Cada país tem suas leis para os rótulos, e, nem podemos reclamar, pois cervejas, destilados e qualquer bebida tem seu marketing e sua personalidade (e suas regras). Sim, os rótulos de vinhos podem ser mais complexos, mas, com algumas pequenas dicas isso pode ser desmistificado, simplificado e pode nos dar mais clareza na hora de escolher a garrafa ou as caixas.
As informações mais comuns são a marca, o produtor, a região de origem e a uva dominante. As outras são as básicas que todos têm, como volume, percentual alcoólico, alergias e, quando são importadas, dados do importador.
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Começando pelo macro, os rótulos são divididos em dois grupos: velho mundo e novo mundo. Velho mundo é qualquer vinho da Europa e novo mundo são as outras regiões produtoras, fora essa. Fácil!
O velho mundo coloca no rótulo a região produtora e o ano. Por exemplo: Borgonha, Bordeaux e Chianti. Se tiver uma garrafa de um vinho do velho mundo aí por perto, repare que eles não mencionam as uvas. Ou dê uma olhada online, caso ainda não tenha acumulado esta informação. Para estes produtores, e as apelações que os protegem, o mais relevante é a região produtora, pois, chardonnay, pinot noir e cabernet, entre todas as uvas vitiviníferas, podem ter variações justamente de acordo com o terroir. As uvas não são mencionadas geralmente, mas é possível encontrar vinhos do velho mundo que não seguem as regras.
Os vinhos, então, podem ser divididos por qualidade das uvas e terroir, como Grand Cru e Premier Cru. Lembrando que, na Borgonha, Grand Cru está no topo, seguido de Premier Cru, e, em Bordeaux, a classificação máxima é o Premier Cru, seguido de Deuxièmes Cru, Troisièmes, Quatrièmes, Cinquièmes. Exemplifico estas duas regiões muito tradicionais, que alinham o pensamento do seu rótulo em região, classificação de terroir, marca, produtor.
No novo mundo, decidiram colocar a uvas como destaque pois, como ainda não eram regiões conhecidas, resolveram que a uva seria associada às áreas de mais nome como, cabernet em Bordeaux e pinot noir na Borgonha. Se avaliarmos, dá tudo na mesma e só muda o foco.
Velho mundo: o terroir é que importa e, por isso, a uva tem essa característica, mas não é o destaque. Novo mundo: a uva é a estrela, pois o terroir não era conhecido e não foi destacado.
É bom, pois ajuda na hora de diferenciar e afunilar a pesquisa. Estamos falando das regras gerais, claro que há exceções. Um Screaming Eagle, na Califórnia, só coloca o nome do vinho e ponto. A uva e a sub-região ficam no contra-rótulo.
Não colocar a uva no rótulo é lei, que está mudando aos poucos em países como Itália, Espanha, Portugal, que começam a inserir em seus rótulos esta informação. Para poder colocar o nome da uva, esta tem de estar presente em 85%, no mínimo, no total do produto.
Veja a seguir uma listinha básica:
França
AOC – Appellation d’Origine Contrôllée (é a região)
Pode ser Grand Cru (Borgonha, Champagne, Alsace, Languedoc and Loire) ou Premier Cru (primeira categoria em Bordeaux e segunda nas demais regiões)
Vin de pays (liberdade das apelações para fazer suas regras)
Vin de France (vinho de mesa)
Na sequência vem, de cima para baixo no rótulo: o nome da vinícola, o ano da colheita, village (sub-região), a AOC e o produtor.
Itália
DOCG Denominazione di Origine Controllata e Garantita
DOC essa é igual a de cima, mas não é garantida
IGT Indicazione Geografica Tipica, essa foca na região
Vino da Tavola
Há também os Supertoscanos, termo não oficial, usado para vinhos de alta qualidade, mas com um blend de uvas não típicas locais e modo de fermentação diferentes dos permitidos.
Na sequência, vem, de cima para baixo no rótulo: nome da vinícola, ano da colheita, apelação, produtor e localização, álcool e volume.
Espanha
DOCa Denominación di Origen Calificada
DO essa mais geográfica, na sua importância
VP Vino de Pago seria comparado a um Supertoscano, alta qualidade fora das regras normais
VC Vino de Calidad
VT Vino de la Terra
Na sequência, de cima para baixo no rótulo: nome da vinícola; título da apelação, como Rioja; status da apelação, como DOCa; ano da colheita; amadurecimento, como Crianza; produzido e engarrafado por nome do produtor e localização; e volume.
Alemanha
Kabinett é o mais seco, com menos açúcar residual. Depois, vêm as denominações Spätlese, Auslese, Beerenauslese (BA) e Trockenberenauslese (TBA), sendo o último o mais doce.
Eiswein é o vinho de uvas congeladas. Elas ficam no pé até o frio chegar e são colhidas congeladas e com um nível muito alto de açúcar.
Qualitätswein Bestimmter Anbaugebiete (QbA) esses são os vinhos de apelação geográfica que equivalem a três quartos da produção.
Deutscher Landwein é vinho de país.
Deutscher Wine é vinho de país, mas sem muita garantia de qualidade.
Em termos de categoria Grand Cru temos:
Grosse Lage, Grosse Gewächs, que é um vinho seco do Grosse Lage, e Erste Lage, o Premier Cru.
Na sequência, de cima para baixo no rótulo: village, vinhedo, classificação (apelação), uva, ano da colheita, produtor, onde foi engarrafada, região e percentual alcoólico.
Estados Unidos
AVA – American Viticultural Area
Na sequência, de cima para baixo no rótulo: nome do produtor, AVA, ano da colheita, uva, volume e percentual de álcool. Simples.
Brasil
DO- Denominação de Origem (Vale dos Vinhedos é a única no Brasil)
IP – Indicação de Procedência
IG – Indicação Geográfica
Os rótulos brasileiros, assim como os do novo mundo, são simples e fáceis de entender. Geralmente a vinícola, a região, uva, ano, classificação, percentual alcoólico e as informações básicas que todos têm, na maioria no contrarrótulo, informações do produtor, história, tamanho da produção, métodos de vinificações, mas todos de acordo com a filosofia da vinícola.
Os rótulos, como o próprio nome já diz, servem para categorizar e discernir um produto de outro. Não é só uma questão de estratégia de marketing, arte, mensagem da vinícola, mas também, regras. Vinificação, tipo de uva, determinação geográfica, quantidade de uvas colhidas, quantidade de vinhos produzidos. Em Champanhe, por exemplo, é determinado até o dia que vai começar a colheita. Se uma vinha sua morre, não toque. Vem um especialista replantar e catalogar. Parece brincadeira, mas, rótulo é coisa séria. Ainda bem que existem as regras, os rótulos, a organização, para que seja oferecida a qualidade que o cliente busca.
Tchin tchin!
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
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