Um trilhão de dólares por ano. Essa é a estimativa de perdas para a economia global com a queda de produtividade dos trabalhadores por causa da depressão e da ansiedade, segundo a Organização Mundial da Saúde. Ainda segundo a entidade, 300 milhões de pessoas têm depressão em todo o mundo.
E o Brasil contribui, e muito, para essa conta. Dados da instituição revelam que 9,3% dos brasileiros – em média 12 milhões – têm algum distúrbio relacionado à ansiedade. O índice, que coloca o país como o mais afetado do mundo, é alarmante e certamente aumentou em 2020, com a crise provocada pela pandemia de Covid-19.
Para piorar esse cenário, a OMS também identificou uma defasagem crônica no atendimento a pacientes afetados pela doença em todo o mundo durante os meses de isolamento social. Dos 130 países pesquisados entre junho e agosto deste ano, 93% deles interromperam os serviços destinados a combater os males que afetam a saúde mental, sendo que 60% relataram interrupção generalizada e 35% também interromperam os atendimentos de emergência.
“O estigma existente no país sobre saúde mental piora o quadro consideravelmente. Além disso, falta acurácia no diagnóstico e os tratamentos carecem de abordagem sociais, psicológicas, esportivas e farmacológicas”, explica o médico psiquiatra Arthur Guerra que, entre várias outras funções, é professor titular de psicologia médica e psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC, coordenador do Programa Redenção da Prefeitura Municipal de São Paulo e sócio da Caliandra, empresa que tem como objetivo tratar a saúde mental por meio do cuidado integrado e individualizado, a partir de uma abordagem humanizada e interdisciplinar.
O PESO DO TRABALHO
Uma pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Robert Half no ano passado em 13 países revelou que os profissionais brasileiros são os mais estressados do mundo. De acordo com o levantamento, 52% dos entrevistados por aqui reclamaram da alta carga de trabalho e 44% alegaram que não são reconhecidos por seus esforços. Os transtornos mais identificados foram ansiedade generalizada, pânico, transtorno obsessivo compulsivo, estresse pós-traumático, fobia social e fobias específicas. Este ano, com a pandemia, o cenário piorou. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) nos meses de maio, junho e julho, 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa nesse período de isolamento social.
Segundo o Dr. Arthur Guerra, o ambiente corporativo reflete, de forma bastante genuína, o que acontece na sociedade. “Nas empresas nós também vamos encontrar quadros de ansiedade, de depressão, sem diagnósticos certeiros e tratamentos bem definidos. As pessoas adoecem e não buscam tratamento, o que acaba tornando as abordagens de prevenção, educação e formação muito mais frágeis nessas circunstâncias”, explica.
A situação exposta pelos institutos de pesquisa, instituições e profissionais de saúde deixa claro que não dá para ficar de braços cruzados. É preciso fazer alguma coisa. E logo.
Algumas iniciativas corporativas têm ganhado destaque nesta seara. Um bom exemplo é o Movimento Falar Inspira Vida, liderado pela Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, com o objetivo de requalificar, por meio do conhecimento, a conversa sobre depressão, criando um ambiente mais favorável para quem precisa de acolhimento e ajuda especializada. “A ideia é promover uma mudança no tom da conversa sobre o tema. A partir do entendimento correto sobre a doença, a sociedade estará mais preparada para interagir com pessoas que podem estar enfrentando a depressão”, diz o médico psiquiatra Dr. Sergio Perocco, responsável pela área de neurociência da Janssen Brasil. Ou seja, combater justamente aquilo que o Dr. Guerra aponta como uma das principais causas do turbilhão no qual nos encontramos atualmente: o estigma.
O movimento criou, por exemplo, um guia com sugestões sobre como mudar a forma de falar sobre depressão, acolhendo quem mais precisa de ajuda e estimulando a busca por orientação médica. “Percebi que você não está bem hoje e quero ajudar” ou “você pode não acreditar, mas isso que você está sentindo vai passar” são algumas dicas para implementar uma comunicação mais empática. “Praticar a escuta, conversar e se colocar à disposição são iniciativas que fazem uma diferença imensa para as pessoas que estão vivendo crises de ansiedade ou que estão prestes a passar por isso”, diz o Dr. Sergio.
Arthur Guerra lembra que as pessoas passam boa parte do seu dia conectadas ao seu trabalho, independentemente de estar atuando de forma remota ou presencial. “Muitas vezes, quem identifica quadros desse tipo são os supervisores, os líderes, os chefes imediatos. São eles que percebem o sofrimento do colaborador em função da piora no rendimento, do aumento no número de faltas e da irritabilidade”, explica. Por isso, iniciativas como o Movimento Falar Inspira Vida são tão importantes. À medida que mais pessoas estiverem preparadas para lidar com o tema, mais rápido virá a ajuda e, consequentemente, menor será o impacto em milhões de vidas.
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