Em 2010, meus filhos mais velhos tinham 10 e 8 anos de idade. No primeiro dia de aula deles, fui surpreendido por uma mensagem que figurava no painel de LED na porta da escola: BE AMBITIOUS (seja ambicioso). Ao ler essa mensagem, foi inevitável que eu ficasse pensativo. “Se as escolas do Brasil – públicas ou privadas – tivessem um painel de LED na entrada, a frase escolhida pelos diretores seria ‘Seja ambicioso’”?
Fiquei muito receoso em fazer um juízo de valor, mas fui tendencioso ao achar que não, essa frase jamais seria escolhida no Brasil para ser a mensagem de boas-vindas em uma escola. E o motivo é cultural. Infelizmente, a palavra “ambição” é meio “queimada” no Brasil, geralmente associada a comportamentos sem ética, sem humanidade e sem equilíbrio. Mas isso é um grande equívoco. Isso porque ambição e ganância são conceitos com algumas similaridades, porém diferentes na essência.
A ganância pode, sim, ser associada a comportamentos disfuncionais e sem ética. Já ambição é apetite, é vontade ardente, é o que impulsiona o ser humano a realizar acima da média e conquistar avanços para a humanidade. O mundo desenvolvido que conhecemos é resultado da ambição de homens e mulheres que só assumiram riscos e se deixaram levar ao extremo porque tinham uma ambição de fazer a diferença.
Toda conquista só se materializa se houver muita luta e superação. Por sua vez, só nos dispomos a lutar por algo que DESEJAMOS. Se não desejamos, não lutamos e, por consequência, nada conquistamos. Quando demonizamos o DESEJO – a ambição – condenamos toda uma geração à insignificância de uma vida sem conquistas. Acabar com o desejo é matar na fonte a possibilidade de despertarmos gênios, empreendedores e profissionais de grande destaque.
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Refletindo melhor sobre esse tema, concluí que temos pelo menos três fontes que desestimulam a ambição em nossa sociedade. São elas:
1. Família. Eventuais experiências frustradas de membros de nossa família podem se transformar em traumas transmitidos às gerações futuras. Nossos pais querem muito nos ver felizes, porém, eles têm medo de que nos frustremos. Logo, sua preferência sempre será nos proteger.
2. Experiências religiosas. A má interpretação de textos sagrados pode levar ao culto à pobreza como virtude e a caracterização da riqueza como algo de natureza pecaminosa. Correntes do cristianismo seguiram essa tendência, enquanto outras ideias apresentam uma tese oposta, evidenciando a prosperidade como uma bênção divina.
3. Correntes políticas. Algumas ideologias atribuem a riqueza à exploração de mão de obra, ou que a riqueza de uns causa a pobreza de muitos. Sabemos que gerar empregos é algo bom e moral, bem como sabemos que economia não é um jogo de soma zero. Isso significa que criamos e multiplicamos riquezas; logo, a prosperidade de alguém não gera pobreza, ao contrário, gera oportunidades para muitos.
Para construirmos um país de oportunidades, é preciso haver pessoas dispostas a realizar os seus projetos. Em tempos de incertezas, os ambiciosos são os que fazem a diferença. Então, não tenha dúvidas: seja ambicioso.
Flávio Augusto da Silva é empreendedor e escritor. Dentre suas iniciativas, é CEO e fundador da WiseUp, líder no ensino de inglês para adultos, proprietário do Orlando City Soccer Club, time de futebol profissional dos EUA, e fundador e Presidente do conselho de administração da Wiser Educação.
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Artigo publicado na edição 104 da revista Forbes, de dezembro de 2022.