Do seu alpendre nas colinas de Santa Rosa, Califórnia, Richard Hicks pode ver pinheiros majestosos, encostas verdes e um monte de casas inacabadas. O aposentado de 72 anos perdeu sua casa em um incêndio em 2017 e se mudou para uma nova construída em novembro. Alguns de seus vizinhos que sofreram o mesmo destino começaram a se reconstruir antes, mas ele foi o primeiro a voltar à rotina. Alguns ainda aguardam o início da construção. Outros moram em galpões instalados pelo Habitat for Humanity.
“Eu não ia reconstruir”, lembra Hicks, um californiano que possui a propriedade desde 1980. “Na minha idade, eu deveria estar viajando e pescando, em vez de passar meu tempo comprometido, estressado e com centenas de decisões a tomar.”
Mais de 24 mil casas na Califórnia foram destruídas por incêndios desde 2017. Alguns proprietários as venderam. Outros optaram por casas prontas construídas em fábricas. Daqueles que decidiram reconstruir do zero, muitos continuam administrando dores de cabeça, desde a remoção de detritos e reclamações de seguros até a contratação de empreiteiros, engenheiros e arquitetos. O retorno relativamente rápido de Hicks teve ajuda da Homebound, uma startup fundada há 18 meses que agora gerencia todo o processo de 150 vítimas de incêndio.
A empresa sediada em Santa Rosa foi fundada pela executiva de tecnologia Nikki Pechet e pelo investidor de capital de risco Jack Abraham, que foram impactados pelos incêndios. Vendo a oportunidade nas cinzas, eles decidiram reinventar a construção de casas com software projetado para reduzir os atrasos e os custos excedentes que assolam a indústria.
A Homebound cobra uma taxa com base no custo do projeto, mas não diz quanto. (Os empreiteiros gerais costumam cobrar entre 10% e 25% para gerenciar a construção.) A receita do primeiro ano foi estimada em US$ 10 milhões.
“Enquanto observávamos as pessoas tentando navegar no processo e a complexidade de tudo o que elas precisavam fazer para construir uma casa, sabíamos que havia ferramentas de tecnologia realmente simples que eram usadas em outros setores que poderiam tornar o processo mais simples”, diz Pechet, que atua como CEO da Homebound.
Seu software rastreia 379 tarefas que são comuns na construção de uma casa, permitindo que os clientes acompanhem o progresso como fariam com uma entrega de comida ou uma viagem com a Uber. Isso foi essencial para Hicks, um ex-gerente de TI da Hewlett-Packard. Ele pôde, por exemplo, fazer perguntas sobre a cor dos ladrilhos do banheiro com mensagens que seriam enviadas a uma equipe de designers de interiores da equipe e enviar informações sobre quaisquer alterações feitas ao restante da equipe. O aplicativo também notifica os subcontratados sobre quando e onde as peças foram entregues.
As mudanças, pelo menos em teoria, estão muito atrasadas. A McKinsey classificou a construção como uma das indústrias mais complicadas do país, citando a fragmentação e os benefícios financeiros difíceis de medir como barreiras que precisam ser quebradas. Os incêndios não apenas criaram uma demanda sem precedentes, como também eliminaram alguns obstáculos importantes à adoção.
Como as vítimas de incêndio possuem apenas um terreno sem nada construído, têm um forte incentivo para fazer as coisas rapidamente. A maioria também possui seguro, e bons planos pagam até quatro vezes o valor da casa perdida, fornecendo às pessoas dinheiro para gastar e ainda mais motivos para agir rapidamente, uma vez que a maioria das apólices cobre apenas dois anos de condições alternativas de moradia. A Homebound concentrou seus esforços no condado de Sonoma, no norte da Califórnia, e em Malibu, no sul, os quais têm governos locais acelerando as licenças de construção para propriedades afetadas pelo fogo e populações com experiência em tecnologia prontas para trabalhar com empreiteiros habilitado digitalmente.
Nikki, 38 anos, cresceu em Minnesota e aprendeu a usar serra de mesa e furadeira na oficina de seu tio na terceira série. Ela conheceu o desenvolvedor imobiliário Stephen Ross enquanto estudava na Universidade de Michigan e, depois de se formar, trabalhou no departamento de marketing da Pepsi durante o dia e na Related Companies de Ross nas noites e fins de semana. Ela então recebeu um MBA da Harvard Business School e passou oito anos na estrada como consultora da Bain & Company.
Em 2014, grávida de seu primeiro filho, criou raízes. Ela iniciou uma reforma em São Francisco e começou a rastrear cada dólar e entrega em uma planilha do Excel. Por meio de seu trabalho como gerente de marketing da Thumbtack, um marketplace em que os proprietários podem encontrar profissionais para instalar ladrilhos ou reparar a fiação, ela começou a ver o valor de combinar as duas ideias.
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“Pude ver que era possível usar a tecnologia para combinar pessoas que queriam trabalhar com pessoas que precisavam trabalhar”, diz Nikki. Mas, quando os incêndios ocorreram, ela, que também é dona de uma casa em Napa que quase queimou em um incêndio, viu que apresentar pessoas não era suficiente para quem está começando do zero. Meses depois de dar à luz seu terceiro filho, Nikki imaginou que abriria uma empresa em mais ou menos um ano, mas o destino interveio na forma de Abraham, que agora aconselha Nikki como presidente executivo da Homebound.
Abraham, sócio-gerente da empresa de capital de risco Atomic, estava tentando reconstruir sua própria casa de fim de semana perdida em um incêndio. Indignado com os preços cotados por uma escassa oferta de empreiteiros locais, ele esboçou um plano para importar mão de obra mais barata de lugares distantes como o Arizona. Ele trouxe o conceito para seus parceiros na Atomic, que mantém uma lista de 500 ideias de startups e incuba as melhores delas em seu escritório em São Francisco. Sua busca por um CEO levou a Nikki.
Ela levantou US$ 53 milhões em financiamento de fundos como Google Ventures, Forerunner Ventures, Fifth Wall e Thrive Capital de Josh Kushner, e fontes avaliaram a Homebound em US$ 200 milhões após uma rodada de financiamento em agosto de 2019. Seu plano de longo prazo é ir além de desastres naturais, escassez de moradias e da Califórnia. NIkki está conversando com construtores da Louisiana, local propenso a furacões, e está preparada para expandir para lá, se necessário, enquanto também convoca equipes para trabalhar na Califórnia. O sonho é converter novos compradores de casas em consumidores que recorrem aos seus iPhones para projetar a casa dos seus sonhos.
“Quando penso na inovação que precisa acontecer neste setor, não é apenas um detalhe; é tudo”, ela diz.
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