Qualquer pessoa que já esteve em uma longa trilha ou teve o carro quebrado na estrada sabe que a conectividade telefônica, que muitos consideram uma certeza da vida diária, pode desaparecer rapidamente. Apesar dos avanços na tecnologia, a distância que o sinal de dados pode percorrer ainda é limitada àquela você está de uma torre de celular.
A AST & Science, com sede em Midland, no estado norte-americano do Texas, pretende usar satélites para superar essas limitações. A empresa acabou de arrecadar US$ 110 milhões em uma rodada liderada pela operadora de telefonia móvel do Reino Unido Vodafone e pela japonesa Rakuten para lançar uma rede de banda larga móvel, chamada SpaceMobile, equipada com satélites. Eles podem se conectar a telefones “em qualquer lugar do planeta –quando você está voando em um avião, em um local remoto, no mar– em qualquer lugar”, diz o fundador e CEO da empresa, Abel Avellan.
A companhia testou com sucesso sua tecnologia no ano passado, quando lançou um protótipo de satélite chamado BlueWalker 1, em abril. O satélite conseguiu transmitir com sucesso sinais aos telefones e demonstrar as habilidades da empresa. Com a nova rodada de capital, que eleva sua arrecadação total para US$ 128 milhões, ela poderá aumentar a produção das centenas de satélites que planeja colocar em órbita, usando uma abordagem de fabricação modular para manter os custos baixos.
A AST é uma das várias empresas que tem como objetivo colocar satélites em baixa órbita terrestre para fornecer dados. SpaceX, OneWeb, Amazon e outros estão construindo grandes mega-constelações para fornecer internet de banda larga diretamente aos clientes. Seu mercado-alvo são os clientes premium, aproveitando os menores tempos de latência fornecidos pelos satélites para atrair os usuários para longe de provedores de internet de banda larga, como Comcast ou AT&T.
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Por outro lado, a AST tem como alvo um mercado diferente. Em vez de tentar fornecer serviços de internet de banda larga, o que exige a construção de satélites maiores e de maior custo e infraestrutura terrestre cara, a empresa busca uma parceria com as operadoras de telefonia móvel. Para esses provedores, a AST oferece a seus clientes a capacidade de usar seus dispositivos existentes em locais de difícil conexão, como nas montanhas ou em um cruzeiro. É um modelo semelhante aos provedores de telefones via satélite existentes, como o Iridium, exceto que não requer hardware próprio; os clientes podem usar os telefones que já possuem.
A AST está vendendo sinais espaciais por atacado para provedores já existentes em vez de tentar competir com eles, explica Avellan. Sua constelação fornecerá inicialmente sinais 4G, mas espera mudar para 5G assim que tiver mais satélites em operação. Isso permite que seus clientes forneçam serviços a mais pessoas sem a necessidade de construir em áreas proibitivamente caras.
Esta é a segunda incursão do fundador da AST no mundo dos satélites e é mais um passo em sua longa história no setor de comunicações. Depois de se formar na Venezuela, sua terra natal, ele se mudou para a Suécia e ingressou na gigante das telecomunicações, Ericsson, como engenheiro. Alguns anos depois, em 1999, fundou a empresa de comunicações via satélite Emerging Markets Communications, que fornece dados de alta largura de banda para aplicativos de vídeo e outras comunicações. Ele vendeu a EMC em 2016 para a empresa de telecomunicações Global Eagle por US$ 550 milhões.
Recém-saído dessa venda, fundou a AST. Sua abordagem reflete sua formação em engenharia –ele cocriou várias das principais tecnologias que a empresa está usando em seus satélites. “Ele é um tecnólogo muito talentoso”, diz o analista de espaço comercial Chris Quilty.
Prestadores de serviços móveis e empresas de comércio eletrônico estão prestando atenção, e é por isso que companhias como Samsung NEXT, American Tower, Rakuten e Vodafone acima mencionadas estão entre os que estão investindo no assunto. “Acreditamos que a SpaceMobile está em uma posição única para fornecer cobertura móvel universal, melhorando ainda mais nossa rede líder na Europa e na África –especialmente em áreas rurais ou durante um desastre natural e humanitário”, disse Nick Read, CEO da Vodafone em declaração oficial.
“Não será uma tarefa fácil”, diz Quilty, pois a empresa está buscando algo que nunca havia sido tentado antes. Ele inclusive revela a importância do apoio dos investidores: se a empresa conseguir desenvolver e operar com sucesso sua tecnologia e tiver capital disponível para isso, poderá alcançar um mercado muito grande.
Isso faz parte da visão de Avellan. Trabalhar com redes móveis existentes para ampliar seu alcance, diminuir o custo de obtenção de novos clientes e fornecer serviços extras para clientes premium. Isso tem um impacto significativo para pessoas capazes de acessar a internet em locais onde não podiam antes, porque não era economicamente viável alcançá-los.
“Estamos criando uma nova oportunidade de mercado para os sistemas existentes”, diz Avellan. “Permitindo que eles monetizem seus telefones em lugares onde ninguém mais pode.”
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