vida com mais profundidade e prazer. Elas também se adaptam com mais facilidade em situações difíceis.
Os cientistas chamam esse processo de “fazer limonada” — a capacidade de imaginar e buscar possibilidades positivas de forma criativa, ao mesmo tempo em que se mantém realista diante dos desafios.
Adotar a brincadeira permite mudar de perspectiva e transformar obstáculos em degraus para o crescimento. Isso ajuda a encontrar satisfação mesmo em tempos incertos.
A seguir, razões pelas quais você deveria adotar o “fazer limonada” como estilo de vida:
A Brincadeira Pode Ser Seu Superpoder Cognitivo
Ser brincalhão é mais do que se divertir — essa atitude fortalece a flexibilidade cognitiva, permitindo mudar de perspectiva e se adaptar sem perder o senso de realidade. No estudo de 2025, os pesquisadores observaram que pessoas brincalhonas mantinham uma visão otimista enquanto avaliavam os riscos de forma precisa, como os relacionados à pandemia de COVID-19.
Ao contrário das pessoas menos brincalhonas, elas conseguiam equilibrar o realismo com a esperança, demonstrando a habilidade de permanecerem positivas sem negar a realidade.
O estudo também revelou que a brincadeira fortalece a capacidade de resolver problemas. Participantes com altos níveis de brincadeira tinham mais chances de reformular desafios, buscar soluções alternativas e usar estratégias de enfrentamento mais eficazes. Isso mostrou agilidade mental — essencial para lidar com a incerteza com curiosidade, e não com medo.
Outro estudo, de 2022, publicado na revista Educational Sciences, mostrou que crianças com maior imaginação (medida pela originalidade e flexibilidade das ideias) também apresentavam melhor memória de trabalho visual-espacial e maior flexibilidade cognitiva.
Ou seja: desenvolver a imaginação permite pensar de forma mais criativa e realizar tarefas mais complexas, exigindo habilidades de autocontrole e atenção.
A brincadeira, portanto, fortalece a flexibilidade mental — algo que ajuda a reformular desafios e se adaptar com mais confiança. Essa combinação de otimismo e raciocínio criativo melhora a tomada de decisões e torna a jornada em meio à incerteza mais produtiva e envolvente.
A Brincadeira Estimula a Criatividade e a Inovação
Uma mentalidade brincalhona é um motor poderoso da criatividade. Pessoas brincalhonas não apenas se adaptam aos desafios — elas experimentam, reinventam e descobrem novos caminhos.
Durante a pandemia, os participantes mais brincalhões do estudo de 2025 demonstraram maior pensamento flexível e resolveram problemas de forma criativa. Em vez de se focarem nas limitações, exploraram novos hobbies, ajustaram suas rotinas e encontraram soluções alternativas para os desafios do dia a dia. Isso acontece porque a brincadeira promove a mente aberta, mudando a pergunta de “Por que eu?” para “E se…?”.
Estudos mostram que atividades lúdicas, principalmente em grupo, ajudam na geração de ideias. A brincadeira facilita a colaboração, estimula o uso de estímulos externos e torna a resolução de problemas mais prazerosa.
Além disso, a brincadeira aumenta a motivação, reduz a frustração e melhora a persistência. Também traz benefícios físicos e sociais: melhora habilidades motoras, interações sociais e o bem-estar geral.
Empresas que buscam inovação se beneficiam ao promover ambientes criativos e descontraídos. Estimular a brincadeira no cotidiano — seja no trabalho ou na vida pessoal — abre portas para descobertas e soluções inesperadas.
A Brincadeira Fortalece a Resiliência Emocional
A brincadeira vai além da alegria momentânea — ela atua como um ponto de apoio emocional em tempos difíceis.
Durante a pandemia, os participantes brincalhões também se sentiram vulneráveis e isolados, assim como os outros. Mas reagiram de forma diferente: buscaram formas de se adaptar, mantendo atividades prazerosas e um senso de controle. Essa flexibilidade emocional os ajudou a viver com mais leveza, se envolver mais com o presente e manter a esperança, mesmo em cenários difíceis.
Isso acontece porque a brincadeira facilita a regulação emocional. Pessoas brincalhonas tendem a ver contratempos como algo passageiro, evitando cair em ciclos de pensamento negativo. Elas acolhem as mudanças com curiosidade, mantendo o equilíbrio emocional mesmo diante da adversidade.
Cultivar uma mentalidade brincalhona não significa ignorar os problemas — significa escolher uma forma de se relacionar com a vida que torna os desafios menos ameaçadores. Ver os obstáculos como oportunidades fortalece a resiliência e melhora o bem-estar a longo prazo.
Como Começar a “Fazer Limonada”
Adotar uma mentalidade brincalhona não exige mudanças radicais — apenas pequenos ajustes na forma como você encara o dia a dia. Aqui vão algumas dicas simples:
- Transforme tarefas rotineiras em um jogo: calcule o tempo ao fazer tarefas domésticas, invente jeitos criativos de realizá-las ou adicione um toque divertido ao que é repetitivo.
- Use o humor como botão de reinício: quando algo estressante acontecer, imagine a situação como uma cena de comédia. Isso ajuda a aliviar a tensão e recuperar a perspectiva.
- Brinque com o “E se…?”: em vez de focar no problema, explore possibilidades. Pergunte-se: “E se eu tentasse de outro jeito?” ou “Como uma criança imaginativa lidaria com isso?”
- Resolva problemas em grupo: converse com um amigo, transforme contratempos em desafios divertidos ou debata ideias num ambiente leve e descontraído.
- Adote movimentos lúdicos: dance enquanto faz o café, mude o caminho do passeio diário ou experimente atividades leves como pular, desenhar ou cantar.
Quanto mais você incorpora a brincadeira no dia a dia, mais fácil se torna enxergar os desafios como convites ao crescimento. Com o tempo, aquilo que antes parecia um obstáculo pode se transformar em uma nova aventura.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.