A origem da palavra “investir” vem do latim “investire”, que significa se vestir. O sentido monetário veio com a conexão do Ocidente com o Oriente, usar o dinheiro em algo que produza lucro. Mas, quanto estamos dispostos a esperar pelo retorno de um investimento? Depende do propósito!
Se o propósito for rolhas de cortiça, vindas do sobreiro (Quercus suber), que tem sua maior concentração no Alentejo, em Portugal, isso pode levar de 15 a 25 anos para a primeira extração. A cortiça é a casca da árvore do sobreiro, algumas pessoas sabem disso, mas outras não.
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Uma vez tirada essa casca, que tem em torno de 15 metros, a nova casca demora por volta de 10 anos para se refazer. Ufa, o começo não deve ter sido fácil para segurar o capital de giro. Portugal é o maior produtor de cortiça, com 50% da produção mundial, que contribui com 3% do PIB do país. Outros 15% vem de lugares que variam entre Espanha, Itália e França, e o restante, 35%, do norte da África.
A rolha já era utilizada por egípcios, gregos e romanos e nas tumbas do Egito, foram encontradas provas disso. Hoje em dia, a maior utilização da cortiça é para a indústria do vinho. Uma árvore de sobreiro é produtiva por entre 160 e 200 anos, sendo que a mais antiga tem 237 anos e está na ativa.
A colheita é manual, nos meses de junho e julho, e as cascas das árvores têm de ficar secando por mais uns seis meses antes de serem usadas. As melhores empresas fazem isso sobre concreto e não direto na terra para evitar contaminação de TCA (tricloroanisol) responsável por aquele odor horroroso de mofo que acaba com o vinho. As cascas mais grossas fazem as rolhas premium e as mais finas e as sobras são aglomeradas para fazer rolhas de um estilo diferente.
A cortiça é isolante térmico e sonoro, naturalmente. Sua produção é sustentável e ecológica sendo que, uma árvore que tem sua casca retirada, e a refaz depois absorve cinco vezes mais dióxido de carbono do que uma que não passou por processo de extração. Ou seja, tomar vinho com rolha de cortiça tem seu percentual de colaboração ambiental.
Existem também as rolhas que são prensadas dos pedaços que sobram. Elas são utilizadas para os vinhos de consumo rápido, que não é preciso –nem se deve– esperar para atingir o ápice. Vinhos brancos pouco complexos, rosés e beaujolais nouveau são alguns exemplos. A tampa de rosca também é utilizada para vinhos de consumo rápido. Algumas vinícolas, especialmente da Austrália onde foi inventada, alegam que os vinhos envelhecem muito bem, mas mais devagar, pois sem a entrada de oxigênio, tem menos ou nenhuma oxidação.
As vantagens da screw cap, tampa de rosca, é preço e menos uso do sulfito. O sulfito é um conservante natural muito usado no vinho, inclusive em muitos orgânicos, biodinâmicos e naturais por aí, que evita que o vinho oxide mais do que o desejado. A rolha de cortiça permite uma micro oxigenação que proporciona uma evolução dos aromas de um vinho. A de rosca não permite entrada de ar, então, não necessita sulfito ou uma quantidade menor, proporcionalmente.
A grandíssima desvantagem, infelizmente, é a extração do alumínio, uma fonte natural não biodegradável que gera uma poluição gigantesca e ainda causa desastres ambientais nos locais de extração. A maioria do alumínio extraído é reciclado, mas o das tampas de vinho, não. Primeiro pela separação de lixo ainda não ser um suprassumo na nossa sociedade e depois, porque tem um plástico acoplado no interior da tampa e esta separação complica o processo.
Aí, temos a rolha sintética, três vezes mais barata do que a de cortiça. Pode ser positiva se for feita à base de plantas, mas, profissionais do vinho dizem sentir aromas químicos. É mais difícil de abrir e recolocar também.
A Zork é uma “rolha” de plástico, prática e eficiente, mas deixa a desejar na questão ambiental. A Vinoseal é linda, maravilhosa, chique e sustentável, mas é para poucos, pois é cara e é de vidro e, a chance de derrubar e quebrar acaba reduzindo seu uso em estabelecimentos comerciais.
A Helix é genial, a revolução do futuro está em nossas mãos! Ou melhor, nas mãos desses dois maiores produtores de cortiça e vidro, a Amorim e a OI. Tradição e inovação, mantendo a alma mesmo com a tecnologia, a Tesla das rolhas!
Mas porque o impacto que uma rolha tem, uma pequena rolha, oras, é importante? Porque algo pequeno em grande quantidade é muito. O aquecimento global tem preocupado muito Portugal, “se o calor continuar aumentando assim, 70% dos sobreiros estão em perigo”, comenta Marques Souza, representante do movimento Iniciativa Pro-Montado Alentejo-IPMA. Quanto mais acesso tivermos sobre a produção e impacto dos produtos que amamos, melhor!
Sobre envelhecimento e guarda dos vinhos, e suas diferentes formas de fechamento: garrafas com rolha de cortiça devem ficar sempre deitadas. Champanhe, se chegou de uma viagem atribulada e longa seria bom deixá-la em pé por duas a três semanas (ai, que difícil!), segundo Peter Crawford, fundador da Sip Champanhe, e grandíssimo expert do assunto. Depois desse período pode guardar deitadas. Uma realidade das rolhas de champanhe é que, depois de abertas, elas podem estar “juponé”, em formato de cogumelo quando são boas e novas, e “chevillé”, com a parte inferior mais fina, quando estão mais antigas e podendo prejudicar o vinho. Geralmente quando abertas, demoram um pouco e já entram no formato para poder reconhecermos.
As garrafas com rolhas sintéticas podem ser armazenadas em pé, o que para o transporte de longas distâncias, e processos demorados como no Brasil, podem ser uma vantagem para integridade do vinho.
Os vinhos que são de guarda, 20, 30, 40 anos e por aí vai, podem ter suas rolhas trocadas na vinícola. Essa opção vale para quem tem seus vinhos próximos a ela, um bom relacionamento e disciplina na manutenção da sua coleção.
Nós, seres humanos, somos muito inteligentes. A natureza é sábia, e a nossa capacidade de adaptação e superação pode ser impressionante. A tecnologia é a ferramenta perfeita para a nossa evolução.
A boa atitude não deveria ser vista como algo a mais, ela simplesmente deveria ser vista como primordial. Quão difícil é, às vezes, abrir mão do que é gostoso, confortável e sensorialmente atraente? É difícil! Eu mesma tenho inúmeras situações nessa categoria, mas, aqueles que já tiveram a oportunidade de dirigir um carro Tesla, por exemplo, podem garantir que o futuro sustentável não precisa ser conectado ao rebaixamento do conforto ou das sensações.
Qual seria sua opção de rolha: alumínio, plástico, sintética, vidro ou cortiça? Livre arbítrio.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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