O significado em francês: “o primeiro”. O primeiro a ter acesso aos vinhos mais cobiçados do mundo! “En primeur” é uma estratégia, que foi implementada no início do século 20 em Bordeaux, para levantar capital de giro para os châteaux. Como vantagem para quem compra, preços mais baixos, proveniência garantida e alavancagem no investimento que varia entre 11% e 18% ao ano. Interessante? Sim, mas como qualquer investimento, precisa se situar um pouco.
Em Bordeaux e na Borgonha, os agentes são, praticamente, uma entidade pois, nada sai do château ou do domaine sem que passe pelos “négociants” (agentes, negociantes). São eles os responsáveis por toda a burocracia, pois os châteaux eram pequenos e o foco era cuidar das vinhas e do operacional. Mesmo com o crescimento dos châteaux, isso não mudou muito. Os agentes são quem detém o controle das alocações.
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Alocação diz respeito a quantos vinhos eu vendo para o cliente A, B, C etc., distribuindo e alocando os vinhos de acordo com o relacionamento. É praticamente uma máfia! E tem châteaux e domaines com lista completa. Ou seja, não entra mais ninguém e por isso é tão difícil ter acesso a alguns vinhos. Na Califórnia, por exemplo, muitos dos melhores produtores tem 80% de mailing direto e sobra apenas 20% para venda externa e, geralmente, mercado interno americano.
Com o mercado consumidor de vinhos crescendo nas últimas décadas, investir se tornou uma excelente opção para diversificar a cartela com baixo risco. Além de ter a vantagem de poder beber todo o investimento, caso ele não seja rentável como o esperado. Mas, com certeza, aqui, nada se perde.
Comprar “en primeur” requer um bom relacionamento com seu importador, agente ou investidor. Precisa ter experiência para entender os riscos!
Todo ano em Bordeaux, o evento En Primeur é visitado por investidores, jornalistas, críticos de vinhos, negociantes e importadores que degustam os vinhos, logo após o começo da primavera no hemisfério norte, em final de abril. Os vinhos são da safra anterior. Se estamos em 2020, os vinhos degustados serão os colhidos em 2019 (esse ano foi cancelado por causa da pandemia), por exemplo. Jovens, certo? Degustados ainda na barrica, que ficarão por ainda alguns anos maturando.
E como degustar vinhos tão jovens, ainda mais os de Bordeaux, e saber qual vai ficar bom ou não? Experiência, técnica, sensibilidade, informações sobre o produtor e o mercado.
Após degustar, os vinhos são pagos na hora, mas os impostos apenas quando saem do produtor, que acontece em cerca de dois a três anos após a compra. Pode ser considerado um investimento de médio/longo prazo dependendo da disponibilidade do investidor. Às vezes, se quer vender depois de cinco a oito anos, às vezes, 15 a 20 anos ou mesmo as gerações seguintes que as vendem em leilões. Tudo depende do acompanhamento do mercado, oportunidades, necessidade de cash flow.
Segundo Robert Parker, Bordeaux e Borgonha tiveram um ápice muito exponencial e agora estão, relativamente, estáveis. Mas lugares como Champagne, Rhône, Alemanha, Itália e Porto têm sido opções boas. Califórnia é sempre rentável, ele diz. Claro que Parker sempre puxa uma sardinha para o seu país, mas temos de concordar que esta afirmação tem fundamento.
Esse é um interessante mercado, para quem gosta, principalmente, pois acaba sendo um hobby/investimento. É um mercado estável, sólido, com pouco risco, um bom retorno e ainda proporciona uma farta adega para compartilhar com familiares e amigos, no pior dos cenários.
Segundo o Bordeaux Institute of Wine and Vine Science (ISVV), 2019 atingiu 4,5 dos 5 requisitos determinados para uma excelente safra.
Vai ser um clássico como 2005, 2009 e 2010. Não houve o evento, mas os vinhos foram degustados por uma parcela pequena daqueles que determinam o mercado. Para os clientes, algumas amostras foram enviadas, mas, com certeza, a campanha dos “en primeur” foi extremamente reduzida. Nessas condições, 2019 vai ser uma oportunidade para se comprar, excelente vintage com preços mais acessíveis. Fica a dica.
Para aqueles que não têm paciência, melhor contratar um profissional. A dica é comprar vinhos de investimento e de consumo separados, segundo Tom Gearing da Cult Wines Asset Management. Eles ajudam também a fazer planejamento como, quantos vinhos você bebe por semana, quantos aniversários, leva vinho para festas? Dá vinho de presente? Tem comemoração da empresa? E com essa planilha dá para se organizar e fazer gerenciamento de budget.
Lembrar de deixar uma parte para as ocasiões não previsíveis é muito importante, como o meu marido fala todo mês: “Não dá para ter tanta variável no budget do vinho, pois assim não conseguimos fazer o planejamento”. É, cada um tem um calcanhar de Aquiles. Mas eu prometo que estou tentando pois como diz o ditado, “em casa de ferreiro, espeto de pau”.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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