Da mesma forma que o papel da mulher na sociedade teve menor espaço e reconhecimento do que sua real potência, ao longo dos tempos, empresas familiares também refletiram as estruturas patriarcais que nortearam a sociedade.
O papel mais comum que as mulheres ocuparam nas estruturas das grandes famílias empresárias se deu nas iniciativas de filantropia, nos institutos e na governança familiar.
Alguns papéis, não claramente delimitados e algumas vezes até invisíveis, são ocupados por mulheres e são fundamentais para a perenidade da família empresária. São eles:
• Guardiã dos Valores: as mulheres costumam ser as responsáveis pela transmissão dos valores da família, recontando as histórias dos antepassados, garantindo que os rituais continuem a existir, perpetuando as bases que garantiram a existência da cultura da família ao longo dos anos;
• Chief Emotional Officer: um guardião das emoções, mediando momentos de tensão nas relações familiares, buscando oferecer oportunidades mais igualitárias, de abertura para colaboração e diversidade;
• Formação das Gerações: conhecendo as capacidades e motivações dos mais jovens, apoiando-se na relação entre as gerações, oferecendo caminhos e promovendo espaços de diálogo.
Esses papéis, no entanto, não são os únicos possíveis. Hoje, cada vez mais, mulheres estão ocupando cadeiras na sucessão da operação dos negócios e demonstrando grande sucesso nessa transição.
“Hoje, cada vez mais, mulheres estão ocupando cadeiras na sucessão da operação dos negócios e demonstrando grande sucesso nessa transição.”Em muitos casos, tive a oportunidade de conhecer jovens talentosas que seguiram o caminho recomendado como boas práticas de governança de construir uma carreira com boa formação acadêmica, muitas vezes com complementação de um MBA internacional – uma formação mais sólida em liderança e experiência externa relevante antes de ingressar nos negócios da família.
Com isso, esta nova geração de mulheres chega para ocupar as cadeiras executivas, trazendo uma visão externa com suas experiências complementares aos papéis convencionais dos negócios, agregando o valor de compreender o legado de sua família e os novos repertórios relevantes para a perenidade dos negócios.
Outro espaço que vem sendo amplamente buscado pelas mulheres herdeiras de famílias empresárias são as cadeiras de Conselho de Administração.
É um caminho que pode ser desenvolvido iniciando pelas cadeiras de membro de Conselho de Família ou Membro do Conselho de Sócios. E, assim, avançar na preparação, cursando programas de formação de conselheiros, hoje com até uma versão específica para mulheres, buscando experiências pro bono, tendo um mentor familiar ou mesmo um mentor externo.
O interessante é observar que essas conselheiras acabam por ocupar, muitas vezes, não só as cadeiras de seu próprio negócio, trazendo a visão de uma conselheira de empresa familiar. Uma conselheira, que é também uma acionista de uma empresa familiar, pode oferecer não só sua visão construída com base nos negócios, mas características como: visão de longo prazo, boa leitura de contexto e dos valores das organizações e percepção das dinâmicas existentes nesse ambiente.
Concluo dizendo que nos meus muitos anos de envolvimento com governança familiar, pude ter a certeza de que as mulheres são figuras fundamentais na “cola” das famílias, e que a não abertura para sua atuação nos fóruns e nos múltiplos papéis existentes no Family Enterprise empobrece muito a qualidade dessa dinâmica ao longo dos anos.
Flávia Camanho Camparini é Consultora em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e partner facilitator dos programas do Cambridge Family Enterprise Group e do IBGC
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