Inicio este texto com alguns números que ajudam a dar uma ideia de como estamos – do ponto de vista psiquiátrico – praticamente seis meses depois que a quarentena começou, em março. Os casos de estresse agudo subiram 40%, a prevalência de ansiedade aguda, 71%, a depressão praticamente dobrou, passando de 4,2% para 8%, como mostrou uma pesquisa feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com 1.460 pessoas de 23 Estados brasileiros entre março e abril.
Esse cenário desolador é visto também em outros países do mundo. Nos EUA, por exemplo, quase 30% dos norte-americanos disseram apresentar sintomas de depressão no final de julho, comparados aos 6,6% de 2019, de acordo com um levantamento recente (Household Pulse Survey) realizado pelo National Center for Health Statistics em parceria com o Census Bureau. Os casos de ansiedade chegaram perto de 36%, comparados aos 8,2% do ano passado.
O que esses dados ajudam a mostrar é que o medo da perda do emprego, de renda e dos negócios, e a ansiedade gerada pela preocupação com a nossa vida e com a de nossos entes queridos se espalhou tão rapidamente quanto o coronavírus. O temor e a insegurança quanto ao futuro foi o estopim para o crescimento avassalador de transtornos mentais.
O sofrimento causado pelas doenças mentais não tem apenas grande impacto em nossa vida pessoal, afetando as nossas relações interpessoais, como cobra um preço grande em nossa vida profissional. Como bem disse o meu colega Maurício Ceschin, conselheiro da Mantris, no webinar sobre saúde mental promovido pela Forbes Brasil no dia 11/8 e que Antonio Camarotti, CEO da Forbes, e eu conduzimos, a pessoa que está ansiosa ou deprimida em casa é a mesma pessoa que está trabalhando.
São esses indivíduos estressados, fragilizados – alguns até “quebrados” emocional e psicologicamente – que começam a retornar aos escritórios, às plantas ou que têm de dar conta de metas, executando tarefas em casa com família e filhos compartilhando espaço.
A pandemia ainda está longe de estar sob controle e a real dimensão do impacto dela em nossos corpos e mentes só deverá ser avaliada e divulgada em alguns anos; porém, como médico, não tenho medo de afirmar que, por todos os motivos que acabei de expor, a saúde mental deverá ser o tema de maior relevância médica deste século.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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