Desde o último dia 3, quando a Anvisa liberou a produção de produtos à base de cannabis para uso medicinal em território brasileiro e sua distribuição nas farmácias, novas iniciativas relacionadas ao negócio surgem quase que diariamente. Há menos de uma semana, por exemplo, o ex-CEO da Bayer no Brasil, Theo Van der Loo, revelou que está prestes a voltar ao setor farmacêutico, desta vez à frente da NatuScience. Ele já é sócio, no Uruguai, de uma empresa que faz o cultivo da cannabis para fins medicinais – coisa que, no Brasil, ainda é proibida. Mas disse que vai entrar com pedido na agência reguladora para fazer ensaios clínicos para novos tratamentos em território nacional.
A Terra Viva, uma produtora de flores e plantas de Holambra, no interior de São Paulo, conseguiu, nos últimos dias, uma liminar para importar e cultivar as sementes de cânhamo, um derivado da cannabis, sem efeito psicoativo. A ideia é importá-las dos Estados Unidos e Holanda, extrair os insumos, como a fibra, usada na indústria têxtil, o CBD, para a farmacêutica, e o óleo, para a fabricação de alimentos. A expectativa é que o produto esteja pronto para ir ao mercado no segundo semestre de 2020.
Os números justificam essas iniciativas. No ano passado, o mercado global de cannabis movimentou US$ 18 bilhões. Só nos Estados Unidos, o faturamento esperado com os derivados de cannabis até 2022 é de US$ 22 bilhões, segundo o levantamento da consultoria especializada Brightfield Group. Cálculos feitos pela empresa de dados NewFrontier em parceria com a startup brasileira The Green Hub estimaram que, com a legislação favorável à cannabis medicinal no Brasil, o número de pacientes beneficiados pode chegar a 3,9 milhões em três anos – o que significa um mercado potencial de R$ 4,7 bilhões por ano.
Caroline Heinz, presidente da HempMeds Brasil, que em 2015 tornou-se a primeira empresa a fornecer um produto à base de cannabis (o RSHO) para o Sistema Único de Saúde, de maneira judicializada, ou seja, para aqueles que não têm condições de pagar pelo medicamento e entram na justiça para consegui-lo, acredita que a medida da Anvisa muda completamente o cenário no país sobre o tema.
“A importação, que é a maneira como trabalhamos hoje, é um processo caro, burocrático e demorado, que leva cerca de três meses. Muitos médicos, que poderiam receitar os medicamentos em benefício de seus pacientes, principalmente para aqueles que necessitam do uso contínuo, não o fazem porque não podem correr o risco de interromper o tratamento por um problema na logística”, conta, ressaltando que, com a nova regulamentação, esses pacientes teriam acesso quase que imediato.
A partir de agora, a empresa vai importar a matéria-prima e produzir e envasar os medicamentos por aqui. Essa nova forma de operação promete impactar de forma considerável o preço final do fármaco. A executiva, que também é vice da HempMeds USA, que, assim como a unidade brasileira, é uma subsidiária da Medical Marijuana, a primeira empresa de cannabis negociada publicamente nos Estados Unidos, estima que essa redução seja ao redor de 50%, ou seja, metade. É uma economia expressiva. O valor médio de uma seringa de RSHO, por exemplo, é atualmente de US$ 200.
Além do tempo e do preço, Caroline diz que as novas regras já resolveram, de antemão, um potencial problema: no início de outubro, o Paraguai concedeu licenças a cinco empresas para produção, industrialização e comercialização controlada da cannabis medicinal no país. Caso o Brasil não seguisse o mesmo caminho, a probabilidade da criação de um mercado paralelo, via contrabando, seria muito grande.
“A decisão foi boa para todo mundo. Para as empresas do setor, que vão precisar estruturar operações para as etapas de produção e envase, para médicos e pacientes, e para o governo, que atualmente compra metade de todos os medicamentos à base de cannabis que entram no país”, diz ela.
Vale lembrar que esses medicamentos só poderão ser comprados com prescrição médica e que o uso recreativo da cannabis continua sendo proibido.
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Líderes em formação
O programa que ajudou a formar nomes de expressão no cenário nacional, como a deputada federal Tabata Amaral, o empreendedor Hugo Barra, ex-líder da área de realidade virtual do Facebook, e a dupla Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, fundadores da empresa de meios de pagamento Brex, está com as pré-inscrições abertas até o dia 9 de janeiro para o processo seletivo 2020. A iniciativa é da Fundação Estudar, de Jorge Paulo Lemann, da Ambev, o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em US$ 22,6 bilhões pela FORBES. Entre os requisitos estão inquietude transformadora, sede de mudança e potencial para gerar impactos positivos e melhorar o Brasil por meio da educação. O programa Líderes Estudar é voltado para jovens com idades entre 16 e 34 anos, interessados em bolsas de estudos aqui e no exterior, em quatro categorias: graduação completa no Brasil; intercâmbio acadêmico de graduação ou duplo diploma (intercâmbio); graduação completa no exterior e pós-graduação no exterior. O processo seletivo, que na última edição recebeu mais de 60 mil inscrições, é composto por sete etapas. Na última, os pré-selecionados encaram um painel com a participação de membros e conselheiros da Fundação Estudar, que hoje inclui, além de Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, seus sócios na cervejaria.
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Moda turbinada
A marca paulistana de roupas masculinas Oriba acaba de receber um aporte de R$ 4 milhões da Global Founders Capital, fundo de capital de risco com sede em Berlim que já apostou em empresas como Trivago, Dafiti e Westwing. Este é o primeiro aporte que a grife recebe em mais de cinco anos de atuação. Criada pelos sócios Paulinho Moreira, Marcelo Collis e Rodrigo Ootani com US$ 30 mil, possui atualmente três lojas físicas em São Paulo e um e-commerce de alcance nacional. Com o novo aporte, a intenção é abrir cinco novas unidades, duas delas fora da capital paulista, e contratar um time de engenheiros e especialistas em comportamento para encontrar soluções em moda básica adequadas ao seu público.
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Matrícula garantida
O BV, nova marca do Banco Votorantim, e o PRAVALER, fintech de soluções financeiras para educação, renovaram a parceria comercial por mais uma década para a oferta de crédito estudantil. Por meio do acordo, firmado em 2016, mais de R$ 50 milhões já foram destinados para que cerca de 5 mil pessoas pudessem ter acesso ao ensino superior. “Estamos investindo fortemente em tecnologia para facilitar ainda mais esse acesso”, diz Luiz Barros Filho, CFO da fintech que, em 18 anos, já concedeu mais de R$ 3 bilhões para 150 mil alunos.
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Delegação da beleza
A edição 2020 do NRF – considerado um dos mais importantes eventos de varejo do mundo – já está na agenda de uma centena de empresários brasileiros do setor de beleza. A delegação formada pela Beauty Fair passará uma semana em Nova York, entre os dias 10 e 16 de janeiro, imersa em capacitação, reuniões estratégicas, visitas técnicas, palestras em Cornell Tech, centro de desenvolvimento de tecnologia vinculado à Cornell University, e visitas guiadas a varejistas norte-americanos. A comitiva, que acumula em conjunto cerca de 1 mil pontos de venda no país e representa um faturamento anual de R$ 4 bilhões, tem integrantes da Ikesaki, Inovar Cosméticos e Sumirê, entre outras empresas do setor. O objetivo é trazer para o mercado nacional as melhores práticas de varejo e desenvolver, por aqui, o canal perfumaria.
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Foodtech capitalizada
A Eats for You, foodtech que conecta donas e donos de casa que gostam de cozinhar a quem não abre mão de uma comida caseira, recebeu investimentos de quase R$ 770 mil em uma rodada liderada pela Bossa Nova com participação do GV Angels. Em dois anos de operação, a startup já gerou mais de R$ 800 mil em renda para cozinheiros cadastrados. A rodada de investimentos segue aberta e, até o final do primeiro trimestre de 2020, a expectativa é concluir uma captação de R$ 1,5 milhão. Segundo o CEO e fundador da empresa, Nelson Andreatta, o investimento será usado para aprimorar a tecnologia e expandir a atuação. “Hoje estamos em alguns dos principais polos empresariais das cidades de São Paulo, Barueri, Cuiabá e Curitiba. Com os novos recursos, vamos acelerar o crescimento.” João Kleper, partner da Bossa Nova – que já havia participado de aportes anteriores na Eats for You – diz que a empresa leva muito mais do que tecnologia para o setor de alimentos. “O grande negócio deles é a geração de impacto social.”
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Balanço bom
A subsidiária brasileira do fundo japonês bilionário Softbank prevê menos investimentos em 2020, e avisa que seus maiores cheques ainda serão assinados. Em encontro com a imprensa em São Paulo hoje (13), o líder da operação brasileira, André Maciel, fez um breve balanço de 2019 no Brasil e antecipou que deals grandes e menos óbvios começarão a serem concluídos no início do próximo ano. Segundo Maciel, o fundo já investiu entre R$ 6 bilhões e R$ 10 bilhões em 19 aportes em empresas na América Latina em seu primeiro ano de operação, a grande maioria no Brasil. Destas, 14 foram anunciadas, enquanto os outros aportes não foram divulgados: “Existem empresas que preferem colocar a mão no dinheiro, realizar coisas e depois anunciar”, aponta. Além dos grandes novos investimentos, parte do fundo de US$ 5 bilhões para a região será reservada para novos aportes “follow-on” em empresas já investidas. O Softbank tem investido entre US$ 7 e US$ 350 milhões por rodada. Desde que começou a operar na região, o fundo analisou mais de 300 empresas, sendo que 15 delas foram diligenciadas, mas o fundo optou por não investir. O portfólio latino da empresa inclui o unicórnio colombiano Rappi, que recebeu o maior investimento do Softbank, além das brasileiras QuintoAndar, Loggi, Gympass, Creditas, MadeiraMadeira, Volanty, Olist, Buser, Banco Inter e Vtex.
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