Em 20 anos de empresa, Bárbara Toledo passou por diferentes áreas e posições na Intel. “A cada três anos, sinto que estou em um trabalho diferente”, diz a executiva, que começou no marketing, passou pelo comercial e assume agora como diretora de estratégia de consumo e varejo na América Latina. “Temos que atrelar os objetivos de negócio aos nossos sonhos”, foi o que ela pensou ao dar esse último salto.
A executiva atribui sua chegada a esse ponto na carreira à formação técnica, “que sempre joga a favor”, somada a uma busca intencional pela liderança e demonstração de resultados. “É o que fez e faz a diferença quando você está em um processo seletivo.”
Em uma indústria em constante transformação, também se mantém atenta às movimentações do mercado e em contato com parceiros e diferentes empresas. Se hoje brilha os olhos falando de inteligência artificial, Bárbara ficou fascinada quando teve contato com um computador pela primeira vez, no início da década de 1990. Foi o que bastou para deixar de lado a ideia de cursar arquitetura e seguir na área de tecnologia. “A faculdade de engenharia abriu um leque gigantesco de possibilidades.”
Para pagar a faculdade particular, trabalhou desde os 17 anos dando curso de robótica em escolas infantis e aulas de informática. Aos 23, teve a possibilidade de deixar o emprego com carteira assinada e começar um estágio em marketing na Intel, iniciando sua trajetória na empresa. Aqui, a executiva conta como sua visão generalista ajudou a desenvolver sua carreira e como enxerga as oportunidades no setor de tecnologia com a chegada da IA.
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Forbes: O que você acha que te destacou para assumir o novo cargo e continuar subindo na empresa nesses 20 anos?
Bárbara Toledo: Acho que foram várias coisas. Uma vivência diversa, passei pelo marketing, fui para a área comercial, mas antes disso tinha uma noção muito clara de finanças. Hoje, nas nossas discussões de negócio, enxergo pontos e experiências que fui acumulando na minha carreira.
Por ter sido analista financeira de receita, entendo os impactos disso no negócio. A experiência de marketing conta para se posicionar e comunicar com o usuário final para gerar uma ação e um impacto positivo. E a experiência comercial e do ecossistema para tentar unir todas essas coisas. Essa experiência de diferentes áreas faz com que eu tenha uma visão mais generalista. E com certeza o fato de ter uma formação técnica sempre ajuda.
F: E quais os benefícios de construir a carreira numa mesma empresa?
BT: No meu caso em específico, acho que só tiveram coisas positivas. Mesmo estando há 20 anos na Intel, nós trabalhamos com toda a indústria e bastante coisa mudou. As pessoas brincam que eu conheço muita gente e eu percebi isso nessa última movimentação, mas quando você tem uma carreira longínqua, você pode construir essas conexões, trabalhar projetos em parceria e ir agregando conhecimento e aportando esses benefícios para a empresa. Um dos meus maiores objetivos nessa transição era conseguir aumentar o meu poder de atuação, ou seja, estava pensando como eu poderia contribuir mais. O que eu sempre digo é que a gente tem os nossos objetivos de negócio, mas a gente também tem que atrelar isso aos nossos sonhos, para dar aquele aquele gás a mais.
F: Nessas duas décadas em que muita coisa mudou e a indústria continua se atualizando, como você se adapta e se mantém uma profissional relevante?
BT: Todo engenheiro é curioso, eu me sinto meio nerd. Então acho que o primeiro passo é ser uma eterna curiosa, acompanhar todos os desenvolvimentos de tecnologia que estão vindo por aí e entender como eles podem impactar a sociedade e o ecossistema. O último deles, que é uma questão que temos falado muito, é a AI PC, ou seja, os PCs com inteligência artificial. A Intel tem lançamentos agora em dezembro e muitas novidades para o ano de 2024 que vão mudar a forma como a gente usa o computador, e isso vai trazer várias possibilidades. E estar sempre em contato com os nossos parceiros e em diferentes ambientes porque a inovação pode surgir de qualquer lado. Na indústria de finanças, por exemplo, várias inovações surgem de startups, de empresas pequenas, não é à toa que vários bancos contam com as suas incubadoras. Estar em contato com o novo e com um ambiente diverso, não só de pessoas, mas também de empresas, é crucial para se manter um profissional interessante.
F: Como você recebe a inteligência artificial? Qual o impacto que você tem observado nas carreiras de tecnologia?
BT: De forma super positiva. A inteligência artificial é aliada do ser humano. Eu sei que para algumas pessoas pode causar um certo medo, mas a gente já passou por várias evoluções na história da humanidade e toda nova tecnologia que é introduzida pode mudar a forma como a sociedade está organizada. Pode mudar a forma como a gente trabalha no dia a dia? Com certeza. Mas o objetivo da Inteligência Artificial é nos dar mais capacidades para produzir mais, ser mais eficientes. Então vejo de forma positiva, assim como a gente viu o PC chegar nos lares das pessoas, assim como a gente está vendo a internet, a inteligência artificial com certeza vai trazer muitos benefícios para as empresas e também para as pessoas em geral.
F: Como foi ser liderada por pessoas de outras culturas? E como é hoje liderar e trabalhar com pessoas de diferentes países?
BT: É algo que eu adoro. Ser liderada por pessoas que não conhecem tanto a cultura ou não estão tão presentes no nosso mercado é uma super oportunidade porque você acaba tendo a responsabilidade de posicionar a sua cultura, o seu país e as oportunidades de negócio que a gente tem aqui em um formato que uma pessoa de uma cultura diferente possa entender. Essa “tradução” é crucial. E parafraseando a nossa líder da América Latina, a gente faz negócios com pessoas, não é business to business, é people to people, então a interação com as outras pessoas e culturas é crucial para que todos colaborem mais e a gente possa evoluir mais rápido.
F: Qual foi o turning point da sua carreira?
BT: Foram dois. O fato de dar um passo “para trás”, 20 anos atrás, quando deixei um trabalho de carteira registrada para ser estagiária na Intel e ter a oportunidade de vivenciar algo novo. Isso foi crucial, entender que eu não preciso ser 100% técnica, não preciso ser a melhor programadora e posso ter uma experiência diferente. E a transação do marketing para vendas, um pouco antes da pandemia, que fez com que eu me tornasse uma profissional mais completa, menos especialista e mais generalista. E fiz isso conversando com pessoas sobre as possibilidades e com aliados ao meu lado. Porque uma movimentação grande dá aquele friozinho na barriga, mas crescer dói mesmo. Se você não está sentindo o frio na barriga, talvez já esteja na hora de mudar de novo.
F: A liderança foi algo que você planejou? Como foi para uma profissional mais técnica assumir a gestão de pessoas?
BT: Foi um pouco natural, mas não vou negar que foi planejado. O que fez e faz a diferença quando você está em um processo seletivo é mostrar resultados. Sempre estar disposta a liderar diferentes projetos, mesmo que não sejam ligados à sua área, o fato de você se propor mesmo sendo um profissional sem um time a coordenar projetos, ter experiência de trabalhar com times de diferentes áreas, tomar responsabilidade mesmo sem ter o cargo. O ser humano aprende muito mais com a experiência do que com a teoria, então com certeza ter essa visão holística e aceitar projetos faz toda a diferença. E aí a preparação para liderar pessoas vem em paralelo. A gente é muito rico de formação aqui dentro da Intel, tem diferentes cursos, muito conteúdo que te ajuda a se preparar, mas a vivência com as pessoas é o que faz a diferença.
F: Quais oportunidades você observa na indústria de tecnologia hoje?
BT: Algumas coisas me fazem incentivar as pessoas a entrarem na área de tecnologia. A primeira é a oportunidade, porque é uma área que sempre cresce, e nós temos um déficit gigantesco de profissionais de tecnologia aqui no Brasil. A pandemia mostrou que profissionais de tecnologia podem trabalhar em qualquer lugar do mundo. A gente tem vários casos de nômades digitais, que trabalham a partir do Brasil para organizações de diferentes lugares. Também tem a oportunidade de estar sempre ligado ao novo, ao que está por vir, e a questão da diversidade, porque hoje quando a gente olha para o mercado de tecnologia, ele ainda não é diverso. A tecnologia está mudando o mundo e se a gente quiser garantir que ela vai funcionar e trazer oportunidade para todos, a gente precisa ter diferentes representantes da sociedade trabalhando nessa área. Afinal, são eles que vão escrever as novas linhas de código.
F: Como você citou, a tecnologia ainda não é uma indústria diversa. Mas você enxerga uma evolução desde que entrou na faculdade até hoje?
BT: Impossível em mais de duas décadas não enxergar mudança. Eu também mudei, e ainda bem. Quando eu estava pensando em fazer engenharia, o ITA, que é uma das melhores escolas de engenharia do Brasil, não aceitava mulheres. E eu não me revoltava com isso, eu achava que era normal, infelizmente não estava disponível para mulheres. E hoje eu questiono as coisas e também incentivo a minha filha a questionar. E quando eu olho para para uma sala de aula, como os alunos interagem entre si, algumas brincadeiras e posturas que eram permitidas no passado, não são mais. Assim como no mercado de trabalho. E que bom. O que talvez fosse uma luta de soldado solitário, hoje você já encontra mais aliados. Hoje eu vejo que não basta sentar na mesa, você tem que ter consciência de qual é o seu papel nessa mesa. É chamar a atenção para aquilo que ainda pode melhorar e evoluir. É usar a sua voz para provocar as pessoas a pensar diferente.
F: O que você indicaria em termos de formação e experiência para alguém com a ambição de trabalhar nessa área?
TB: Não dá para fugir muito da área de STEM – ciências, tecnologia, engenharia e matemática. São áreas básicas, que vão te dar conhecimento, raciocínio lógico e vão ajudar em tudo na vida.
F: Como foi a experiência de liderar o grupo de afinidade de mulheres na América Latina?
BT: Foi uma super oportunidade durante a pandemia. Esse grupo recebe o nome de WIN – Women at Intel Network. É um grupo global que já tem mais de 25 anos de existência, começou lá nos Estados Unidos e foi se expandindo. Foi uma experiência incrível, porque a gente apoiou e discutiu projetos dentro da América Latina de diferentes formatos. Nós temos site aqui no Brasil, na Argentina, temos uma fábrica na Costa Rica, um centro de desenvolvimento no México, e outros escritórios espalhados pela América Latina, então só dentro da região, apesar de sermos todos latinos, temos diferentes culturas. E aí mais uma vez o meu papel era fazer a interlocução entre o time global e o time local. E uma das coisas que eu me orgulhava muito de contar para o time global era que o grupo WIN na América Latina era o grupo com maior número de homens participantes porque é muito importante que a gente tenha os homens participando dessa conversa, engajando e agindo como agentes de mudança.
Por quais empresas passou
Intel, Johnson Controls, ABC Expurgo, Neomídia Informática
Formação
Engenharia de produção elétrica – FEI
Primeiro emprego
Como professora de informática na Neomídia Informática
Primeiro cargo de liderança
Gerente de marketing na Intel
Tempo de carreira
25 anos
Veja, abaixo, outras movimentações C-Level que ocorreram nos últimos 15 dias.
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Mafoane Odara, ex-Meta, é a nova diretora de pessoas, cultura e transformação da ZAMP, do Burger King e Popeyes. A psicóloga também já passou por empresas como Instituto Avon e Ashoka.
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A fashiontech Dafiti tem um novo CEO. Leandro Medeiros tem mais de 25 anos de carreira e assume a cadeira no início de dezembro. O executivo vem da Alpargatas, onde mais recentemente ocupou o cargo de presidente da operação do grupo na Europa, Ásia, Oriente Médio, África e Oceania. Também já passou por grandes empresas como Nestlé, Diageo e Ambev.
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Patricia Borges, vice-presidente de marketing, digital e inovação da Diageo para Brasil, Paraguai e Uruguai, assume agora o cargo de CEO Reserve Joint-Venture & Global SVP Luxury Business. A executiva, que acumula passagens por empresas como L’Oréal, Mondelez e Unilever.
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O Grupo Bradesco Seguros anuncia José Loureiro como novo diretor de inovação, digital e dados da companhia. O executivo tem mais de 30 anos de carreira, 25 deles no mercado segurador.
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Maria Carolina Brasil Borghesi é a nova vice-presidente de gente, cultura e ASG da C&A. Com ampla experiência na área de recursos humanos, atuou em grandes empresas como Dafiti, Carrefour e Tok&Stok.
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A Galderma acaba de nomear Vitor Miranda como novo diretor da unidade de negócios de estética injetável no Brasil. Dos seus 20 anos de carreira, Miranda está há nove anos na empresa, e também já passou por Sanofi, Bristol Myers Squibb e LEO Pharma.
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A Boyden, empresa de consultoria em liderança, anuncia a chegada de três novos sócios no Brasil, David Sion Turkie,
Francisco Cuesta (foto) e Giancarlo Alcalai.
Mafoane Odara, ex-Meta, é a nova diretora de pessoas, cultura e transformação da ZAMP, do Burger King e Popeyes. A psicóloga também já passou por empresas como Instituto Avon e Ashoka.