Resumo:
- Equipes com mais recursos investem desenfreadamente nas corridas, sem deixar espaço para que outros times ganhem campo nas primeiras posições do campeonato;
- Ferrari e Mercedes ultrapassaram a casa dos bilhões e valor;
- Mercedes leva o título de campeã da Fórmula 1 desde 2014;
- Ferrari fica entre as quatro primeiras do campeonato desde 1981.
No início de novembro, Lewis Hamilton ficou em segundo lugar no Circuito das Américas de Austin, o piloto terminou apenas alguns segundos atrás do companheiro de equipe, Valtteri Bottas. A segunda posição garantiu pontos suficientes para Hamilton conquistar seu sexto campeonato na Fórmula 1 e o deixou muito próximo de igualar o recorde de Michael Schumacher. Essa façanha incrível fez com que o britânico de 34 anos garantisse um lugar no clube dos maiores nomes de todas as corridas de todos os tempos.
Entretanto, o domínio contínuo de Hamilton — cinco de seus campeonatos foram conquistados nos últimos seis anos — também é o principal indicador da maior ameaça ao futuro sucesso da Fórmula 1: a influência desenfreada de gastos não controlados.
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Grande parte do sucesso de Hamilton na pista se deve ao simples fato de que sua equipe, a Mercedes, está disposta a superar a competição: o equipamento do time alemão demanda cerca de US$ 430 milhões por ano, mais do que o dobro do que a maioria das equipes de F-1 é capaz gastar em uma determinada temporada.
O investimento da Mercedes resultou em um time intocável, que venceu cada um dos últimos seis campeonatos com facilidade (a equipe conquistou todos, exceto um desses títulos da temporada, com pelo menos três corridas ainda no calendário). As equipes menos valiosas do esporte são forçadas a lutar pelos restos e para permanecer rentáveis; na verdade, a história da F-1 está repleta de cadáveres de equipes que não aguentavam as pressões financeiras.
Não há nada de novo nessa enorme lacuna de riqueza ou na maneira como ela distorce a concorrência na pista no esporte mais caro do mundo. Mas essas questões estão subitamente na vanguarda, quando a proprietária da F-1, a Liberty Media, se prepara para implementar medidas há muito esperadas de controle de custos, entre várias outras reformas importantes. O objetivo final é uma série renovada, definida por emocionantes corridas e viabilidade financeira, e essas mudanças devem corroer algumas vantagens atualmente mantidas pelas principais equipes do esporte. E como a F-1 ainda não firmou compromissos de longo prazo com suas equipes — a programação atual está garantida apenas para a próxima temporada — o relógio está correndo para tentar manter na grade da próxima década os que mais gastam nas em corridas.
Não faz muito tempo, a Fórmula 1 estava um pouco confusa. A instabilidade financeira forçou a série a se afastar repetidamente das tentativas de abrir o capital em Singapura, e um desfile de potenciais compradores privados abandonou seus planos depois de examinar mais de perto o que era uma teia de aranha clandestina de holdings construídas pelo ex-chefe da F-1 Bernie Ecclestone. A série perdeu 12% de seu valor — mais de US$ 1 bilhão — em menos de cinco anos.
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Essa referência foi estabelecida em janeiro de 2017, quando a Liberty Media do bilionário John Malone finalmente entrou para comprar a marca por US$ 8 bilhões. Desde então, a F1 parecia ter encontrado um terreno sólido. Em 2018, a série gerou US$ 1,83 bilhão em receita, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. O rastreamento de ações da F1, FWONK, tem um valor de mercado de US$ 10 bilhões e está sendo negociado em torno de uma alta histórica (o preço dos papéis subiram 48% desde a compra da Liberty). A audiência televisiva norte-americana cresceu 22% nesta temporada, assim como o público global das corridas.
Mas a F-1 ainda não pode ser considerada uma história de recuperação bem-sucedida porque algumas rachaduras estão aparecendo. Quase todo o crescimento da receita ano a ano em 2018 foi proveniente de empresas relacionadas: a segunda divisão, a Fórmula 2; produção de TV; e serviços de hospitalidade e viagens. Enquanto isso, as receitas de patrocínio em nível de série caíram e as taxas de sanção saltaram apenas US$ 1 milhão, apesar de uma corrida adicional. A série perdeu audiência global de TV à medida que passou das redes de canal aberto para a cabo, mas as receitas de transmissão permaneceram em grande parte estáveis. E, embora a audiência nos EUA esteja subindo, o público total ainda é minúsculo — cerca de 680 mil espectadores americanos por corrida, apenas um quinto da média da Nascar — e foi relatado que a ESPN nem paga royalties.
Portanto, a série não tem muito espaço para circular, pois visa implementar reformas abrangentes que devem nivelar o campo de jogo. A partir de 2021, o campeonato apresentará peças padronizadas, reduzirá os testes e mudará o design dos carros para diminuir a força descendente, permitindo assim corridas mais competitivas. O mais notável é que a F-1 também vai limitar os gastos das equipes em US$ 175 milhões por temporada, embora com algumas mudanças notáveis (custos de motor e salários do piloto, entre outros itens de linha, não entram no limite estipulado).
É um ajuste radical, mas necessário. Apesar da maioria das equipes encarar bem perder dinheiro — o sucesso na pista é uma jogada de marketing para os donos corporativos das equipes, portanto, qualquer lucro líquido costuma representar um possível ponto do campeonato deixado na mesa — o custo para competir na F-1 é insustentável para os times intermediários do esporte. Nos últimos anos, empresas como Lotus, Force India e Manor Racing ou foram à falência ou foram vendidas a preço de banana.
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A pressão financeira também cresceu à medida que o aumento dos gastos na série sob a Liberty consumiu o prêmio em dinheiro das equipes — o lote total foi de US$ 913 milhões no ano passado, uma queda de quase 6% em relação aos US$ 966 milhões pagos em 2016 — e o impacto adverso do Brexit sobre os valores monetários corroeu o poder de investimento das equipes, já que a maioria dos times gasta em libras esterlinas enquanto registra receita em dólares e/ou euros.
O desafio da F-1, no entanto, é convencer as principais equipes do esporte – Ferrari, Mercedes, Red Bull – a travar seus gastos e dar ao restante dos jogadores a chance de recuperar o atraso. Mas as endinheiradas da F-1 não estão muito interessadas em perder suas vantagens atuais e, com seus compromissos com o esporte expirando após o próximo ano, estão aproveitando a oportunidade para pressionar a Liberty.
A Mercedes não fez nada para desmentir os rumores de que poderia vender suas operações. A Red Bull parece perpetuamente à beira de deixar o esporte. A Ferrari tem sido incomumente cooperativa até agora, embora a equipe tenha manifestado preocupações sobre o novo pacote de regras. Não é difícil entender por que, uma vez que os gastos livres dessas equipes lhes permitiram criar algumas das marcas mais valiosas no esporte profissional.
Basta olhar para o recente domínio da Mercedes. A equipe subiu ao topo da classificação em 2014 depois de assumir um compromisso financeiro maciço — o time gastou o total de US$ 380 milhões naquele ano, um aumento de 26% em relação a 2013 e 59% em relação à temporada de 2012. E enquanto essas despesas forçaram a Mercedes a perder US$ 150 milhões no primeiro ano de campeonato, o domínio sustentado acabou levando a dividendos financeiros. No ano passado, a equipe registrou um lucro operacional de US$ 22 milhões e gastou mais de US$ 100 milhões a mais do que qualquer outro time exceto a Ferrari. Agora, a alemã vale US$ 1,01 bilhão, 46% a mais que em nosso último levantamento do valor das equipes há dois anos.
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A Ferrari também é uma grande concorrente — a equipe de corrida mais valiosa do mundo agora vale US$ 1,35 bilhão. Embora os altos gastos do time resultem em uma perda operacional — estimamos que a italiana tenha perdido US$ 12 milhões nos US$ 426 milhões de receita em 2018 –, ainda supera o valor da Mercedes pela longevidade do seu sucesso. Uma série de fortes resultados nas pistas somados às fortunas subseqüentes podem ser fugazes. Basta olhar para a McLaren, que era uma forte concorrente do campeonato e figurava entre os líderes de receita até que algumas temporadas desastrosas recentes fizeram a equipe cair. Já a Ferrari é tão antiga quanto o esporte e não encerra um campeonato fora das quatro primeiras posições desde 1981. No mais, a F-1 concedeu à equipe italiana poderes de veto e um pagamento anual de bônus apenas pelo cachê que traz para a divisão.
Nenhuma outra equipe está perto de alcançar os dois líderes, e o restante dos times são exemplos de como o valor das equipes tem sido construído com base em gastos exorbitantes. A Red Bull, que terminou fora dos três primeiros na classificação apenas uma vez desde 2008, vale US$ 640 milhões; a equipe obtém um lucro nominal, mas apenas porque cerca de US$ 92 milhões, ou 28%, de sua receita é um investimento de “patrocínio” da Red Bull GmbH, empresa controladora da equipe. A McLaren, apesar das recentes disputas, vale US$ 620 milhões porque gastou mais de cinco décadas investindo no esporte, e a Renault está crescendo rapidamente — seu valor de equipe de US$ 430 milhões mais que dobrou nos últimos dois anos — como consequência de seus proprietários franceses que aumentaram em 35% os gastos desde que assumiram o controle antes da temporada de 2016.
Mas, com um limite de gastos no horizonte, o crescimento contínuo dos valores das equipes da F-1 em breve dependerá amplamente da capacidade da Liberty de manter unida a linha competitiva do esporte, uma vez que isso pode tornar a série viável a longo prazo. O resultado é que, se a F-1 superar com sucesso esse último conjunto de desafios, terá a chance de recuperar muito do brilho perdido do esporte. De fato, os potenciais investidores estão acompanhando de perto e, se o CEO da modalidade provar seu valor, vários novos proprietários consideram ingressar no esporte ainda em 2021.
Veja, na galeria de imagens a seguir, as 10 equipes mais valiosas da Fórmula 1:
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Divulgação Alfa Romeo 10º. Alfa Romeo
Valor: US$ 105 milhões
Receita: US$ 84 milhões
Receita operacional: – US$ 18 milhões -
Divulgação Haas F1 9º. Haas F1
Valor: US$ 115 milhões
Receita: US$ 95 milhões
Receita operacional: US$ 28 milhões -
Divulgação Racing Point 8º. Racing Point
Valor: US$ 130 milhões
Receita: US$ 104 milhões
Receita operacional: US$ 17 milhões -
Divulgação Toro Rosso 7º. Toro Rosso
Valor: US$ 200 milhões
Receita: US$ 172 milhões
Receita operacional: US$ 6 milhões -
Anúncio publicitário -
Peter J Fox/GettyImages 6º. Williams
Valor: US$ 400 milhões
Receita: US$ 176 milhões
Receita operacional: US$ 6 milhões -
Divulgação Renault 5º. Renault
Valor: US$ 430 milhões
Receita: US$ 195 milhões
Receita operacional: – US$ 7 milhões -
Divulgação McLaren 4º. McLaren
Valor: US$ 620 milhões
Receita: US$ 165 milhões
Receita operacional: – US$ 137 milhões -
Divulgação Red Bull 3º. Red Bull Racing
Valor: US$ 640 milhões
Receita: US$ 327 milhões
Receita operacional: US$ 1 milhão -
Divulgação Mercedes 2º. Mercedes
Valor: US$ 1,01 bilhão
Receita: US$ 451 milhões
Receita operacional: US$ 22 milhões -
Divulgação Ferrari 1º. Ferrari
Valor: US$ 1,35 bilhão
Receita: US$ 426 milhões
Receita operacional: – US$ 12 milhões
10º. Alfa Romeo
Valor: US$ 105 milhões
Receita: US$ 84 milhões
Receita operacional: – US$ 18 milhões
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