“Lu, faça um curso de culinária e encontre felicidade nas coisas simples da vida.”
Não foi a minha mãe, o Alex Atala, tampouco a minha terapeuta que disse a frase acima.
Sem saber, o meu querido cliente Luis Resende, presidente da Volvo Cars América Latina, destruiu um grande preconceito (no sentido mais puro da palavra) que me manteve distante do fogão por todos esses anos. Sempre achei que a cozinha era a antítese do empoderamento feminino e da ascensão da mulher no mundo corporativo.
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Nessa nova jornada na cozinha, que começou quando me mudei para Portugal, descobri que a danada da cebola produz notas musicais ao cair no azeite quente. O cheiro, o choro e o chiado que esse legume provoca me lembram um fado de Amália Rodrigues. E, como ela bem dizia “o fado sente-se, não se compreende, nem se explica”. O som da cebola dourando na panela me faz muito feliz.
Cozinhar é um ato-ritual milenar de transformar ingredientes em alimento para o corpo e para a alma.
Na minha vida pregressa à la “Tempos Modernos”, filme dirigido por Charles Chaplin em 1936, eu realmente acreditava que sabia das coisas, até a Dona Cebola manifestar seu extraordinário sonido, e eu entender o impacto positivo que cozinhar teve em mim. Foi o despertar de uma nova emoção.
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Não pense que este artigo vai terminar numa receita de bacalhau. Apenas percebi que começar um novo ano em busca de algo que te faça feliz, sem tanta expectativa, cobrança ou sofisticação, pode transformar a sua vida pessoal e profissional.
O que você faz quando está frustrado?
a) Internaliza: não dorme, fica estressado até que a sua mente manifeste doenças físicas ou mentais;
b) Externaliza: lembra do jogo batata quente? Você transfere para o outro as suas mágoas;
c) As duas opções acima;
d) Não quero falar sobre isso.
A frustração nos consome, enrijece, corrói como água quando encontra o ferro. Ferrugem nada mais é do que o resultado de um processo físico-químico. E é assim que o nosso corpo age quando não temos as ferramentas certas para evitar processos físico-químicos no nosso cérebro.
O caminho da felicidade inclui novos hábitos
Aprender a lidar com as emoções negativas é um dos fatores mais importante em busca do “estar feliz”.
Meu cunhado, Roberto Mazzarella, managing director de um dos maiores bancos dos Estados Unidos, conseguiu, brilhantemente, através de uma analogia com um assunto que ele domina, simplificar a nossa existência:
“A nossa vida é como uma conta corrente, não precisa ter só créditos (alegrias), chegarão alguns boletos, débitos automáticos serão descontados. E# não tem problema, o que importa é o saldo positivo. Precisamos buscar mais motivos para sorrir do que para lamentar. Se for o contrário, fica insustentável e o gerente fecha sua conta.”
É nessas horas que o autoconhecimento entra para te salvar. Somos muito sensíveis às opiniões alheias e menos ao que faz sentido para nós. Estamos o tempo todo buscando aceitação e aprovação, e isso nos distancia de sermos felizes.
Existe um ditado hinduísta que diz: “Deus escondeu as joias mais preciosas onde sabia que você jamais procuraria: no seu bolso”.
A importância de criar hábitos
A resposta não é simples, nem única, e muito menos está na arte de cozinhar (quem dera estivesse). A única certeza que tenho é que, para o saldo ser positivo, precisamos de novos hábitos.
Talvez você possa tentar esta receita de dez ingredientes:
- Aprenda a levar os seus pensamentos negativos menos a sério;
- Liberte seus medos. Faça da sua intuição uma bússola;
- Lembre-se de que nada dura para sempre – nem mesmo os tempos difíceis. Tudo é transitório;
- Tenha flexibilidade para aceitar os desafios que aparecerão na sua estrada;
- Acredite: a humildade é a sua melhor virtude;
- Descubra o poder do silêncio. Você quer ser feliz ou ter razão?;
- Seja mais quem você precisa ser;
- Quando achar que se perdeu no caminho, lembre-se de que mudança é a única constante da vida;
- Respeite as suas limitações;
- Não deixe ninguém apagar a tua chama. A tua luz é o que você tem de mais sagrado.
Não fique esperando ser feliz somente quando a promoção chegar, quando encontrar o seu grande amor, quando tirar férias ou quando possuir aquele bem material que tanto deseja.
Não passe os dias esperando as noites, e as noites, esperando os dias.
A felicidade pode vir do “vai com Deus” da sua mãe, de um emoji de coração, do abrir os olhos e estar vivo, de um rabinho balançando, do sorriso encabulado daquela pessoa que você elogiou (elogie mais pessoas e mais vezes), de saber que no dia de hoje você está saudável, da última página do livro, da areia molhada no seu pé, do seu filho reclamando do seu beijo molhado (“ahhh, mamãe”), e claro, do som da cebola fritando.
Aceite o que é. Deixe ir o que foi. Acredite no que será. Tudo começa por você.
Janeiro (em latim, Ianuarius) é nomeado em homenagem a Janus, o deus dos inícios e transições na mitologia romana. Feliz novo ano!
P.S.: Ainda não consigo convidar o Luis para comer um bacalhau à Brás aqui em Lisboa. Não tive coragem de me arriscar nessa receita, por insegurança mesmo, mas estou muito feliz com o meu progresso na cozinha. Já tenho até um pequeno cardápio para chamar de meu.
Luciana Rodrigues é executiva C-level do setor de comunicação, mentora e conselheira.
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