Você provavelmente já viu alguém ter um ataque de nervos: ficar agitado, gritar, chorar descontroladamente. A crise ou colapso nervoso, como chamamos, nada mais é do que uma resposta possível de mente e corpo a uma situação de grande estresse físico, psicológico ou emocional.
Frequentemente, ela ocorre quando uma pessoa teve de lidar com alguma situação tão desgastante do ponto de vista psicológico ou emocional que ela simplesmente não dá conta do recado e entra em um curto-circuito nervoso.
A crise nervosa é interessante do ponto de vista médico porque ela existe em uma espécie de área cinzenta. Isso quer dizer que não existem critérios amplamente aceitos que permitam fazer um diagnóstico, embora existam alguns sintomas que possibilitam a um especialista identificar quando uma pessoa está passando por um colapso. Cito alguns: irritabilidade, descontrole emocional, que pode gerar crises de choro, além de ansiedade e agressividade verbal e, por vezes, até física. Muitas vezes, também podem surgir sintomas que lembram os de uma crise de pânico: coração disparado, respiração curta, suor, tensão.
Independentemente dos sintomas que se manifestem, uma pessoa em crise perde momentaneamente a capacidade de lidar com as suas questões do dia a dia. É quase como se ela tivesse sido tirada do eixo. Mas não confundamos: isso não tem nada a ver com surto. Surto é a manifestação de um problema psiquiátrico mais grave, que pode vir acompanhado de delírios e alucinações.
De qualquer forma, qualquer situação que tenha afetado o bem-estar mental ou emocional de alguém é motivo de atenção, até porque, às vezes, uma crise nervosa gera um impacto grande na dinâmica de um casal ou de uma família, dependendo da intensidade com a qual ela se manifesta.
Muitas pessoas ainda têm a falsa ideia de que ataque de nervos é algo que acontece mais frequentemente em mulheres. Não é verdade. Homens e mulheres podem ficar igualmente vulneráveis a um colapso nervoso, principalmente se ele ou ela costumam beber além da conta, fazem uso exagerado de medicamentos ou de drogas. Pessoas que estão em tratamento com remédios psiquiátricos e que, de repente, param de usá-los, também ficam mais suscetíveis.
Para administrar essa situação, é preciso recorrer a algum remédio, como os tranquilizantes. Mas nem sempre. Quem tem grande autoconhecimento, já passou por isso antes e sabe que tipo de situação pode tirá-la ou tirá-lo do eixo, pode fazer uso de técnicas como respiração profunda ou mesmo uma caminhada, desde que a crise seja relativamente administrável.
Outras estratégias que funcionam para algumas pessoas são a meditação – que ajuda a aquietar os pensamentos -; a prática de esporte, porque a descarga de serotonina que é liberada tem um certo efeito pacificador; e fé. Por fé eu não me refiro necessariamente a ter uma religião ou frequentar a igreja, a sinagoga ou o culto, mas à espiritualidade. Estudos já demonstraram que ter fé em algo é um potente redutor do estresse.
Como as causas e a gravidade da crise nervosa variam de pessoa a pessoa, também ajuda demais buscar ajuda de um psicoterapeuta ou psicólogo. Esse profissional pode contribuir para aliviar o fardo que muitos sentem carregar devido a uma situação estressante em suas vidas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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