Apesar de o Brasil não estar entre os 20 países com maior incidência de pessoas diagnosticadas com melanoma, o tipo mais agressivo do câncer de pele e não tão comum por aqui – quem está no topo da lista é a Austrália, segundo o Instituto Americano de Pesquisa sobre o Câncer –, o tipo não melanoma, que abrange o carcinoma epidermoide e o basocelular, continua respondendo por cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. O câncer de pele deve ser o responsável por quase 172 mil novos casos entre 2018 e 2019. Essa é a previsão feita pelo Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva, o Inca, do Ministério da Saúde.
Não é difícil entender essas estatísticas: vivemos em um país tropical, com temperaturas altas e a predominância do sol quase o ano todo, e os tumores malignos na pele acontecem, entre outros fatores, pelo excesso de exposição aos raios ultravioleta. Além disso, pessoas com histórico familiar da doença, pele e olhos muito claros, albinas ou com excesso de pintas pertencem ao grupo de maior risco.
Há muitos anos fala-se em terapia fotodinâmica para tratamento do câncer de pele, com resultados eficazes e comprovados; essa seria uma opção não cirúrgica para alguns tipos da doença, com resultados estéticos também satisfatórios. No entanto, nos últimos anos, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos, da USP, desenvolveram um dispositivo com tecnologia 100% nacional para o tratamento óptico do câncer de pele não melanoma, com resultados promissores – inclusive com a possibilidade de eliminar os tumores iniciais. A técnica foi apresentada na Escola São Paulo de Ciência Avançada em Tópicos Modernos em Biofotônica, evento que aconteceu em março deste ano, em São Carlos (SP), e o procedimento está sendo avaliado para implantação no Sistema Único de Saúde (SUS).
A técnica desenvolvida no interior paulista inclui um dispositivo que reconhece a extensão das lesões cancerígenas por meio da fluorescência óptica. Feita essa análise, é aplicada uma pomada à base de metilaminolevulinato, uma substância quimioterápica derivada do ácido 5-aminolevulínico. Algumas horas após entrar em contato com a pele, o composto é absorvido e dá origem, no interior das mitocôndrias das células tumorais, à protoporfirina, um pigmento fotossensibilizante. Remove-se a pomada e uma luz de LED vermelha a 630 nanômetros, integrada ao aparelho, é irradiada por 20 minutos; essa luz ativa a protoporfirina, que causa reações nas células tumorais, gerando espécies reativas de oxigênio capazes de eliminar as lesões. O protocolo de tratamento consiste na realização de duas sessões, com um intervalo de uma semana entre elas. Após um mês, as lesões são reavaliadas e submetidas a biópsia, para confirmar se os tumores foram eliminados.
Dispositivo para tratamento óptico desenvolvido no interior paulista pode eliminar tumores iniciais
Como a prevenção é sempre o melhor caminho, é possível fazer um exame diagnóstico, no qual, além de avaliar as lesões (pintas e/ou lesões suspeitas), podemos acompanhar a evolução das mesmas. Esse método é chamado de mapeamento dermatoscópico corporal digital, realizado por meio de um aparelho computadorizado, disponível em alguns hospitais e consultórios dermatológicos.
Mas como saber se uma alteração na pele pode ou não ser um câncer? Em geral, ela é avermelhada, rósea ou escura e cresce de forma lenta e progressiva, podendo ter o aspecto de uma ferida que não cicatriza e que eventualmente coça e sangra. O tamanho, quase sempre, é maior do que 6 milímetros; quanto às lesões escuras, as mais preocupantes são as assimétricas e com bordas irregulares. É importante ficar de olho em manchas, pintas e outros sinais; muitos pacientes chegam ao consultório com outros tipos de queixas ou procurando tratamentos para outras áreas do corpo, e saem com um diagnóstico de câncer de pele. Por isso, consulte um dermatologista regularmente; só ele poderá dizer se há motivos para se preocupar.
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