O vinho de mesa Pérgola conquistou os brasileiros e, pelo décimo ano consecutivo, é o vinho mais vendido do Brasil. De acordo com a pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), é a primeira vez que um vinho alcança o marco de 10 anos consecutivos como o mais vendido.
João Zanotto, diretor da Vinícola Campestre, afirma que o sucesso da marca gaúcha é resultado de uma estratégia de mais de 30 anos focada na qualidade do produto e na constância. “No mercado de vinho, não dá para ter pressa, tem que pensar para daqui a 15 e 20 anos”, disse Zanotto. “Quando construímos a marca, desejamos fazer o melhor vinho de mesa do Brasil. Foi um processo lento de avaliar a qualidade das uvas junto aos produtores e de implementar tecnologias no processo”.
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Os vinhos de mesa são aqueles feitos com muitas espécies de uvas que também podem ser consumidas in natura, como a cataúba ou niágara, por exemplo. As uvas de mesa geralmente têm uma concentração maior de açúcar, resultando em uma bebida menos alcoólica e mais doce. Já os vinhos finos vêm de uvas viníferas ou uvas europeias, como Chardonnay, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Tempranillo, entre outras. São uvas de casca mais grossa, com mais substâncias como taninos e polifenóis, o que resulta em vinhos mais densos e secos.
O passo de formiguinha do Pérgola, como foi citado por Zanotto em entrevista à Forbes, levou a marca a ser responsável por 20% das vendas dos vinhos nacionais no Brasil. O destaque da companhia acontece em um mercado com grande potencial de crescimento, fazendo o movimento contrário aos tradicionais países consumidores da bebida.
O relatório “State of the World Vine and Wine Sector in 2023” (Situação do setor vitivinícola mundial em 2023), elaborado pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), apontou que o consumo global da bebida caiu 2,6% em comparação a 2022. Nem mesmo os países onde o vinho faz parte do dia a dia escaparam da queda, que chegou a 6,2% na Argentina e a 9,2% em Portugal, embora em termos de consumo per capita ele continue alto em ambos. Respectivamente, cerca de 30 litros e 50 litros. No Brasil, o consumo aumentou 11,6% entre 2022 e 2023, o que mostra um mercado potencial, mas per capita ainda não chega aos 3 litros/ano. Por não ser uma bebida tipicamente cultural, apenas 36% da população brasileira consome vinho.
Nessa realidade, o Pérgola apostou na educação do paladar do brasileiro. Desde o início, a empresa investiu em degustações gratuitas no mercado para conquistar e fidelizar o cliente. “Nós queríamos que as pessoas experimentassem, e essa foi a nossa tática de venda”, disse Zanotto.
Para se destacar dos concorrentes, a empresa aposta na qualidade dos produtos. Ao todo, são 800 famílias produtoras pequenas de uva no Rio Grande do Sul e mais de 10 enólogos que avaliam a safra. O tratamento do vinho de mesa é igual ao de vinho fino, e a política da companhia consiste em engarrafar apenas aqueles que passam no teste de qualidade.
André Donatti, enólogo-chefe, afirma que se o vinho não tiver qualidade, ele não será enviado aos mercados. “Já tivemos um mês em que decidimos não vender o produto porque não estava atingindo a qualidade que esperávamos”. Além disso, o vinho Pérgola conta com garantia: se o cliente não gostar, a empresa troca a bebida em até 48 horas em todo o Brasil.
No ano passado, foram comercializadas 40 milhões de garrafas do Pérgola, e neste ano a projeção é de um faturamento de R$ 400 milhões, um crescimento de 5% em comparação anual. O foco da companhia é se manter na liderança e investir em novos mercados.
O diretor explica que a empresa já exporta para os Estados Unidos, mas pretende ampliar a estratégia de conquistar e fidelizar os brasileiros para que os americanos também iniciem o consumo de vinho brasileiro.
A empresa também está de olho nos países asiáticos e africanos, que são apontados como o futuro da exportação de vinho. “Em toda a África, China e Índia são países que têm um paladar, uma tipicidade muito parecida com a do brasileiro. Além disso, a projeção da população é de crescimento, diferente de países tradicionais do vinho, como os europeus”.
Atualmente, a empresa exporta vinho para os EUA, Nigéria, Guiana Francesa, Suriname e outros países da América do Sul.