Para atender às demandas de transformação digital de grandes corporações e da sociedade, a organização Das Pretas, de Vitória, avança com um laboratório de projetos e iniciativas que tocaram mais de 100 mil pessoas desde sua fundação, em 2015.
Liderada pela advogada Priscila Gama, a organização é dirigida por mulheres e emprega somente pessoas negras e periféricas. Especializada em tecnologia social, a Das Pretas busca caminhos digitais para endereçar as necessidades de seus clientes, que incluem empresas como EDP, Águia Branca, Arcelor Mittal e Vale, com foco no legado positivo que essas iniciativas trazem para as pessoas impactadas na ponta.
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Considerando o contexto atual, em que empresas enfrentam desafios para encontrar formas inclusivas de se adaptar a uma realidade hiperdigital, a ativista afirma que sua startup faz isso desde sua gênese: “Pessoas pretas escutam a vida toda que é necessário estudar e trabalhar para garantir o futuro, e muitas vezes esse futuro nunca vem. A Das Pretas tem fome de viver o futuro no presente, de construir possibilidades.”
Para além de simplesmente incluir pessoas negras no desenho e na realização de projetos, Priscila quer sofisticar o debate sobre as nuances da inovação. “Sinto que as empresas, de forma geral, estão preocupadas em construir a inclusão, mas de uma forma muito rasa e limitada. Não se fala em camadas mais densas, como o pertencimento, respeito e a permanência dessas pessoas na empresa. Esses três fatores são o que gera a inovação de forma dinâmica, ágil e perene.”
Outros aspectos incluem um olhar diferenciado para a coleta e utilização de dados, bem como o desenvolvimento de algoritmos. “O que muitos não percebem é que a tecnologia, a automação, o desenvolvimento matemático de modelos fazem parte da ancestralidade do nosso povo – então é natural que busquemos atualizar e amplificar esses diálogos, que residem em nosso DNA, na diáspora contemporânea,” ressalta a empreendedora, acrescentando que o trabalho nesse âmbito é feito de forma a não violentar a população negra.
“Os algoritmos estão em tudo: na saúde, na educação, na segurança, na política. Embora estejamos falando sobre isso de forma superficial, a discussão sobre algoritmos racistas é muito mais sobre decidir quem vive e quem morre, quem tem direito e quem tem a sentença, do que quem tem engajamento em uma plataforma ou não.”
Os projetos comerciais e as parcerias institucionais garantem a sustentabilidade do Das Pretas, bem como o desenvolvimento de múltiplas iniciativas de cunho social. Isso inclui o festival anual Encontro das Pretas, que acontece em Vitória e foi realizado online pela primeira vez em novembro, o Afetiva, programa de aceleração de empreendedoras negras com patrocínio do Consulado dos Estados Unidos que começa em dezembro, uma escola de tecnologia para negros e o Fortalece, marketplace que Priscila descreve como o “Rappi da periferia” e para o qual busca apoio. “É um projeto de rearranjo econômico no Brasil profundo. Existe um gap e falhas consideráveis quando falamos da atuação dos aplicativos de delivery tradicionais na periferia.”
Priscila prevê que a real mudança virá com a compreensão de líderes sobre a necessidade de um debate mais aprofundado: “O investimento em tecnologia para a redução da desigualdade é urgente. Se as empresas querem causar mudanças na questão racial, precisam cocriar com pessoas que dançam essa música. Essa transformação não vai existir sem nós”.
Reportagem publicada na edição 82, lançada em dezembro de 2020
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