Enquanto o Brasil se recupera da atual situação econômica com o pior desenvolvimento dos últimos 80 anos, uma das primeiras startups de tecnologia do país conseguiu arrecadar fundos em uma quantia significativa.
O Nubank, em São Paulo, cujas primeiras produções foram cartões de crédito “sem taxa” controlados por um aplicativo, faturou US$ 80 milhões em uma rodada de financiamento, dinheiro que será usado para continuar expandindo suas operações com mais funcionários e novas produções, disse o CEO David Vélez em uma entrevista recente ao “Tech Crunch”.
O investimento liderado pela DST Global, empresa de capital de risco chefiada por Yuri Milner que está por trás de gigantes como a Alibaba, Twitter, Spotify e Facebook, além de outras companhias de tecnologia como a Klarna e a Lending Club. A DST arrecadou US$ 1,7 bilhão no ano passado e parece ingressar em novas áreas com isso: este é o primeiro investimento da empresa no Brasil.
Assim como a DST, o Nubank também foi o primeiro investimento no mercado brasileiro das financiadoras Sequoia, Founders Fund e QE.
O Nubank não revelou seu valor, mas na sua última rodada de investimento, US$ 52 milhões foram liderados pelo Founders Fund, de Peter Thiel, com uma pós avaliação de R$ 500 milhões.
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Considerando o atual clima financeiro no Brasil, pode parecer intuitivo para os investidores de risco investirem em uma startup que constrói seu negócio em produtos de crédito. Atualmente, o país tem o maior mercado de crédito da região, com 100 milhões de cartões em circulação. Mas como Vélez descreve, os cinco maiores bancos do país, que controlam cerca de 95% de todos os serviços financeiros de consumo, estão sendo impactados pela economia hoje, e estão em processo de corte de gastos, o que resulta em piores termos para os clientes. Isto significa que ofertas menores como as do Nubank, cujo custo do cartão é “grátis” contanto que a fatura seja paga em dia, é mais atrativa para o consumidor.
Para os investidores de risco, junto com a crise e menores custos para produtos e serviços, vêm avaliações mais baixas para as empresas também. Em outras palavras, esta é a hora certa de investir antes que os valores e o clima financeiro cresçam. “Em adição a economia brasileira melhorar gradativamente, os preços estão baixos”, afirmou Vélez em entrevista ao “Tech Crunch”.
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Ele ainda acrescentou que a crise econômica pode ser uma vantagem. Nota que o modelo de crédito da empresa, que permite que o Nubank decida se vai emitir ou não crédito ao cliente, começou na pior época possível para os consumidores. Essencialmente, isto significa que o modelo é conservador e é melhor para identificar e encorajar a adição de clientes de crédito de baixo risco.
Os negócios do Nubank vêm crescendo desde 2014. Vélez não divulgou o número exato, mas diz que enquanto outras pequenas startups de tecnologia aparentam totalizar cerca de 150.000 clientes, o Nubank superou estes números. Foram feitas mais de 7 milhões de aplicações para o cartão, e existem 500.000 pessoas na lista de espera.
A companhia não cobra uma taxa adiantada, mas faz dinheiro em três áreas: cobranças de transação de 1,5% em cada compra, troca de câmbio em compras internacionais e interesses em faturas não pagas.
Mesmo assim, Vélez conta que não quer clientes que pagam interesses em suas faturas e foca naqueles que são mais propícios a pagar corretamente todo mês. E por isso, 90% de seus clientes pagam a fatura no prazo. Aproximadamente 75 milhões de compras foram feitas com cartões Nubank.
Algumas empresas tentam competir com o banco em ascensão como o Digio, que é uma parceria entre o Bradesco e o Banco do Brasil. Porém, isto não deve abalar as atividades do Nubank. Este projeto será um serviço de recompensas, onde se ganha créditos por milhagens aéreas e outros serviços com cada compra.
Existe ainda a questão da propaganda. A companhia hoje tem zero custo de aquisição do cliente, disse Vélez, já que foi construída inteiramente em campanhas de mídias sociais.Isto pode ser outra área na qual o banco finalmente decida investir para atrair clientes.
Por enquanto, o Nubank vai focar no Brasil, mas parte do interesse de seus investidores é crescer em outros mercados na região.
“David e o time do Nubank estão formando um líder global em serviços financeiros digitais que trazem benefícios significativos para seus clientes no Brasil, incluindo serviços melhorados, fricção de pagamento de e-commerce reduzido e custos mais baixos”, diz Tom Stanford, gerente parceiro da DST Global, em entrevista ao “Tech Crunch”. “O Nubank está estabelecendo um dos líderes em times de tecnologia na América do Sul e estamos animados com a parceria”, concluiu.