Quero começar contando uma história que aconteceu comigo. Uns anos atrás, eu estava em meu consultório atendendo um paciente quando uma outra paciente que eu não conhecia entrou esbaforida pela porta, sem sequer perguntar se eu estava em atendimento. Ela dizia, angustiada, que estava morrendo. Era evidente, pela expressão facial dela, que ela experimentava um grande sofrimento e que tinha sinais físicos que a haviam levado a pensar em sua morte.
Tratava-se de um episódio – ou crise – do que chamamos de síndrome do pânico ou desordem do pânico, uma das formas de ansiedade. Ansiedade faz parte da natureza humana e pode ser uma coisa boa, nos mantendo motivados e produtivos. Mais do que isso: ela é uma maneira de nos manter alertas para possíveis situações que possam nos colocar em perigo.
Mas ela também pode ser bastante prejudicial e tornar-se doentia, fazendo com que permaneçamos quase 100% do tempo preocupados e tenhamos sintomas físicos como suores, tremores, aperto ou dor no peito, coração disparado, dificuldade de concentração e de manter o foco, dificuldade para dormir, entre outros. E isso, claro, trava a nossa vida.
O interessante sobre a ansiedade é que não há exames que permitam um diagnóstico conclusivo, como acontece com colesterol ou problemas cardíacos, por exemplo. Nós, médicos, a identificamos a partir da escuta das queixas de nossos pacientes e da avaliação do quanto essa ansiedade está afetando a vida daquela pessoa.
Ela também tem variados graus. Uma coisa é você se preocupar com o coronavírus porque teme pela sua saúde. A outra coisa, bem diferente, é você invadir a sala de um médico com a convicção de que está morrendo. Perder o total controle sobre as nossas emoções é uma das características de uma crise de pânico. Esse é um grau de aflição psíquica tremendo.
E o que apavora num ataque de pânico é que ele vem do nada. Em muitos casos, não parece haver nenhum motivo aparente que faça disparar todos esses sintomas. Por isso, a sensação é de que a pessoa está perdendo o controle e que pode estar morrendo ou tendo um infarto. E o medo de ter uma nova crise pode gerar outra forma de ansiedade: a antecipatória. É uma bola de neve que faz muitos doentes sentirem-se presos e angustiados.
Ninguém sabe ao certo o que leva a ansiedade a escalar de algo como “estou preocupado com a Covid e penso muito nela” para um “sinto que estou morrendo”. O que se sabe é que durante uma crise de pânico a adrenalina que é lançada no corpo chega a subir mais de 2 vezes e parece haver uma ativação em uma substância cerebral chamada serotonina.
A ansiedade responde muito bem a remédios e até a antidepressivos em doses baixas. Muitos desses medicamentos inclusive ajudam a manter os níveis de serotonina e, por isso, têm um impacto positivo nos quadros mais graves. É muito difícil ficar totalmente imune à ansiedade, mas, com a ajuda certa, ninguém precisa ver a sua vida travada por ela.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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