Para os hedonistas, ela é uma busca eterna pelo prazer. Para os estóicos, um conjunto de ações virtuosas. Para os budistas, a renúncia do ego. Mas o que gregos e troianos concordam é que a felicidade é indispensável para todos os setores da vida – incluindo o trabalho.
Foi a partir desse conceito que uma empresa dinamarquesa – a Woohoo Partnership – criou, em 2003, uma metodologia voltada para a satisfação do colaborador, dando origem ao certificado de chief happiness officer. Esse profissional é responsável por elaborar estratégias e ações que promovam a felicidade corporativa, melhorando índices de engajamento e produtividade de todo o time e, consequentemente, da empresa como um todo.
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“O chief happiness officer é o grande embaixador e influenciador do tema da felicidade nas companhias. Ele é alguém que vai vai liderar o debate sobre saúde mental e bem-estar nesses ambientes”, explica Renata Rivetti, diretora e fundadora da Reconnect | Happiness At Work, uma das empresas brasileiras especializadas no tema. De acordo com ela, a primeira coisa a levar em consideração é que o conceito de felicidade corporativa é abstrato e ultrapassa as famosas pausas para o cafezinho: trata-se da experiência constante e duradoura de se sentir reconhecido, valorizado e realizado em uma empresa. “Nós vamos passar mais de 80 mil horas das nossas vidas trabalhando. A única maneira de ser feliz com isso é atribuindo um significado especial para aquilo que fazemos”, diz.
CHO: o “chefe da felicidade”
Qualquer profissional pode se tornar um CHO ou mesmo absorver a técnica para colocá-la em prática na sua ocupação atual. Para isso, é necessário procurar alguma das organizações que oferecem o certificado. Em média, a formação dura de três a cinco dias e é ministrada por psicólogos e especialistas do mercado. Hoje, no Brasil, já existem 169 profissionais qualificados na área, segundo o Instituto Feliciência e a Reconnect, além de um aumento expressivo de 200% na procura pelos cursos desde o ano passado.
Aliado da psicologia positiva, o “chefe da felicidade”, como é apelidado esse profissional, costuma iniciar seu plano de ação com pesquisas qualitativas e quantitativas a respeito do bem-estar dos colaboradores da empresa. A partir desse entendimento, é hora de montar um diagnóstico e traçar iniciativas que façam sentido no grupo, de reuniões de feedbacks a mudanças de tarefas. “Muitas empresas focam apenas em dar benefícios, kits, festas, cursos, aumento de salário, e se esquecem que felicidade não é sobre o que as pessoas recebem, mas sobre como elas se sentem”, afirma Renata.
E é por isso que o trabalho do CHO vai bem além do happy hour. Carla Furtado, fundadora e professora do Instituto Feliciência, explica que os planos de ação variam de acordo com o tipo e a fase da empresa, mas que sempre devem englobar os fatores positivos e negativos que impactam na vida daquele profissional. “A primeira coisa a se fazer é uma visita à cultura da organização, que normalmente vai estar descrita no conjunto de princípios como a missão, a visão, os valores e o propósito. É importante perceber se essas coisas são realmente colocadas em prática pela equipe. O segundo passo é o alinhamento de liderança, porque de nada adianta ter um programa de felicidade quando os líderes são tóxicos ou assediadores. Sem essas ações prévias, a felicidade não se sustenta”, afirma.
Ser feliz dá lucro
Quando bem conduzida, a felicidade pode ser uma mina de ouro para as empresas. De acordo com uma pesquisa feita pela “Harvard Business Review”, colaboradores felizes são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. Para a empresa, este impacto resulta, ainda, em 55% menos demissões e uma probabilidade 125% menor de casos de burnout.
“O sofrimento é uma torneira aberta em termos de recursos, seja por causa de afastamentos, baixo engajamento ou rotatividade. Tudo isso leva a uma perda de ativos. Cientificamente falando, temos estudos que mostram um aumento do engajamento após os programas de felicidade e uma incidência menor de transtornos mentais”, diz Carla.
Por esse motivo, o chief happiness officer também costuma atuar ao lado dos setores de crescimento e desenvolvimento das companhias. “É um match entre a ciência da felicidade e a gestão estratégica que precisa entregar resultados”, explica a fundadora do Feliciência.
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O bem-estar nunca foi tão urgente
Consolidada na Europa há mais de 15 anos, segundo as especialistas, o chief happiness officer nunca foi tão requisitado como durante a pandemia. “A profissão cresceu por causa do avesso da felicidade, o sofrimento”, ressalta Carla. Diante dos números alarmantes de transtornos mentais entre os brasileiros, tanto a Reconnect como a Feliciência registram uma explosão na procura por parte das empresas. “Elas começaram a perder talentos e produtividade durante o último ano. Foi nesse momento que observamos que a felicidade do colaborador passou a ser levada a sério. Se antes nosso debate era encarado com ceticismo, agora os líderes já estão percebendo a importância disso”, afirma Renata.
Muitas vezes classificado como hype ou profissão do futuro, o CHO, na verdade, não é nenhum dos dois. Além da urgência pelo bem-estar dos colaboradores, em meio a um cenário de luto, crise e isolamento, uma pesquisa feita pelo Employment and Employability Institute mostrou que a felicidade corporativa é quase um ponto obrigatório para a próxima geração de trabalhadores, os millennials. Destes, 53% querem atuar em empresas cujos valores sejam os mesmos que os seus, enquanto 75% procuram uma rotina flexível entre trabalho e tempo livre. Outros 44% dizem que buscam um ambiente amigável e 90% almejam desafios e oportunidades de crescimento.
“Esperar a sexta-feira para ser feliz é jogar a vida fora. O tempo não pode ser poupado para ser vivido depois. O trabalho precisa ir além da subsistência, ele fala da nossa identidade, da nossa colaboração com o mundo e do legado que vamos deixar”, finaliza Carla Furtado.
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