
Quem nunca inflou uma experiência no currículo, escondeu o real motivo de uma demissão ou fingiu fluência em um idioma que mal falava?
Mentiras que, à primeira vista, podem parecer inofensivas estão no radar dos recrutadores – e podem custar a sua tão sonhada vaga. Segundo o Índice de Confiança da consultoria Robert Half, 65% dos recrutadores já eliminaram candidatos por inconsistências ou falsificações no currículo. “Caso a falsificação seja descoberta após a contratação, o profissional pode ser demitido por justa causa, o que prejudica sua carreira”, afirma Leonardo Berto, gerente da Robert Half.
Especialistas lidam diariamente com candidatos que tentam se destacar recorrendo a mentiras, e estão prontos para desmascará-las – seja por meio de entrevistas, testes técnicos ou checagens de referência.
No Dia da Mentira (1), veja as falsificações mais comuns no currículo – e por que elas podem comprometer sua reputação profissional:
- 1. Experiência profissional inflada: Cargos e responsabilidades exageradas (ou até inventados) estão no topo da lista das inconsistências mais detectadas;
- 2. Habilidades técnicas superestimadas: Muitos profissionais alegam domínio em ferramentas e conhecimentos que, na prática, não possuem;
- 3. Falsa proficiência em idiomas: Declarar fluência sem comprovação pode ser facilmente desmascarado em testes ou entrevistas;
- 4. Histórico educacional adulterado: Diplomas inexistentes ou cursos não concluídos são rapidamente identificados em checagens acadêmicas;
- Motivos nebulosos para desligamentos: Na tentativa de evitar questionamentos, profissionais escondem a verdadeira razão de uma saída, o que pode gerar desconfiança e ser um alerta para recrutadores.
Como os recrutadores identificam as mentiras?
Além da análise do currículo, recrutadores e profissionais experientes comparam informações entre documentos, redes como o LinkedIn e outras fontes disponíveis e ficam atentos a discrepâncias em datas, cargos e responsabilidades. “A estrutura do currículo e a coerência das informações já oferecem indícios de possíveis distorções”, explica Berto.
Durante a entrevista, o recrutador também pode aproveitar para questionar o candidato sobre experiências, responsabilidades e métricas de desempenho que vão ajudam a avaliar se ele de fato possui o conhecimento que alega ter. Muitas empresas também utilizam testes práticos ou cases para confirmar habilidades, principalmente em níveis mais operacionais ou técnicos. “O check de referências complementa essa análise. Contatar ex-gestores, colegas ou clientes traz percepções sobre o desempenho real do candidato.”
Melhor falar a verdade ou seguir com a mentira?
Em vez de inflar experiências ou omitir um desligamento, por exemplo, o executivo da Robert Half sugere que o melhor caminho é a transparência. “O profissional pode destacar iniciativas que tomou para se manter atualizado, como cursos, projetos freelancers ou trabalhos voluntários.”
O impacto da mentira também está diretamente relacionado à proporção dela. “Há casos em que a mentira está ligada mais ao despreparo, imaturidade ou nervosismo do que a uma tentativa deliberada de enganar”, diz Berto. “Em algumas situações, a sinceridade tardia pode amenizar o impacto da omissão.”
Como abordar demissões e experiências negativas
A transparência é essencial, mas a forma como você se comunica faz toda a diferença e deve demonstrar maturidade. “Um erro comum é relatar experiências negativas de maneira inadequada, como criticar antigos gestores ou empresas.”
Leonardo Berto recomenda que, se houver questões sensíveis para abordar durante um processo seletivo, a melhor estratégia é se preparar para esse momento com uma resposta bem estruturada, sem inventar mentiras. “Ao abordar razões de desligamento ou dificuldades em empregos anteriores, o ideal é focar em aspectos objetivos, como desalinhamento cultural ou mudanças na estrutura da empresa, sem entrar em julgamentos pessoais.”
Saiba o que deixar de fora: “Detalhes irrelevantes ou questões que não agregam valor à conversa, como conflitos passados sem relação com o cargo em questão, podem ser evitados.”
Reputação
O que está em jogo é a reputação do profissional. “A credibilidade é um dos ativos mais valiosos na carreira de qualquer profissional”, afirma Berto. Se não tiver as habilidades ou a experiência necessárias para esse emprego, talvez não consiga a oportunidade. Mas é fato que mentir reduz consideravelmente as chances de conquistar essa e outras vagas. “Isso pode resultar em dificuldades para conseguir novas oportunidades, além de comprometer relacionamentos profissionais e recomendações futuras.”