Não há nada tão delicioso do que a união de gordura e carboidratos no mesmo prato. Cada um é bom por si só, mas, quando se unem, a mágica (ou o vício) acontece. Os fabricantes de alimentos industrializados, como batatas fritas, muffins e sorvetes, certamente sabem disso faz tempo.
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Agora, um novo estudo da Universidade de Yale analisa por quê, sob o ponto de vista neurológico, a combinação do carboidrato com a gordura é tão inebriante e por quê, mesmo quando dizemos que não gostamos deles, estamos dispostos a pagar mais para consumi-los. A pesquisa foi publicada na última quinta-feira (14), na revista “Cell Metabolism”.
A equipe fez com que as pessoas olhassem para fotos de alimentos ricos em carboidratos (pretzels), gordurosos (queijo) ou que unissem ambos (doces). Foram avaliadas a densidade de energia e calorias de cada comida e o quanto cada uma delas era atraente. Os participantes também declararam quanto estariam dispostos a pagar por cada opção apresentada.
Os participantes eram muito bons em estimar a energia fornecida pelos alimentos gordurosos, mas ruins em estimar quantas calorias havia em cada um deles. Isso pode ajudar a explicar por que é difícil saber quando parar de comê-los.
Não surpreende o fato de as pessoas também estarem dispostas a pagar mais pelos alimentos que contêm gorduras e carboidratos juntos. Curiosamente, o preço que pagariam não estava vinculado a quanto se gosta do alimento em questão, o que mais uma vez sugere que eles juntos impactam mais o consumidor.
Para chegar a isso, a equipe também analisou o que acontece no cérebro quando as pessoas veem e os diferentes tipos de alimentos. As respostas de duas áreas cerebrais em particular, o caudado e o putâmen, eram muito mais fortes em relação às gorduras e carboidratos juntos do que sozinhos. Eles também correspondiam mais com os preços que as pessoas estavam dispostas a pagar pelos dois, em comparação a qualquer um dos dois tipos de alimentos sozinhos. Essas áreas estão intimamente envolvidas no desejo, recompensa e ações direcionadas a objetivos, e liberam dopamina em resposta a estímulos deleitáveis.
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“Nosso estudo mostra que, quando os sinais são combinados, eles tornam os alimentos mais reforçados”, diz Dana Small, uma das responsáveis pela pesquisa. Ela diz acreditar que o cérebro processa carboidratos e gorduras separadamente e que, quando os dois nutrientes estão presentes em um único alimento, ambos os sistemas são ativados, o que pode nos deixar um pouco “malucos”.
Alimentos que são ricos em gorduras e carboidratos simplesmente não são encontrados na natureza. Por exemplo, as frutas são ricas em açúcar, mas não têm gordura, enquanto a carne vermelha pode ser rica em gordura, mas não tem carboidratos. A única comida que tem os dois é o leite materno, e é fácil entender por que um forte desejo por ele seria evolutivamente vantajoso para uma criança.
Por isso, as pessoas cujo trabalho é projetar alimentos processados altamente atrativos, como batatas fritas e donuts, aproveitam a fraqueza do nosso cérebro para a combinação desses nutrientes. E, claro, eles provavelmente contribuem para a epidemia de obesidade, já que esses alimentos costumam desencadear comportamentos que não são tão diferentes do vício.
Mas, talvez, saber o quão suscetíveis nossos cérebros são para a combinação pode nos tornar mais resistentes a comprar esses alimentos compulsivamente.