A Oxford University Press anunciou sua palavra do ano nesta semana: “brain rot“, que, em tradução literal, significa apodrecimento cerebral. O termo encapsula a exaustão mental que define a vida moderna focada nas telas. As pessoas passam o dia todo conectadas ao computador ou ao celular no trabalho, apenas para chegar em casa e, mais uma vez, buscar entretenimento diante de uma tela.
“Brain rot”, que alguns escrevem como “brainrot” ou “brain-rot”, refere-se ao declínio das capacidades mentais ou intelectuais de uma pessoa devido ao tempo excessivo de consumo de conteúdos, especialmente online, o que começa a ser provado por cientistas em todo o mundo.
A expressão ganhou popularidade nas redes sociais para descrever o impacto de atividades repetitivas, seja rolando infinitamente o feed do TikTok, assistindo vídeos curtos e sem contexto, ou se perdendo em notícias sensacionalistas.
Leia também
Por que Oxford escolheu ‘brain rot’?
A Oxford University Press e outros editores de dicionários tradicionalmente escolhem, no final do ano, uma palavra que captura o espírito dos últimos 12 meses. “Brain rot” levou a coroa de Oxford em 2024 após uma votação pública em que mais de 37 mil pessoas nomearam o termo como sua escolha principal.
Além de considerar o número de votos, a Oxford também analisou dados linguísticos. “Nossos especialistas perceberam que ‘brain rot’ ganhou um novo significado este ano como um termo utilizado para capturar preocupações sobre o impacto do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas redes sociais”, disse a Oxford University Press ao compartilhar sua palavra do ano de 2024. Segundo a organização, o uso do termo aumentou 230% entre 2023 e 2024.
“Brain rot” também entrou na lista final para a palavra do ano de 2024 do Dictionary.com, embora o termo “demure”, que siginifica “recatado” em tradução literal, tenha conquistado o título. A popularidade dessa palavra disparou após o vídeo satírico viral da influencer Jools Lebron no TikTok, aconselhando as mulheres a serem “muito cuidadosas e modestas” no ambiente de trabalho.
Efeitos do “brain rot”
Diversos estudos reforçam que o uso de plataformas como Instagram e TikTok pode levar à ansiedade, depressão e baixa autoestima. Crianças, adolescentes e até mesmo adultos são envergonhados online e comparam suas vidas com as narrativas criadas e editadas por outros. “Quando passamos horas navegando e rolando, consumimos enormes quantidades de dados sem sentido, notícias negativas e fotos perfeitamente retocadas de amigos e celebridades que nos fazem sentir inadequados”, escreveu o centro de tratamento de saúde mental e dependência Newport Institute em uma descrição de “brain rot” no início deste ano.
Tentar absorver e lidar com grandes quantidades de conteúdo “cria fadiga mental”, afirmou o instituto. “Isso pode levar a uma queda na motivação, foco, produtividade e energia ao longo do tempo, especialmente entre os jovens.”
Fadiga das telas no trabalho
Com a ascensão do trabalho remoto e a dependência de ferramentas digitais, nossas vidas profissionais tornaram-se ainda mais conectadas às telas. E-mails intermináveis, videoconferências e notificações constantes criam uma sensação de cansaço permanente, como se estivéssemos vivendo em um estado de hiperatividade mental, mas com pouca profundidade. Esse excesso de estímulos contribui para a sensação de desgaste descrita pela expressão.
Além disso, a necessidade de estar “sempre disponível” online exacerba esse efeito, dificultando a desconexão e aumentando os níveis de estresse e ansiedade.
A fadiga de telas no trabalho, condição causada por esse uso prolongado de dispositivos digitais, está associada a uma série de sintomas físicos, mentais e emocionais que podem impactar a produtividade e o bem-estar dos profissionais. O resultado? Uma redução na eficiência e no engajamento dos trabalhadores, além de maiores riscos de erros e insatisfação, o que pode aumentar o turnover.
Primeiro uso registrado de “brain rot”
Embora “brain rot” tenha se tornado sinônimo da cultura digital, a expressão tem suas origens no século XIX, muito antes dos vídeos de gatos e as tendências do TikTok se tornarem um hábito no entretenimento online. Henry David Thoreau foi o primeiro a registrar a frase em seu clássico livro de 1854 “Walden“, uma reflexão sobre a experiência do autor ao viver de forma simples na natureza.
No livro, Thoreau observou que a sociedade tende a se inclinar por ideias simples em vez daquelas que exigem mais envolvimento mental: “Enquanto a Inglaterra tenta curar a podridão da batata, ninguém tenta curar a podridão do cérebro — que prevalece muito mais amplamente e fatalmente?”
Enquanto Thoreau usou “brain rot” para criticar a sociedade, os usuários da internet costumam usar o termo de forma bem-humorada e autodepreciativa para descrever a estagnação mental resultante do excesso digital.
Ainda assim, a popularidade do termo gerou discussões sérias sobre os efeitos cognitivos e de saúde mental da rolagem sem fim nas redes sociais — e, cada vez mais, da IA gerativa — especialmente entre os jovens. Países e escolas estão intensificando as proibições de celulares como forma de reduzir distrações na sala de aula e, esperançosamente, combater alguns dos supostos efeitos psicológicos adversos do tempo excessivo nas redes sociais.
O reconhecimento de “brain rot” como um reflexo de nossa era digital é também um chamado para repensar nossa relação com a tecnologia.
*Leslie Katz é colaboradora da Forbes US. Ela é uma jornalista com experiência em arte, ciência, saúde, religião e espiritualidade.