Toda comunidade precisa de uma economia forte para prosperar – uma que seja marcada por inovação, criatividade e diversidade. Para a People’s Liberty, fundação filantrópica de Cincinnati, no estado norte-americano de Ohio, as melhores iniciativas costuma vir de residentes, que normalmente têm ideias que fazem a diferença. Por isso, a organização embarcou em uma missão de cinco anos que pretende financiar mais de 100 projetos para que integrantes da comunidade possam inovar, criar e construir iniciativas para as cidades e seus habitantes.
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Fundada em 2015, a People’s Liberty é uma submarca da fundação norte-americana Haile Foundation. Com especial interesse em artes, financia ações que levem ao engajamento social ou mudanças. “Vamos financiar qualquer coisa que engaje as pessoas – coisas que as façam agir, reagir, participar e se misturar”, diz Eric Avner, CEO da People’s Liberty.
Por meio de um processo transparente e acessível, a entidade aceita inscrições de residentes de Cincinnati duas vezes por ano e usa um “júri” público de membros selecionados da comunidade para ajudar a tomar decisões de financiamento. Com base em viabilidade e impacto, os jurados selecionam as ideias com maior probabilidade de fazer diferença na comunidade. As concessões são feitas em três categorias: US$ 10 mil para instalações de arte; US$ 15 mil para transformação de espaços; e a Haile Fellowship, que consiste em duas bolsas de US$ 100.000 (concedidas duas vezes ao ano) para que indivíduos deixem seus empregos e embarquem em um ano “cívico-sabático”, com o objetivo de construir um empreendimento social ou uma organização de impacto.
Por meio de seu exclusivo processo de financiamento, explica Avner, a intenção é investir diretamente nas pessoas e nas suas ideias e abastecê-las com recursos. “Nós frequentemente subestimamos o quão importante é dar às pessoas a chance de perseguir suas paixões e, ao mesmo tempo, permissão e espaço para perseguir ideias”, diz ele. É a noção de que empoderamento pode catalisar mudanças na comunidade que faz a fundação querer descobrir como essa nova maneira de doar pode introduzir inovação em fundações filantrópicas.
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De acordo com o CEO da entidade, nos dois anos e meio desde que a People’s Liberty existe e começou a oferecer financiamentos, as ideias custeadas foram tão variadas que passaram por aulas de culinária intercultural em bairros locais, um parque de percussão e uma versão em escala do sistema solar espalhada ao longo da cidade de Cincinnati. “Nós não temos ideia do que está na mente das pessoas, mas agora estamos descobrindo o que é importante para a nossa comunidade”, diz.
Ainda que nem todo projeto seja financiado, Avner diz que o time da People’s Liberty separa tempo para conversar com qualquer pessoa que tenha interesse em se inscrever – em sua última rodada de investimentos, o time se encontrou com mais de 120 inovadores de toda a cidade. “Nós financiaremos aproximadamente 105 projetos em cinco anos, segundo a projeção. Algumas ideias serão incríveis e se transformarão em empresas. Outras não serão tão impressionantes”, diz Avner. Ao mesmo tempo em que as ideias e seu impacto na comunidade são importantes, Avner diz que talvez o resultado no longo prazo mais curioso seja o que essas oportunidades trarão para os próprios inovadores.
“Nós estamos esperando para ver o que eles farão em três, cinco ou oito anos. Isso vai mudar a sua trajetória? Eles estarão comandando organizações, iniciando negócios ou tentando algum cargo público?”, questiona Avner. A People’s Liberty vê esses projetos como uma porta de entrada ao engajamento cívico. Ao oferecer a habilidade de fazer parte de algo maior, a fundação acredita que pode oferecer insights únicos sobre como a próxima era da filantropia vai evoluir por meio da construção de uma comunidade de atores.
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Avner enfatiza que a diversidade é de extrema importância para a entidade, que financia residentes da cidade que representam uma variedade de origens. “Nós queremos ser diversos em todas as medidas, por meio dos beneficiados, funcionários, júris e participantes dos eventos”, diz. Os três mais recentes beneficiados pela Haile Fellows, Brandon Black, Tracy Brumfield e Tamia Stinson, explicaram que o processo foi crucial para eles e para suas ideias.
O projeto de Brandon Black, o Retire Repair, por exemplo, conecta pessoas aposentadas a proprietários de imóveis da geração millenial para que dividam suas habilidades em reforma e construção com aqueles que podem não ter experiência. Como resultado, Black observou o estabelecimento de relacionamentos intergeracionais e o fato de que a tutoria pode levar a um maior empoderamento.
Já o RISE (Reenter Into Society Empowered), iniciativa de Tracy Brumfield, está criando uma newsletter e um centro de recursos para que ex-presidiários sejam reinseridos na sociedade. Por meio de uma gama de serviços, ela espera possibilitar o acesso à saúde mental, aconselhamento, moradia, emprego e outros recursos ao redor da cidade.
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A ideia de Tamia, batizada de Tether, trata da criação de um livro para registrar o trabalho de criadores de imagens (designers, artistas, fotógrafos e outros profissionais da área) da cidade de Cincinnati e outras regiões. Tamia espera que o projeto destaque os talentos da cidade e ofereça uma maneira viável para que eles encontrem trabalho e possam permanecer em Cincinnati.
“Nós enxergamos tudo isso como um laboratório filantrópico para ajudar a criar um novo estilo de concessão de financiamento. Estamos abraçando a diversidade de uma nova maneira – tudo o que fazemos [por meio da People’s Liberty] é para nos ajudar a ser melhores financiadores. Percebemos que a maneira pela qual fazemos filantropia pode mudar.”
Colocado de maneira simples por Avner e o time da People’s Liberty, esse projeto de cinco anos pretende responder à pergunta: “Nós podemos tornar nossa comunidade melhor ao investir na nossa gente?”. Até agora, a resposta tem sido um estrondoso “sim”, mas a equipe continua se aprimorando para entender como este impacto pode ser escalado para mudar o campo da filantropia e da concessão de recursos por meio de fundações em comunidades de todo o país.