No mundo dos videogames profissionais, vencer não é tudo. O fenômeno do “Fortnite”, Tyler “Ninja” Blevins, ganhou US$ 17 milhões no ano passado, o suficiente para ficar em primeiro lugar no ranking inaugural da Forbes de gamers mais bem pagos, mas o jogador de 28 anos ganhou menos de US$ 100 mil em competições. De fato, Ninja não se classificou para a primeira Copa do Mundo de “Fortnite”, realizada no estádio Arthur Ashe, em Nova York, em julho de 2019, nem ganhou o grande prêmio de US$ 3 milhões (dinheiro ganho por Kyle “Bugha” Giersdorf, um adolescente de 16 anos da Pensilvânia).
Isso ocorre porque os jogadores que faturam mais alto são mais influenciadores do que atletas renomados. Eles adquirem milhões ao aproveitar sua enorme quantidade de seguidores nas redes sociais para fazer colaborações e conseguir patrocínios e trabalhos pagos. Ninja tem 2,8 milhões de usuários que o acompanham no Mixer, a nascente plataforma de jogos da Microsoft, que gastará um valor estimado pela Forbes de US$ 30 milhões em três anos depois de atraí-lo da arqui-rival Twitch em agosto passado. O jogador de cabelos azuis tem 22,7 milhões de inscritos no YouTube e 14,9 milhões no Instagram. Nenhum deles fez parte da lista apenas por competir profissionalmente.
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O próximo passo? Celebridade mainstream. Ninja, que é jogador profissional de uma forma ou de outra desde que começou com o Halo 3 em 2009, está bem encaminhado. Seu rosto adornou latas de refrigerante devido a um acordo com a Red Bull e ele tem uma collab de com a Adidas. No ano passado, apareceu no “The Tonight Show”, apresentado por Jimmy Fallon, no “Daily Show”, com Trevor Noah; e atuou como vocalista convidado no “The Masked Singer”, da Fox. Artigos do gamer, desde uma graphic novel até bandana exclusiva, podem ser comprados no Walmart e na Target.
Ninja é apenas uma das centenas de personalidades da internet que lucram com a crescente influência da cultura de streaming e jogos a qual impulsiona marcas como Monster Energy, Postmates e State Farm a pagarem altos preços para alcançar os millenials. A eMarketer, por exemplo, estima que patrocínios e gastos com publicidade em games somaram US$ 3,3 bilhões em 2019.
Os maiores streamers reforçam essa receita coletando recursos diretamente de seus seguidores, que podem “dar gorjeta” a eles por meio de pagamentos únicos diretos ou assinatura premium que os jogadores dividem com plataformas como Twitch e Mixer. Em seu auge, Blevins ganhava mais de US$ 500 mil por mês, dividindo a taxa premium de US$ 4,99 paga pelos fãs com a Twitch.
Três meses após Ninja assinar com a Mixer, Michael “Shroud” Grzesiek, ex-profissional de “Counter-Strike: Global Offensive” que se aposentou em 2018 aos 23 anos (nº5 na lista, com US$ 12,5 milhões), seguiu-o. Ambos os jogadores estavam aproveitando o desespero da Microsoft em dar relevância a plataforma, que fica atrás de Facebook, YouTube e Twitch nas horas totais de jogo assistidas, de acordo com a StreamElements, fabricante de ferramentas de streaming de Palo Alto, e a analista de dados Arsenal.gg, de Chicago.
Jogar profissionalmente ainda é uma selva. Não existe uma agência governamental que supervisione a decência nos sites de streaming, e as personalidades mais conhecidas nem sempre estão vendendo o material mais importante.
Felix “PewDiePie” Kjellberg (nº2, com US$ 15 milhões) perdeu parcerias por causa de vídeos antissemitas e racistas. Seu público, entretanto, permaneceu ao lado do jogador sueco, visto que ele ainda tem o canal com maior número de inscritos do YouTube. O próprio Blevins se envolveu em polêmica depois de dizer em agosto de 2018 que não conversaria com mulheres por conta de rumores de relacionamento que poderiam surgir.
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Controvérsias à parte, é um momento oportuno para lucrar. O anúncio da Mixer sobre o acordo com Ninja soou como um evento de imprensa de free agency (momento em que jogadores da NBA sem contrato ficam livres para ir para outra equipe) das maiores ligas e desencadeou uma cara caça aos talentos, o que foi uma jogada inteligente. Blevins tinha cerca de 250 mil assinantes premium em março de 2018 e um ano depois esse número caiu para cerca de 20 mil, de acordo com o TwitchTracker. Desde então, plataformas como Facebook, YouTube e Caffeine vêm contratando mais jogadores para promoções exclusivas, como Jeremy “Disguised Toast” Wang, Jack “CouRage” Dunlop e Rachell “Valkyrae” Hofstetter.
A Forbes estima que a Mixer pagará a Grzesiek US$ 20 milhões em três anos, embora seus 7 milhões de seguidores da Twitch tenham se traduzido em menos de um milhão na plataforma nascente. Além disso, as empresas de jogos eletrônicos Electronic Arts e Activision Blizzard, pagam a Grzesiek para jogar seus games no stream. O próprio Blevins está participando da ação “pay-to-play”, de modo a receber US$ 1 milhão em fevereiro por se entreter algumas horas com o concorrente Fortnite Apex Legends.
Veja abaixo quem são os gamers mais bem pagos do mundo:
1. Ninja (Tyler Blevins)
Receita: US$ 17 milhões
O jogador número 1 estava em todos os lugares em 2019, desde latas da Red Bull em supermercados, roupas de cama no Walmart e comerciais da NFL. Embora sua audiência tenha caído, sua influência não foi afetada com patrocínio de Adidas, Red Bull e da designer de roupas íntimas PSD. Seu acordo de exclusividade com a Microsoft está ajudando a reformular o cenário da transmissão ao vivo e os bons tempos parecem continuar. Neste mês, a Epic Games, fabricante do “Fortnite”, lançou um avatar Ninja que os fãs podem escolher para jogar.
2. PewDiePie (Felix Kjellberg)
Receita: US$ 15 milhões
O YouTuber número 1 do mundo, Felix Kjellberg, anunciou que fará uma pausa na área após outro ano tumultuado. Em setembro passado, ele prometeu US$ 50 mil à Anti-Defamation League, uma ONG judaica internacional com sede nos Estados Unidos, para “deixar passar” suas controvérsias antissemitas. De repente, porém, ele cancelou a doação após um clamor de sua base de fãs. Kjellberg continua popular como sempre: em 2019, bateu 4,5 bilhões de visualizações.
3. Preston (Preston Arsement)
Receita: US$ 4 milhões
Preston, um gamer popular de “Minecraft” e vlogger, também levanta mais de US$ 1 milhão anualmente, ao jogar versões personalizadas com despesas no jogo.
4. Markiplier (Mark Fischbach)
Receita: US$ 14 milhões
Ele construiu sua audiência com reações exageradas e engraçadas a videogames de terror, como “Amnesia: The Dark Descent”, e lançou um filme interativo original do YouTube no dia 30 de outubro de 2019, chamado “A Heist with Markiplier” (“Um Assalto com Markiplier”, em tradução livre).
5. Shroud (Michael Grzesiek)
Receita: US$ 12,5 milhões
Não estar atrelado a um jogo fez de Michael Grzesiek o favorito de grandes empresas do setor como Electronic Arts, Ubisoft e Activision Blizzard. O ex-profissional também tem uma extensa linha de roupas com a marca de games Jinx.
6. DanTDM (Daniel Middleton)
Receita: US$ 12 milhões
Daniel Middleton é uma sensação mundial devido aos seus populares vídeos de “Minecraft”, que arrebanham 22,4 milhões de inscritos. Em 2019, ele saiu em turnê para uma experiência interativa de cinema chamada “The Contest”.
7. VanossGaming (Evan Fong)
Receita: US$ 11,5 milhões
As esquetes cômicas de Fong atraíram 24,9 milhões de inscritos e tiveram 1,6 bilhão de visualizações no YouTube em 2019. Ele é famoso há algum tempo, de modo a estrelar na mesma plataforma como um caçador de monstros em “Paranormal Action Squad”, uma série de desenhos animados premium de 2016.
8. Jacksepticeye (Sean McLoughlin)
Receita: US$ 11 milhões
Com 23,2 milhões de inscritos, McLoughlin é o youtuber mais popular da Irlanda e posta vídeos praticando uma variedade de jogos. No final de 2018, ele criou uma marca de roupas com o colega jogador do YouTube, Mark “Markiplier” Fischbach.
9. TimTheTatman (Timothy Betar)
Receita: US$ 8 milhões
Os streams cômicos e agradáveis de “Fortnite” de Timothy Betar fizeram dele um favorito das marcas, de Reese’s a Bud Light. Ele também transmite e é comentarista dos jogos noturnos de futebol americano da NFL na Twitch. No final do ano, assinou um contrato exclusivo de streaming com a plataforma.
10. Nickmercs (Nick Kolcheff)
Receita: US$ 6 milhões
Nick Kolcheff deixou sua marca ao jogar “Fortnite” com um controle, que é considerado mais desafiador do que usar teclado e mouse. Isso o ajudou a se tornar o décimo streamer mais assistido de 2019, de acordo com a StreamElements e s Arsenal.gg. Ao tomar conhecimento disso, a Twitch assinou com ele um contrato de exclusividade de dois anos, estimado em US$ 2 milhões.
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