Com uma placa em mãos que diz “Ei, moça! Finja que vai fazer compra no app Magalu. Lá tem um botão para denunciar a violência contra a mulher”, a Lu, influenciadora digital 3D da rede varejista, apresentou, na semana passada, a ferramenta aos mais de 3 milhões de seguidores da marca no Instagram. Criada em 8 de março de 2019, Dia Internacional da Mulher, parece que, até agora, a iniciativa não tinha sido notada. Talvez tenha sido apenas uma questão de timing.
Com diversas republicações, comentários e compartilhamentos nos últimos dias, a ação viralizou. Para Ana Herzog, gerente de reputação da marca, um dos motivos deve ter sido justamente o momento que estamos vivendo. Segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, as denúncias de feminicídio aumentaram 36% no mês de abril em comparação com o mesmo período de 2019. “Várias pesquisas mostram o aumento da violência doméstica com o isolamento social. É um tema que está na cabeça das pessoas”, explica.
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A ferramenta não ganhou apenas notoriedade. Seu uso reflete bem a nova realidade: um incremento de 400% no uso em relação ao mês anterior e ao mesmo mês do ano passado, segundo a executiva.
Pedro Alvim, gerente de mídias sociais da Magalu, revela que o local de maior viralização do post, o Instagram, tem um público 80% feminino. “A partir do momento que você fala de um assunto pertinente, que tem relevância para aquela audiência, naturalmente as pessoas compartilham sobre o tema. Eu acho que nós já temos um histórico nessa luta e criamos uma identificação com a marca e com a nossa imagem.”
A própria Lu, assistente virtual, é uma grande representante do movimento de combate à violência contra a mulher. Alvim conta que desde a primeira campanha da empresa sobre o assunto, ela foi a porta-voz, e isso também tem um peso enorme para a repercussão. “A Lu é uma personagem que tem um storytelling por trás. A campanha de estreia do tema trouxe, pela primeira vez, uma Lu séria, que já sofreu assédio e teve que se posicionar sobre isso.”
O executivo explica, ainda, que “a construção de uma comunidade ao redor da personagem é transversal não só às causas, mas também aos objetivos da marca, ao posicionamento”. “A gente entende que ela tem esse papel de ajudar a potencializar histórias e conversas que são relevantes para o contexto e o ambiente em que estamos.”
Mas, assim como tudo que repercute nas redes, nem todos os comentários sobre a ferramenta foram positivos. Ana explica que o botão antigo permitia um contato direto com o Ligue 180. “Essa ferramenta estava dentro do app normal. Você entrava no sua conta e ali tinha um ‘denuncie a violência contra a mulher’. A partir dessa tela, a usuária seguia para uma página que falava sobre a importância do canal de denúncias e, dali, ela podia ser direcionada para o Ligue 180.”
Algumas pessoas criticaram o fluxo, dizendo que a vítima era obrigada a fazer uma ligação telefônica de qualquer forma – ação difícil quando se está no mesmo ambiente do agressor. Porém, o que ninguém sabia, é que uma atualização da ferramenta estava a caminho e, neste momento, está em fase de testes.
O QUE MUDA
Alvim explica que, primeiro, é preciso explicar a diferença entre os canais 180 e 190. “O 180 não é a solução para todos os problemas, mas um canal de informação, orientação, inclusive jurídica, e denúncia não emergencial.” Ana acrescenta que, no caso de violência flagrante, a mulher precisa ligar para o 190 – serviço que pode enviar uma viatura para o local da ocorrência.
Então, diz a executiva, a ferramenta continua sendo uma ponte para o 180, canal de informação, onde a mulher pode usar o telefone caso se sinta segura, e obter esclarecimentos sobre seus direitos. Porém, a mudança conta com um novo direcionamento para o chat do Ministério dos Direitos Humanos e para a chamada emergencial do 190.
“A gente deixou mais claro a diferença de cada canal, mudou a interface e mimetizou a imagem de um carrinho de compras como caminho para a denúncia, então tem uma mudança no layout bem significativa”, reforça Ana.
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Alvim refuta as críticas sobre a necessidade de fazer chamadas telefônicas para fazer denúncias pelo aplicativo. “Ainda não há uma forma de fazer um chamado emergencial online. Hoje, as autoridades ainda preferem divulgar o 190, por isso achamos que nosso papel como marca é fortalecer os canais existentes e dar visibilidade à causa. Existe um papel social de educação da sociedade sobre cada um desses canais, quando acioná-los e como eles podem ajudar no combate à violência contra a mulher.”
Para os representantes da marca, é importante ressaltar o fato de a empresa só ter domínio da ferramenta até certo ponto. A partir do contato com os meios de denúncia, “você sai do ambiente Magalu”, explica Ana. “Todo mundo gostaria que tivesse uma solução mágica para o combate à violência. Por isso, essa certamente não será a última atualização.”
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