“Gosto muito de ouvir”, diz Flavia Camanho que, nos últimos 20 anos, construiu uma carreira de sucesso conversando com as pessoas. Especialista em Desenvolvimento Humano, ela começou a vida profissional trabalhando no departamento de RH de grandes empresas e tornou-se head do setor em gigantes corporativos como Grupo Pão de Açúcar, Johnson & Johnson e ABN Amro Bank. Durante nove anos atuou como diretora do Family Office dos acionistas da Itaúsa, até se decidir pelo caminho autoral: “Trabalhar diretamente no desenvolvimento humano e seus múltiplos caminhos. Mentorando grandes líderes de empresas familiares na implementação de sua governança, fortalecendo os skills de grandes executivos para seguirem no caminho de “lifelong learning” e, principalmente, trabalhando o empoderamento das lideranças femininas na construção de um novo olhar do feminino”, explica. E conta que só se tornou uma profissional autônoma, mesmo, este ano. “A quarentena provocada pela pandemia fez alguns setores apresentarem um crescimento considerável. Foi o que aconteceu com a área de desenvolvimento humano”.
Segundo Flavia, o distanciamento social e o home office colocaram muita gente frente a frente consigo mesmo. Momento de refletir, repensar e conhecer realmente a potencialidade de cada um. Ao se preparar como profissional de desenvolvimento humano, Flavia estudou com um dos mais renomados experts no assunto, o escritor, professor e filósofo inglês Richard Barret, autor de várias obras sobre desenvolvimento de liderança, valores, consciência e evolução cultural nos negócios e na sociedade – mapeando o desempenho de governos, organizações, comunidades e indivíduos.
Este ano, ela deu início a um trabalho autoral que tem dado bons frutos e da qual se orgulha muito, a Jornada do Feminino. Tudo começou a partir de um programa que participou nos Estados Unidos, em janeiro, chamado Vision: Your Life in Focus, comandado por ninguém menos do que Oprah Winfrey – a mulher mais bem-sucedida na TV norte-americana – e com a presença da ex-primeira dama Michelle Obama. Flavia recebeu a recomendação para participar do encontro através da ISFP (International Society of Female Professionals), da qual faz parte nos EUA. “A ideia era realizar um encontro em várias cidades norte-americanas e a participação de uma liderança feminina de cada região. Acabei indo no encontro de Nova York, que era com a Michelle”, diz com a nonchalance de quem está habituada a caminhar entre poderosos.
A partir dessa experiência Flavia desenhou o programa Jornada do Feminino – um módulo mensal de quatro encontros online. “Nunca foi tão oportuno ser mulher no mundo como agora”, afirma e fornece dois exemplos para ilustrar sua tese. “Até bem pouco tempo atrás, as mulheres que apareciam na capa de uma revista de sucesso vestiam tailleur e estavam de braços cruzados, uma postura masculina. Não é mais assim. Outra coisa, antes a mulher precisava que o homem matasse o leão por ela. Hoje, ela chama uma amiga, ou mais de uma, matam o leão e decidem o que fazer com ele”.
Na Jornada de Flavia, ela leva em conta e propõe aspectos e características do feminino muito poderosas neste novo momento social:
Empatia – a mulher constrói relacionamentos interpessoais, ela busca entender o outro. A mulher prioriza mais a relação do que a materialidade.
Insight – a leitura do sutil. A conhecida intuição feminina que muitas mulheres ainda não se sentem à vontade para manifestar.
Simultaneidade – “O homem tem um pensamento sequencial, uma coisa de cada vez. A mulher executa várias tarefas simultaneamente”, observa Flavia.
Cuidado – a mulher acolhe, cuida.
“As mulheres precisam trazer o feminino para a mesa de negociação”, resume. E complementa: “Seja autora da sua biografia, liberte-se das limitações que impuseram a você, sonhe grande”. Aí, é impossível não perguntar: você é feminista? Ela não titubeia: “Ótimo que você perguntou. Estamos vivendo o novo feminismo, que é sobre liberdade de escolha. E que fique bem claro, o contrário de machismo é femismo e não o feminismo”.
Flavia também chama atenção para outros comportamentos corriqueiros, do dia a dia, que devem ser observados e evitados. “É preciso treinar os ouvidos para não baixar a guarda sobre modelos antigos de pensamento. Costuma-se chamar de mimimi aquilo que não dói em você, mas no outro, e não podemos, jamais, deixar de legitimar essa dor”. E isso não é uma questão de ativismo. “É engajamento. Eu sou engajada”, conclui. A seguir, Flavia Camanho, #MulherdeSucessoResponde.
Qual o seu maior exemplo de mulher de sucesso?
Para mim, ter sucesso é chegar ao ponto de ter a liberdade de escolha em como levar sua vida. Escolher e expressar o que pensa em seus múltiplos papéis: empresária, mãe e esposa. Ter autonomia para dedicar o seu bem mais precioso – na minha visão, o tempo – da maneira como fizer melhor sentido para você. A mulher de sucesso é alguém que chegou ao ponto de realizar um trabalho autoral.
Qual sua ideia de felicidade no trabalho?
Felicidade no trabalho é poder deixar tudo melhor do que você encontrou. No meu caso, deixar as pessoas mais felizes e satisfeitas com sua história, com suas escolhas e com o seu caminho. Termino meu dia com a sensação de missão cumprida quando vejo o brilho no olhar de um cliente.
Eu achava que sucesso era… e descobri que é…
Eu achava que sucesso era o objetivo e hoje descobri que sucesso está em como vivemos o caminho. O sucesso está sempre em construção, a cada passo que damos com consciência, a cada dia que temos mais clareza em nosso propósito, quando sentimos alegria em viver cada etapa do processo, estamos claramente experimentando o sucesso.
Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
Minha área de atuação, o Desenvolvimento Humano, teve um grande crescimento durante a pandemia. Acredito que as pessoas tiveram um encontro surpreendente consigo mesmas. Foi necessário encarar suas relações, sua vida em família, seus pensamentos e lidar com tudo isso ao mesmo tempo. Em meu papel de coach/mentora, busquei dar o acolhimento a este momento e propor caminhos para lidar com esse universo que existe dentro de nós.
Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
Gostaria de mostrar às pessoas sua luz. Ninguém é uma coisa só. Todos nós somos luz e sombra, a possibilidade de sermos bons e maus, temos tudo dentro de nós. Queria ter o poder de “acender a luz interna” nos momentos mais fervorosos, de extremos e intolerância, e fazer com que as pessoas se conectassem com o que há de melhor dentro delas.
Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?
A vida não acontece com você, a vida acontece para você. Então, sempre que me encontro em uma situação de estresse – que me demanda aliviar a mente – paro, tiro um momento e avalio: “O que esta situação pede de mim?”. Nunca é: “Por que comigo?”. É sempre o que eu faço em relação ao que aconteceu. Depois desse reposicionamento mental, costumo ter sempre um caderninho comigo, para anotar pensamentos e reflexões.
Qual mensagem você gostaria de deixar para as próximas gerações?
Acredito que viemos ao mundo a serviço e não a passeio. Viemos para servir. Servir uns aos outros e tornar esse lugar melhor, para evoluirmos em nossas relações e em nosso papel. Para deixarmos uma lembrança de algo que agregamos ao ecossistema, um feito para ser lembrado e celebrado, uma história para contar e ser recontada. Apesar da jornada começar e terminar solitária, tudo acontece entre as pessoas. Acredito que a melhor prova de uma vida bem vivida é possuir um grupo de pessoas que conhecemos na vida, com quem aprendemos, pessoas que apenas passaram ou ficaram ao seu lado. A vida só tem significado nas relações, portanto construam suas relações com verdade e empatia.
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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