A história já nos mostrou outras vezes que é possível tirar boas lições mesmo de períodos trágicos. Estamos vivendo um dos mais terríveis momentos da história moderna mundial do ponto de vista social e humanitário. Vagas são fechadas, empregos são perdidos, a fome avança entre os mais pobres e a morte de brasileiros cresce a cada dia, numa velocidade estupenda – muitos deles eram pessoas que conhecíamos ou mesmo um de nossos entes queridos. A crise causada pelo coronavírus é incomensurável do ponto de vista humano.
Em meio a tantas notícias ruins, o que nós médicos que cuidamos da saúde mental temos visto é uma significativa parcela de famílias dizendo que a quarentena lhes ofereceu uma oportunidade única de reconectar e de criar boas memórias, ainda que a realidade que se apresenta seja duríssima.
É bem verdade que as medidas de distanciamento social que nos botou em quarentena impuseram um convívio intenso, que vem seguido de desafios os mais variados. Mas também é verdade que a quarentena gerou uma oportunidade de renovar relações que tinham ficado mais distantes em decorrência de excesso de trabalho e de compromissos profissionais.
Esse talvez seja um momento inédito para as famílias. Provavelmente seja a primeira vez que precisamos ficar confinados em casa por um período que ainda não se sabe muito bem quando vai acabar. Assim como o meu próprio cotidiano foi completamente reformulado – eu saía de casa às 6 e pouco da manhã e retornava quase 8 da noite –, o de outras famílias também foi, ao ponto de estarmos presenciando cenas antes raras, como pais e filhos cozinhando juntos. Isso é muito simbólico e um exemplo de como muitas famílias estão se reinventando e se redescobrindo.
Muitas delas estão aprendendo a aprimorar a sua comunicação com os demais e principalmente estão aprendendo a ouvir uns aos outros. Tenho testemunhado muitos relatos de que as conversas familiares estão mais soltas, há mais frases amorosas, mais piadinhas.
Há muitos desafios inerentes ao fato de estarmos todos presos dentro de casa, sem dúvida nenhuma. Mas, com um pouco de esforço, talvez muitas famílias consigam criar um novo modelo de viver junto, que respeite as diferenças e seja temperado no amor.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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