A direção de grandes empresas está muito associada à imagem masculina, principalmente em função da baixa presença de mulheres nos cargos de CEO das grandes companhias. Essa falta de representatividade pode ser muito desestimulante, mas há exemplos capazes de servir de incentivo. A executiva do Blue Tree Hotel, Chieko Aoki, é um deles.
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Após trabalhar na rede Caeser Park Hotels & Resorts por dez anos – na qual chegou a ser presidente da rede -, Chieko fundou a sua empresa nos anos 1990. Em 1997, lançou a bandeira Blue Tree Hotels, conceituada rede hoteleira com várias unidades espalhadas pelo Brasil. Acostumada a participar de eventos em que o empreendedorismo feminino é o centro dos debates, Chieko aproveita as oportunidades para contar sua trajetória empresarial, servindo assim de inspiração para outras mulheres dispostas a empreender.
A empresária recebeu FORBES com entusiasmo em uma das unidades da rede em São Paulo, onde falou sobre empreendedorismo.
O que você geralmente fala nos eventos de empreendedorismo feminino? Como você analisa o tema atualmente?
Eu não sou especialista no assunto, mas acho que a mulher consegue entender que pode se virar mesmo sem emprego e renda. E com coisas simples, como fazendo um pastelzinho, um docinho, um bolinho – o chamado empreendedorismo por necessidade. As mulheres têm a capacidade de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, como, por exemplo, ter três empregos. Consequentemente, elas têm uma aptidão para empreender, independentemente da condição econômica na qual estejam. Eu acho que a mulher vai contribuir muito para a economia por meio do seu espírito empreendedor. Há exemplos no Paquistão, na Índia e na África, onde as mulheres estão se empoderando graças a linhas de microcrédito que estão sendo direcionadas a elas, uma vez que se preocupam com a família e não apenas com si próprias. As empreendedoras vão criar valor tanto à sociedade como também vão gerar renda para a família.
Quais são os incentivos disponíveis para o empreendedorismo feminino?
O maior incentivo é a necessidade de dinheiro [risos]. Você perde o emprego e o que vai fazer? Dormir, chorar? Não, tem que se virar, e as mulheres sabem disso. A venda de um pequeno docinho não deixa de ser um caso de empreendedorismo. Claro que tem muitas mulheres que querem empreender por oportunidade, têm boas ideias e querem colocá-las em prática. Conheço muitas, por exemplo, que trabalharam anos em banco e um dia resolveram montar um negócio para pequenos fundos de investimento, consultoria de auditoria etc. Setores onde apenas os homens atuavam começam a vivenciar a participação feminina.
O que falta para aumentar a participação feminina nos negócios?
Falta orientação às empreendedoras mais simples, principalmente em relação ao planejamento de negócios. Isso vale tanto para o homem como para a mulher. O SEBRAE, por exemplo,tem cartilhas informativas digitais, com orientações de como fazer planejamento, administrar caixa etc. Acho que seria muito bom se esses programas chegassem às cidades menores. As prefeituras destes municípios têm capacidade para acessar os manuais e passar ao pequeno empreendedor e à pequena empreendedora. Deveria ser parte do plano da cidade fomentar a economia por meio do empreendedorismo feminino. Eu tenho certeza de que as mulheres contribuiriam muito para a economia local.
A sociedade civil também deveria participar mais?
Sim, como as associações comerciais, as ONGs e outras instituições que agrupam pessoas que querem empreender e que dê qualquer forma de incentivo e orientação.
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Existem linhas exclusivas de financiamento para o empreendedorismo feminino?
Financiamento é difícil para todo mundo, especialmente para as pequenas. O governo tem feito algumas ações para viabilizar as linhas de crédito. Mas tampouco pode deixar estas mulheres endividadas, por isso é preciso orientação. As linhas de crédito precisam ser concedidas com responsabilidade. Assim, contribuirão para movimentar a economia. Também é preciso criar um plano de ação em que várias formas de suporte estejam à disposição, com acompanhamento e ajuda para o que for necessário, além de fazer encontros e reuniões. A empreendedora vai perceber que seus problemas não são únicos, são os mesmos de todas as demais. Criar mecanismos para que as mulheres, assim como os homens, não se sintam isolados.
Seria uma espécie de empreendedorismo em rede?
Cada vez mais temos que compartilhar: o espaço, a máquina e as facilidades. O mundo se reinventou, passou do individualismo para o coletivo. No individual a sobra é sempre uma sobra, enquanto no coletivo não há sobras, e todos os espaços vão sendo ocupados – de tempo, das coisas, do conhecimento. Eu gosto muito deste modelo, de ser global em vez de ser apenas local. De você poder acessar todo o conhecimento que há disponível. As pessoas não são mais dissociadas do mundo, qualquer um pode acessar qualquer informação. Só é preciso apoio.