Menos oportunidades de promoção, somadas à queda na satisfação geral com o emprego e a remuneração, criam um cenário propício para o aumento do “FOGLO” – Fear of Getting Laid Off, ou, em português, o medo de enfrentar a demissão.
Se você se identifica, saiba que esse sentimento é mais comum do que parece. O medo de perder o emprego afeta quase um terço da população brasileira. Segundo um levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgado em abril de 2024, 31% dos profissionais têm bastante receio de serem demitidos, enquanto 15% sentem um medo moderado, e 52% relatam pouca ou nenhuma preocupação com o tema.
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Os índices de insegurança no trabalho caíram desde a pandemia – em maio de 2020, o percentual da população com muito medo de perder o emprego chegava a 44% –, mas ainda impactam uma grande parcela dos brasileiros. “Muitos profissionais enfrentaram um cenário de incertezas que afetam tanto a percepção de crescimento quanto a satisfação no trabalho”, afirma Patrícia Paniquar, líder de transição de carreira da empresa de consultoria LHH. “O isolamento social, a pressão por produtividade e as rápidas mudanças geraram um aumento no estresse e na preocupação com demissões.”
A felicidade no trabalho diminuiu desde 2020, especialmente para os profissionais na área de tecnologia, segundo uma pesquisa da Bamboo HR, plataforma de serviço de recursos humanos presente em mais de 150 países. O levantamento coletou respostas de mais de 57 mil funcionários de 1.600 empresas que utilizam o serviço, abrangendo setores como saúde, finanças, educação e tecnologia.
Os sentimentos negativos em relação ao ambiente de trabalho não surgem à toa: na onda das demissões em massa nos últimos anos, 16,7% das empresas do Brasil realizaram grandes rodadas de desligamentos em 2023, quando, em 2022, foram apenas 12,4%, segundo relatório do Ecossistema Great People & GPTW. “Os ciclos de trabalho serão cada vez menores nesse mercado. Estamos transitando da economia do emprego pautada em cargos para um cenário onde as competências são a nova moeda”, afirma Paniquar.
Apesar disso, o mercado de trabalho brasileiro mostra um cenário positivo, se mantendo aquecido ao longo do ano. No segundo trimestre de 2024, a taxa de desemprego caiu para 6,6%, patamar mais baixo na última década.
Impactos dentro e fora do trabalho
A insegurança dos profissionais quanto à estabilidade no emprego pode ser intensificada tanto por fatores externos ao trabalho, como a situação econômica do país, até internos, como a alta rotatividade de funcionários na companhia. “Nunca fico tranquila, já que muitas pessoas são demitidas por corte de gastos e sem muitos motivos aparentes”, diz Clara*, que trabalha no setor de comunicação em uma grande companhia. “Sabemos das dificuldades da empresa, o que deixa o clima bem tenso e com um peso constante até mesmo entre os gestores que procuram soluções para sair dessa situação.”
O medo da demissão não apenas impacta a rotina e as entregas no trabalho, mas colabora para a manutenção de um ambiente tóxico. “Fico tentando mostrar serviço e estar disponível o tempo todo, até quando me chamam fora do horário. Se não sentirem que podem contar comigo, posso ser a próxima na lista de cortes.”
A insegurança dos profissionais também não é positiva para as empresas, já que muitos procuram novas oportunidades antes que a possibilidade de ficar desempregado se concretize. “Com a piora na situação da empresa, passei a procurar por vagas em locais mais consolidados. Porém, tem sido difícil achar uma vaga atraente.”
De acordo com um estudo do Federal Reserve de Nova York, o percentual de norte-americanos procurando emprego em agosto chegou a 28,4%. Além disso, mais profissionais estão dispostos a aceitar um salário inicial menor por um novo emprego do que há seis meses.
Como encarar o medo da demissão
Para não prejudicar sua saúde mental e também a sua carreira, algumas dicas podem ajudar a enfrentar o cenário e superar o pessimismo em relação ao mercado de trabalho.
Desde encontrar motivos para se manter otimista no emprego atual até buscar novas habilidades ou obter uma certificação, há caminhos que você pode tomar para cultivar uma mentalidade mais positiva em relação às suas perspectivas de carreira. “É importante que o profissional se mantenha atraente para o mercado buscando se atualizar constantemente”, aconselha a líder da LHH.
Converse com um especialista – psicólogo ou consultor de carreira – ou até com mentores sobre seu momento atual e entenda se as preocupações fazem sentido ou se você está criando esse cenário.
Se as perspectivas na empresa e no cargo atual não forem boas, participar de processos seletivos, enviar currículos e fazer entrevistas pode abrir horizontes sobre sua situação em relação a outras empresas e oportunidades.
Mantenha seu currículo e LinkedIn atualizados, acione sua rede de contatos e circule em eventos de networking para se colocar e estar aberto. “É necessário estar aberto para mudança de segmento, área ou nível. Uma linha ascendente de carreira não é o único caminho”, diz Patrícia Paniquar.
Para além do papel individual dos profissionais como protagonistas de suas carreiras, as empresas têm uma função relevante de garantir um ambiente de trabalho saudável. “Um passo importante é promover a segurança psicológica para que os profissionais exponham suas ideias e habilidades sem preocupações”, afirma a executiva. Paniquar também destaca a importância da transparência e de abrir diálogos sobre carreira, o cenário da organização e do mercado e oportunidades de desenvolvimento com os colaboradores.
Para 80% dos profissionais, o acesso a melhores oportunidades de treinamento e desenvolvimento poderia aumentar o engajamento, satisfação no trabalho, motivação e probabilidade de permanecer na empresa, de acordo com um estudo com 1.600 líderes de RH e outros profissionais baseados nos EUA, conduzido pela empresa de desenvolvimento de carreira e recolocação Intoo e pela agência de pesquisa Workplace Intelligence. “Ofertar programas de desenvolvimento promove a possibilidade de atualização ou capacitação em novas habilidades e prepara os profissionais para uma eventual mobilidade interna ou externa.”
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*O nome foi ocultado para proteger a identidade da entrevistada.