Resumo da matéria:
- Magic Johson renunciou à presidência do Los Angeles Lakers sem aviso prévio. O atleta disse lamentar não poder ser quem é enquanto preside o time de basquete;
- Estudo diz que precisar esconder emoções no ambiente de trabalho pode levar à infelicidade;
- 51% dos participantes da pesquisa disseram que frequentemente ou sempre precisam fingir sentimentos no trabalho. Grupo está mais propenso à fadiga e explosões temperamentais;
- Pessoas que não precisam fingir o que sentem têm 32% mais chances de amar o que fazem;
- Pesquisa mostra que inteligência emocional está correlacionada ao desempenho profissional;
- É preciso levar em conta o trabalho emocional exigido em uma função antes de aceitar uma oferta de emprego.
Como você provavelmente sabe, Magic Johnson chocou o mundo dos esportes na noite de ontem (9) quando, abruptamente e sem aviso prévio, renunciou ao cargo de presidente do Los Angeles Lakers.
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Em uma coletiva de imprensa claramente não roteirizada, o ex-atleta lamentou que não pudesse ser ele mesmo no cargo de presidente dos Lakers ao dizer: “Quero voltar a me divertir, a ser quem eu era antes de aceitar esse trabalho”. E continuou: “As punições, interferências, eu não posso ajudar os jovens que querem ajuda, tampouco posso colocar isso para fora… Não pude nem fazer um tuíte de parabéns para Russell Westbrook por sua grande conquista porque, se tivesse feito isso, todo mundo diria que ele está me influenciando. Eu não gosto disso. Eu gosto de ser livre”.
Ninguém jamais conhecerá as pressões ou prazeres de ser presidente do Los Angeles Lakers. Mas fica difícil imaginar alguém que não sinta empatia pela lenda do basquete. É muito doloroso sentirmos que não podemos ser nós mesmos e termos que fingir as emoções no ambiente de trabalho.
Quando Johnson diz que quer voltar a ser quem era antes de assumir a função, ele está dizendo uma coisa que a maioria de nós, senão todos, sentimos em algum momento da nossa vida profissional. E a dor de ter que esconder nossas emoções, de não ser realmente capaz de assumir nossa personalidade, é real e apoiada por dados.
Conduzi um estudo que batizei de “Se Você Precisa Fingir suas Emoções no Trabalho, Você Provavelmente Vai Ser Infeliz”. Para isso, mais de 5 mil pessoas responderam à seguinte pergunta: “Seu trabalho demanda muita ou pouca inteligência?”. Também pedimos que elas classificassem a afirmação: “Eu tenho que conscientemente ‘atuar’ ou ‘armar um circo’ para exibir emoções apropriadas no trabalho” com as alternativas “sempre”, “frequentemente”, “raramente” ou “nunca”.
Os resultados mostraram que 51% dos participantes disseram “sempre” ou “frequentemente” precisar “atuar” ou “armar um circo” no ambiente de trabalho. De imediato, é possível perceber que elas estão investindo muita energia para forçar um sorriso, transmitir falsa empatia ou positividade no trabalho. E com o tempo, isso pode causar fadiga e explosões temperamentais.
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Em seguida, fizemos uma descoberta ainda maior: dos 51% que afirmaram “fingir”, 32% são menos propensos a gostarem dos seus trabalhos. Ou, em outras palavras, se você não tem que fingir suas emoções no trabalho, tem 32% mais chances de amar seu emprego.
Além disso, também é muito menos provável que você tenha sentimentos negativos em relação ao seu trabalho. Quem não precisa viver em constante “atuação” tem 59% menos chances de não gostar ou odiar seu emprego.
Pode ser extremamente cansativo viver essa farsa profissional. Magic Johnson conversou com Rachel Nichols, da ESPN, imediatamente após a coletiva de imprensa. A jornalista disse ao ex-atleta: “Você parece tão feliz agora”. A resposta: “Eu estou feliz”.
O ex-atleta é empático, encantador e sensível. Mas ser presidente do Los Angeles Lakers exigiu que ele reprimisse sua condição e passasse a agir de forma mais distante e calculista. Segundo o estudo, uma situação como essa pode ser bastante difícil.
Outra pesquisa mostrou que, em determinadas funções, ter inteligência emocional está correlacionado ao menor desempenho no trabalho. Em 2010, pesquisadores da Universidade de Illinois, em Urbana, no condado de Champaign, conduziram uma metanálise exaustiva de todos os estudos disponíveis, relacionando inteligência emocional a performance. Os estudiosos analisaram 476 desses estudos, envolvendo 191 funções distintas, e descobriram que o fator determinante para a inteligência emocional ser positivamente ou negativamente relacionada ao desempenho era algo chamado “trabalho emocional”. Trata-se da medida em que temos que regular e exibir certas emoções para alcançar nossos objetivos. Vamos imaginar que você é alguém incrivelmente empático, que entende e compartilha os sentimentos dos outros. Essa deveria ser uma característica maravilhosa, certo? Claro que sim, mas agora imagine que você está em um emprego que exige que você não expresse sua empatia, que demita pessoas e mantenha segredo. Agora pense que, ainda assim, há pessoas fora do seu trabalho que o criticam por não demonstrar empatia. Parece ser uma situação terrível.
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Ironicamente, em uma situação como essa, o estudo mostrou que o profissional provavelmente se sairia melhor se fosse menos empático e tivesse menor inteligência emocional. Em um trabalho que requer uma cara fechada, casca grossa e resistência a críticas, ser naturalmente menos empático realmente pode ser uma boa característica.
Imagine um executivo que tenha sido contratado para reestruturar uma empresa falida por meio de, entre outras coisas, demissões. Esse é um trabalho difícil, e se o executivo é alguém que faz conexões emocionais profundas com todos os funcionários afetados, ele ficará emocionalmente (e fisicamente) exausto e em sofrimento a cada minuto do seu dia.
Ao mesmo tempo que grande parte do mundo dos esportes está absolutamente chocada com a decisão de Magic Johnson, qualquer um que sabe como é doloroso ter que fingir as emoções no trabalho é capaz de entendê-la.
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