George Bush, 41º, contou-me que o então recém-batizado Nafta havia sido criado a partir de uma iniciativa do presidente do México, Carlos Salinas de Gortari (1988-1994). Em sua primeira semana no poder, ele ligou para a Casa Branca e sugeriu-lhe a integração econômica de México, Canadá e EUA. Propôs enviar uma delegação chefiada por seu ministro Jaime Serra Puche a Washington para iniciar as conversações. Bush aceitou a sugestão. Falando com o primeiro-ministro do Canadá, Brian Mulroney, deu o pontapé inicial ao Nafta.
Tive a oportunidade de assistir ao acordo final em Beaver Creek, assinado por Carla Hills em nome dos americanos, e, ao início da tramitação do acordo, com o envio ao Congresso da lei que permitiu ao Hemisfério Norte criar um importantíssimo bloco comercial. Trump o renegociou, e seu nome passou a ser Acordo Estados Unidos-México-Canadá.
Coincidentemente, passados vários anos, George W. Bush, 43º, propôs ao Brasil a criação da Alca, que foi totalmente rejeitada por Lula e pelos bolivarianos e argentinos. Surge agora uma oportunidade para o Brasil ganhar acesso privilegiado ao enorme mercado americano. O tempo é curto, e temos muitos pontos a negociar. O primeiro deles é o waiver (dispensa), pelo Mercosul, da exigência de que nenhum de seus membros possa negociar individualmente qualquer acordo.
Se olharmos o mapa das Américas, vamos distinguir blocos ideológicos e políticos agrupando países partidários do livre comércio e da abertura comercial, divididos em pelo menos quatro blocos. O dos países fechados e socialistas puros inclui Venezuela, Cuba e Nicarágua, nos quais, aliás, se concentra agora o interesse (comercial, econômico e político) russo, com a possível abertura de portos e bases militares já em pleno desenvolvimento. Neles se pode incluir a Bolívia, mais moderada. Aos socialistas mais abertos, como a nova Argentina, em aliança estreita com o México, será reservado um papel relevante em um eixo ideológico e econômico respeitável. E o Uruguai, dependendo das eleições, se alinhará a um dos grupos prevalecentes. Peru, Colômbia, Equador, Paraguai, Chile, Guatemala, Panamá, El Salvador, República Dominicana e Costa Rica, ao lado do Brasil, se aproximam muito, em termos de definições pela economia de mercado e de liberdade crescente de empreender. O Caribe – e seu projeto Caricon – está mais voltado comercialmente aos EUA, gozando de acesso comercial privilegiado.
“Estamos em águas revoltas, mas promissoras. Estabilizamos nosso navio. Temos direção e ventos favoráveis. Perdemos o medo de caras feias e ameaças.”
O Brasil, por seu equilíbrio político e pela dinâmica de sua economia (voltando a apresentar um crescimento constante), surge com papel relevante nas Américas, papel que até hoje não desempenhamos na altura daquilo que podemos e que é esperado por nossos vizinhos. O peso específico do país é um fator de equilíbrio na América Latina e, transitando entre os países do nosso bloco e com acesso privilegiado por relações pessoais entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, o Brasil se transformará em sócio preferencial dos países do Hemisfério Norte.
Estamos em águas revoltas, mas promissoras. Estabilizamos nosso navio. Temos direção e ventos favoráveis. Perdemos o medo de caras feias e ameaças. E marcamos posições. Equilíbrio e diálogo, somados a reformas internas que completem as já feitas e em curso, conduzem-nos ao crescimento de 2,7% a 3% em 2020 e superior a 3,5% em 2021. Acima de tudo está a redução de nosso déficit monumental, atingindo 80% do PIB neste ano.
É hora de acelerar, mas economizando, com mão de ferro, pois os dois polos não são incompatíveis. Só precisam de boa gerência. E que o Executivo e o Legislativo aprovem as reformas e o Projeto Brasil.
Mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das Américas
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