O conhecimento e o interesse por uma alimentação orgânica realmente já caiu no gosto dos consumidores. Segundo relatório global da Agronomic Consulting (2016), são dois os principais motivos: aumento da demanda por produtos mais saudáveis e conservação do meio ambiente.
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Os EUA são o maior mercado consumidor de orgânicos do mundo, mas o Brasil não fica muito atrás. Não é mais surpresa encontrar gôndolas nos supermercados brasileiros voltadas apenas para alimentos do tipo ou até mesmo lojas especializadas. E este mercado interno também está aquecido: segundo o Ministério da Agricultura, o crescimento anual da agricultura orgânica é de 30% e o faturamento ultrapassa os R$ 2,5 bilhões por ano – atualmente são cerca de 11.500 propriedades dedicadas ao cultivo.
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Agora que estes produtos já estão nos pratos, empreendedores e varejistas passaram a olhar também para os copos: já estão sendo lançadas marcas de bebidas e oferecidos drinques orgânicos.
Mas, em primeiro lugar, é preciso entender o que são as bebidas orgânicas: elas são produzidas a partir de matéria-prima orgânica, ou seja, aquela que não traz em seu cultivo nenhum químico, pesticida ou agrotóxico – o combate às pragas é feito com métodos alternativos e naturais. Normalmente, as plantações também são mais sustentáveis. “O fator orgânico, no entanto, não implica necessariamente em qualidade superior à de uma bebida convencional”, explica Marcelo Rosa, proprietário do Bistrô da Enoteca, falando especificamente sobre os vinhos.
No Bistrot da Enoteca, o interesse e aceitação pelos vinhos orgânicos já é uma realidade – principalmente pelo termo já ser bastante conhecido. E a confiabilidade também é importante: Rosa explica que há um selo que certifica os vinhos orgânicos colado nos rótulos que “passaram no teste”. Outros dois estabelecimentos de vinhos, o Vino! e o Extâsia, dos sócios Raphael Zanette e Flávio Miyamura, também reafirmam o ponto levantado por Rosa: de que o público já aceita bem, pede e se interessa em saber mais sobre os vinhos orgânicos.
O produtor de vinhos orgânicos Ariel Kogan, proprietário da marca Regeneración, investiu no segmento principalmente por pensar na segurança da saúde do consumidor e em como gerar menos impacto ambiental. Sua plantação está localizada em Mendoza, na Argentina, e, como conta o proprietário, “não há pretensão de produzir uma grande quantidade, mas sim um produto de qualidade superior, onde apenas a melhor parcela das uvas são utilizadas”. Mas por trás do vinho 100% orgânico há outra iniciativa sustentável interessante: cada garrafa vendida tem parte de seu valor revertida para a Fundação Tikun, empenhada na regeneração da biodiversidade das regiões de Mendoza e San Juan.
A variedade de bebidas orgânicas não se limita apenas aos vinhos, muito pelo contrário. O gin Vitória Régia, desenvolvido pelo Grupo Carmosina (o mesmo produtor da cachaça Yaguara), foi, em 2017, o primeiro gin orgânico brasileiro a ser lançado. O álcool utilizado é produzido a partir de cana de açúcar orgânica, e de seus cinco botânicos (depois da destilação todos os gins passam por processos de infusão), quatro são orgânicos – zimbro, semente de coentro, cardamomo e limão (a pimenta Jamaica a única que não se enquadra no padrão orgânico). Segundo o porta voz da marca, “o selo de orgânico só é atribuído a quem tem 97% da bebida orgânica – caso do nosso produto”.
Entre as cervejas, há a SteinHaus, sediada no Rio Grande do Sul, uma pequena produtora de bebidas que utiliza como matéria-prima apenas grãos de produção orgânica, cultivados por agricultores familiares da Serra Gaúcha. Na agricultura agroecológica os princípios da natureza são lei – a maior parte das propriedades produtoras não passa por muitas interferências, apenas para corrigir possíveis desequilíbrios no ecossistema, o que resulta em produtos bem originais.