Diria que é bastante injusto fazer esta generalização: assumir que uma empresa familiar não é profissionalizada. Afinal, profissional é um indivíduo com elevados padrões internos de desempenho e ética que age no melhor interesse de sua empresa e de outras partes interessadas (como clientes e proprietários) e não é indevidamente influenciado por suas próprias necessidades ou objetivos pessoais.
A partir dessa definição, minha primeira afirmação é que nunca encontrei profissionais mais abnegados do que membros de família empresária. Em sua maioria, são trabalhadores que renunciam às suas próprias vontades em função de uma empresa e sua perpetuidade, principalmente na primeira geração. O desejo de construir algo que seja um legado familiar faz com que, muitas vezes, renunciem à própria vida, ao seu tempo e a outros interesses. Cansei de ouvir em debates de acionistas que os interesses dos negócios devem ser considerados prioritários frente aos interesses pessoais.
Também sei que a famosa frase: “pai rico, filho nobre e neto pobre” é uma dura realidade. É muito difícil transmitir às próximas gerações a mesma gana, esse apetite pela construção de algo que já chegou em grandes padrões de resultados.
Uma forma que as famílias encontram para manter o seu padrão de profissionalismo é criando programas sérios e bem desenhados de formação para as novas gerações, além de definir regras de acesso aos negócios para novos entrantes com critérios claros e, normalmente, desafiadores.
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Quando falamos a respeito de uma empresa profissionalizada, podemos dizer que é uma organização que possui os mesmos elevados níveis de desempenho e ética. As organizações alcançam esses padrões construindo culturas que enfatizam o desempenho enquanto aderem aos valores essenciais da empresa, estabelecem metas e regras, avaliação, contratam e promovem com base na capacidade de contribuir, e estão constantemente aprendendo e se esforçando por justiça e consistência nas recompensas.
Nesse caso, vejo que muitas empresas familiares ainda engatinham.
Estabelecer critérios para as decisões que sejam claros para a organização – e não pautados em escolhas por indicação. Ter padrões de avaliação para ter um mapeamento de sucessão bem-feito. Ter metas contratadas, mensuráveis e cascateadas pelos níveis da hierarquia. Ter os fóruns certos para os temas certos, e nos quais as decisões são realmente construídas em conjunto, respeitando a diversidade de opiniões e não apenas uma comunicação de acertos previamente feitos.
Sim, empresas profissionalizadas exigem um trabalho de base bem-feito, processos bem estabelecidos e consistência nas decisões. E sabemos que isso leva tempo, dedicação e, principalmente, deve ser uma decisão dos acionistas, que atuarão como “guardiões” dessa implementação.
O que aprendi durante estes anos é que uma empresa profissionalizada não tem uma relação direta com controle familiar ou não. Como diria o professor John Davis, profissionalismo depende de atitudes e comportamentos.
Flávia Camanho é Conselheira, mentora e coach. Especialista em desenvolvimento humano e governança familiar, fundadora do Flux Institute e professora convidada do IBGC para programas de governança e Next G.
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Coluna publicada na edição 103, de novembro de 2022.