Na semana passada, o governador de São Paulo, João Doria, recomendou que as academias da capital e da Grande São Paulo ficassem fechadas até 30 de abril, como forma de tentar conter a disseminação do novo coronavírus. No último sábado (21), o político anunciou uma medida ainda mais decisiva: o início da quarentena no Estado por 15 dias a partir de ontem (24), com fechamento obrigatório de todos os estabelecimentos comerciais e de serviços não essenciais.
Sem o direito de funcionar de forma física, grupos proprietários de academias discutem as formas mais adequadas para que o atendimento ao público continue de forma online. Flávio Settanni é diretor técnico da Sett Academia, forte no mercado premium desde 2010 e autodenominada como a “primeira a oferecer o verdadeiro atendimento personalizado e individual no segmento”.
Mas sem personal trainers e equipamentos, como essa tendência de prática de exercícios à distância pode se concretizar? Para Settanni, a opção foi criar um aplicativo que disponibiliza treinos para pessoas que possuem aparelhos em casa e uma versão específica para aqueles que não têm essa estrutura à disposição. “O cliente avisa o que tem disponível; tapete, pesos, esteira, e nós adaptamos”, diz. O diretor explica que o atendimento online contempla uma parte escrita, com as orientações dos exercícios, e um direcionamento para vídeos no YouTube, já que seus funcionários não conseguiriam gravar com qualidade durante a quarentena.
O aplicativo Sett já está no ar e os treinos individuais começaram a ser estruturados na segunda-feira (23). Settanni destaca, porém, que o foco do sistema é atender aos seus clientes. “Nós temos a ficha de cada um deles com os exames e avaliações corporais, sabemos do que elas precisam. Esse é o tipo de coisa que não dá pra fazer virtualmente. Nossa meta é não deixá-los na mão.”
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Para ele, essa é uma responsabilidade que vai muito além do lado estético. “As pessoas estão proibidas de se exercitar em academias, parques e clubes, mas muitas precisam disso para controle arterial, glicemia, pós-cirúrgico, recuperação de procedimentos ortopédicos e doenças psicológicas. São enfermidades muito sérias para serem negligenciadas por um longo tempo, as pessoas têm que continuar como podem, ainda mais agora, com essa tensão. Eu tenho certeza que se medíssemos nossa pressão agora e a comparássemos com a da semana passada, notaríamos um aumento”, destaca.
Com aproximadamente 600 alunos, a Sett Academia tenta não perder seu caráter premium e personalizado em meio à crise. “Nós oferecemos algo sofisticado: personal trainer com hora marcada, manobrista, água mineral, toalha de banho, frutas secas”, revela o executivo. Sem as regalias do presencial, Settanni acredita que entre 15% e 20% dos clientes vão utilizar o aplicativo por terem uma facilidade maior de estrutura e disposição. De forma realista, ele acredita que 50% de seus alunos vão demonstrar interesse pela novidade, mas nem todos vão seguir adiante. “Alguns simplesmente não vão fazer nada e vão colocar a culpa no vírus pelo sedentarismo”, brinca.
Sobre receita, ele explica que o atendimento online está incluso nos planos mensais, que estão ativos, porém bloqueados. “Não podemos interromper agora o fluxo de pagamentos, muitas despesas continuam, mas trancamos as matrículas, ou seja, todo o tempo parado vai ser acrescentado ao plano do cliente quando tudo voltar ao normal.”
Com o fechamento do comércio de modo geral e a diminuição dos ganhos gerados por novos clientes, Settani diz ter previsões otimistas, realistas e caóticas. “Meu otimismo indica uma reabertura em 5 de abril. A realista aponta por uma extensão da quarentena por mais ou menos um mês, abrindo logo após o feriado de Tiradentes, em 21 de abril. Prorrogar isso ainda mais, sem previsão de volta, seria o caos”. Para ele, esse último cenário provocará um desastre econômico pós-vírus que exigirá o fechamento do negócio e um provável recomeço do zero. “Essa situação pode levar muitos negócios para a UTI.”
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