Com a pandemia, a gestão da liderança se tornou ainda mais importante para garantir o bem-estar e a produtividade da equipe. Nesse contexto, segundo uma pesquisa da “Harvard Business Review”, publicação da Harvard Business Publishing que tem como objetivo promover a reflexão sobre as práticas de gestão de negócios, as mulheres em cargos de liderança mostraram mais eficiência durante a crise sanitária que afetou praticamente todas as empresas, ao apresentarem mais resultados positivos e contribuírem de maneira mais expressiva para o engajamento dos trabalhadores.
O estudo “Mulheres São Melhores Líderes Durante a Crise”, elaborado por Jack Zenger e Joseph Folkman, avaliou 454 homens e 366 mulheres entre março e junho de 2020. Os métodos utilizados foram extraídos do livro “360º do Líder Extraordinário”, dos mesmos autores, e da avaliação de satisfação e comprometimento dos funcionários que trabalham diretamente com cada líder. As mulheres foram classificadas de forma mais positiva em 13 das 19 competências gerais de liderança. A partir das respostas dos entrevistados, o público feminino se sobressaiu, principalmente por conta do uso de habilidades interpessoais – as chamadas soft skills -, como colaboração, trabalho em equipe e motivação.
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Halina Valdívia de Matos, professora da disciplina Liderança e Equipes no curso de Administração do Ibmec em São Paulo, comenta que essa constatação é fruto de um contexto histórico, no qual homens e mulheres já possuem papéis sociais pré-estabelecidos. “Ao falarmos de liderança feminina, é importante termos cuidado ao reproduzirmos a imagem estereotipada de que elas são ‘mais sensíveis e intuitivas’. Estamos falando de algo muito mais profundo do que isso. Desde a infância, seja na vida escolar ou familiar, as mulheres são tipicamente estimuladas a desenvolverem características relacionadas à comunicação e flexibilidade.” No âmbito profissional, essas aptidões acabam sendo um diferencial.
Especialista em consultoria de carreira pela Fundação Instituto de Administração (FIA), Halina recorda que, por muitos anos, a figura de um líder era associada a um perfil mais pragmático, detentor de todas as decisões. “Tradicionalmente, eles davam ordens, exercendo autoridade máxima, que era sustentada simplesmente pela hierarquia. Felizmente, vemos uma evolução neste modelo.” Atualmente, muitas empresas incluem os funcionários no processo de decisão e resolução de problemas, oferecendo apoio genuíno e concreto. “Em vez de estimular a alta performance por meio de punição, recompensa e medo, outros ingredientes, como inspiração, proximidade e suporte ao aprendizado contínuo, estão presentes.”
Liderança influente e produtividade na crise
O estudo demonstra que, nesse período de adaptação por conta da Covid-19, as mulheres expressaram maior conscientização e preocupação sobre os medos e inseguranças dos colaboradores e passaram mais confiança em planos e estratégias. Por outro lado, os homens mostraram melhores resultados em categorias como “conhecimento técnico/profissional”. Porém, estatisticamente, isso não representou diferenças significativas na comparação entre o background deles e delas.
Christiane Aché, diretora do Advanced Boardroom Program for Women (ABP-W) da Saint Paul Escola de Negócios, analisa que uma boa liderança necessita de empatia, escuta ativa e humildade, que, conforme o levantamento, são características apresentadas majoritariamente por mulheres. Segundo ela, as habilidades socioemocionais constroem um arsenal de novas ferramentas que melhoram os relacionamentos nas organizações. “Gestores devem saber como se conectar com as outras pessoas, como estabelecer confiança e evitar ou minimizar conflitos.”
Além disso, devem promover a pluralidade de pensamentos nas companhias. “É exatamente das diferenças que nascem as inovações. Ninguém consegue inovar apenas com pessoas iguais a si mesmo ou que não se sintam confortáveis para discordar, debater e trazer novas ideias e visões”, aponta a especialista.
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Preconceito dentro e fora do mercado de trabalho
Christiane compreende que o recorte de gênero possibilita uma mudança na estrutura organizacional das empresas. “Isso é a porta de entrada para outras diversidades, como de raça, orientação sexual, geração, social etc.” Apesar de muitas organizações estarem dispostas a diversificar a equipe, ela afirma que o espaço ainda é muito restrito. “Ao longo da minha carreira, encontrei poucas mulheres entre meus pares. Seja pela ideia de que elas não aguentariam a pressão do cargo, pela impressão de que são frágeis ou por estarem constituindo família.”
Para Halina, alguns dos maiores desafios no local de trabalho são lidar com essa desproporção nas equipes e enfrentar os casos de assédio e discriminação. Mesmo com mudanças graduais, ainda há uma sub-representação feminina em cargos de alta liderança no Brasil. “As organizações que enxergam as mulheres de maneira reduzida raramente darão desafios e oportunidades à altura do que elas realmente podem entregar.” Sendo assim, esse conservadorismo atrapalha transformações mais consistentes e positivas. “Sem um ambiente respeitoso, a mulher não conseguirá ter uma boa performance e, consequentemente, terá mais dificuldades para ser promovida para outros cargos.” Já as instituições que investiram na diversidade desde o início da pandemia puderam notar, na prática, os benefícios de uma liderança feminina baseada nas soft skills.
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